19.

56 19 9
                                    

              ELIZABETH


Por mais longe que eu tentasse ir, algo me fazia voltar... voltar para perto dele, como um imã, tão clichê eu era atraída até ele. Intensidade, isso era o que estava acontecendo com a minha vida, eu estava vivendo intensamente nessas quatro semanas o que eu nunca vivi em anos. Quando eu o conheci, eu achei que eu poderia lidar, que eu poderia fugir, que eu poderia não me apaixonar por ele, embora tudo ao redor me mostrasse ao contrário disso. Eu havia baixado a guarda, eu havia quebrado minhas próprias regras, eu havia parado de me importar em proteger meu coração. Eu havia me entregado por livre e espontânea vontade à ele. Ele me possuía, e isso me assustava de tal maneira que às vezes era até difícil de  respirar, eu havia me entregado à ele de corpo, alma e principalmente coração. Um coração destroçado e remendado, mas ainda pulsante e cada vez mais forte por ele.

As semanas se passaram tão rápido desde aquele domingo que finalmente decidimos nos dar uma chance ou melhor eu permiti que ele entrasse em minha vida.

Tomávamos café da manhã todos os dias com a linda, depois dele insistir em me fazer correr com ele. Eu era extremamente sedentária, mas eu fazia aquilo por ele. E no fim das contas aquilo me fez muito bem.

A rotina do escritório havia sido bastante intensa, assim como a rotina do hospital, revesavamos quem dormia na casa de quem, uma vez ou outra ele pulava a sacada e me surpreendia com uma rosa ou uma garrafa de vinho, depois de eu xingar ele de todo o estoque de xingamentos que eu tinha conhecimento e ele ria com os e alguém tivesse feito cócegas nele.

- o que são nove andares Elizabeth? Por ti eu pularia de um precipício.
Desde que você estivesse lá embaixo me esperando. - ele falava em plenos pulmões

- você sabe que eu tenho uma porta bem ali. - eu fazia gesto apontando para a mesma, depois que o susto passava, ele me beijava e dizia que adorava ver o modo como eu me preocupava com ele.
Fazíamos amor em cada cômodo do apartamento, Rick cuidava de mim e da linda, em troca eu o cuidava na mesma intensidade.

Ele mimava o luli sempre com petiscos e brinquedos novos e o vendido às vezes até fugia para o apartamento dele, viver todos aqueles dias com Rick me trazia sentimentos que eu nunca tive. Essa tranquilidade, essa paz. Nunca, jamais ninguém me tratou como ele me tratava. Ele fazia questão demonstrar o quanto se importava comigo e quanto eu era importante. Ele sempre me lembrava quando estavamos olhando as estrelas que ele sempre estaria ali por mim, para mim.

Lembro de algumas noites em que os pesadelos vierem com força, às vezes eu fraquejava e o mandava  embora, porque aquilo era demais. Mas ele se mantia firme e forte com uma rocha sempre me abraçando e falando que não sairia do meu lado. Eu ainda não havia tido coragem de contar sobre o meu passado, ele sabia sobre meus pais terem morrido, mas não assassinados. Ele também sabia sobre meu ex e a forma como ele tinha me machucado. Ele foi paciente e carinhoso toda vez que eu caía no choro.

Rick havia se tornado minha âncora em chão firme. E me doar e me  permitir isso desencadeava muitas emoções em mim.

Às vezes era ele quem precisava de mim, naquela semana ele perdeu alguns pacientes, ele batia em minha porta e eu já sabia, o dia havia sido difícil. Ele era o tipo de proficional que se envolvia com cada paciente, para ele eles não eram somente mais uma ficha com problemas para ele resolver, eu admirava o quão humano ele era, o quanto ele tratava sua profissão com paixão e se entregava a isso. E toda vez que acontecia uma perda ele se sentia o pior dos seres humanos. Porque ele não era um Deus. Ele não poderia salvar todo mundo. E aquilo acabava com ele. Mas eu estava lá. Algumas vezes ele deixava algumas lágrimas caírem, eu preparava o banho e depois o abraçava até ele dormir. Ele sempre parecia uma fortaleza, uma rocha. Mas em meus braços ele me mostrava seu lado vulnerável, com suas fraquezas expostas, ele se entregava para mim.

Nossos dias eram cheios de paixão, cuidado e principalmente resiliência. E sim de muita entrega. Mas havia muito mais a contar, a viver.

- Ei dorminhoca. - ele fazia carinho em mim sorrindo. - hora de acordar.

Levanto com calma abraçando o lençol ainda nua depois de uma noite quente e cheia de paixão.

- você vai mesmo me fazer levantar para correr, você acabou comigo ontem à noite. - meus olhar é pidão.

- Deixa de preguiça, vamos... vamos. - ele dizia me puxando da cama, me dando tapinhas na bunda. - por mais que a ideia seja tentadora de ficar o dia todo na cama com você, temos que trabalhar linda. - me puxando para si, me beija na testa. Ele ficou um tempo olhando para mim e aquilo me trouxe um sentimento estranho na garganta, uma vontade imensa de falar alguma coisa. Abri e fechei a boca algumas vezes, mas nada saiu.
Me rendo e vou até o banheiro fazer minha higiene e tomar banho.
Mais um dia estava começando e eu senti um cheiro gostoso da cozinha, Rick provavelmente deveria estar preparando alguma coisa o que era de fato algo bem incomum, mas resolvi não questionar. Segui fazendo o que deveria e deixei para lá, saio enrolada na toalha uma na cabeça e outra no corpo. Nada dele em meu quarto. Com certeza ele estava aprontando.

Vou caminhando pé por pé, fazendo o menor barrulho possível e o encontro dançando na cozinha e cantando enquanto prepara o café. Não resistindo acabo me encostando no batente da porta para apenas admirar. É tão gostoso vê-lo assim, eu nunca me imaginei me sentir tão feliz e tão completa. Se a há um mês atrás alguém falasse que essa cena estaria acontecendo aqui nesse exato momento, eu com toda certeza teria surtado e mandado ela se tratar. Mas naquele momento, eu só sabia que eu não queria estar em nenhum lugar que não fosse ali. Eu havia aprendido como é bom se apaixonar de verdade.

Que se entregar por mais assustador que fosse, havia se tornado  melhor coisa que tinha acontecido nesses últimos tempos de dor.
Eu estava feliz.
Eu me sentia viva.
E sim, aquilo era raro de se ver.
Mas por hora era o suficiente.

Estrela perdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora