Estrela perdida

11.

Nota: Contém cenas fortes, com gatilhos emocionais. Porém importantíssimo para entendermos o passado da lizzie.

ELIZABETH

É como se o mundo todo parasse de girar por alguns segundos, como se toda célula do meu corpo congelasse e o único som fosse as batidas do meu coração, acelerado, como se a cada batida ele fosse saltar do peito. Nunca me senti tão vulnerável e em paz como nos braços dele. Aquele erro que parece tão certo. Como o encontro de almas perdidas que se encaixam perfeitamente. É como saltar de um penhasco tremendamente assustador, e ao mesmo tempo como a adrenalina ferve em minhas veias me fazendo me sentir viva como a muito tempo tempo já não sentia mais. Ele era problema, ele com toda certeza quebraria meu coração e talvez por ter sido quebrado todas vezes não restaria mais nem os cacos para que eu pudesse colar. As vezes me acho tola por pensar assim, por não me dar outra chance, mas acredito que tudo que já passei nessa vida me faz ser assim, pode ser fraqueza, mas prefiro pensar que me fechar seja de fato a minha fortaleza, tudo aquilo que eu amo parte, tudo aquilo que eu toco, mais cedo ou mais tarde se quebra. Eu sou um caos, uma bagunça.

Meus olhos pesam por conta das lágrimas que começam a cair descaradamente, aquele nó na garganta, todos os fantasmas estão de volta eu ainda escuto os gritos dela, os gritos da minha mãe naquela floresta caio sobre a porta e seguro meus joelhos, logo Noah vem até a mim furioso e preocupado senta ao meu lado me abraçando.

- Me diz agora o que aquele canalha falou pra você, eu juro que acabo com ele. - ele gospia as palavras me abraçando para me dar conforto.

- Ele não fez nada demais Noah. Sou eu. Eu e essa bagunça aqui dentro. - falo ao meio do choro batendo contra meu peito. - eu nunca vou ser capaz de ser feliz. Todos que eu deixo entrar vão embora. Por minha culpa... minha culpa...- choro descontroladamente.
- se eu não tivesse trazido ele pra minha vida meus pais, meus pais estariam vivos. Eles estariam aqui.

- shiiiu... - Noah fala calmo. - respira eu estou aqui, olha pra mim. - ele vira meu rosto pra ele. - eu estou aqui e sempre vou estar aqui, por você. Eu conheço a tua história, eu te conheço. E isso me faz te amar ainda mais. Você ao contrario do que pensa é mais forte do que parece, você não é um monstro. Você é uma sobrevivente. Você e a minha guerreira limaozinho. As merdas fodidas que aconteceram com você e a sua família, não são tua culpa. E o que aconteceu com o Gabe depois não foi reflexo disso. O que aconteceu diz muito mais sobre ele do que sobre você. - ele acariciava meu rosto limpando minhas lágrimas me abraçando. Ele até poderia ser um idiota a maioria das vezes, mas ele sempre cuidou de mim, ele sempre segurou a minha mão. Noah era uma das pessoas que mais me aproximava da minha saniedade. Quando você se sente suja, machucada, ferida. Envergonhada. Quando você só sabe culpar a si mesmo pelas coisas horríveis que aconteceram você se fecha, você bloqueia qualquer sentimento, você cria uma bolha. Em um momento você tem tudo, você está feliz e tudo esta saindo como o planejado e num piscar de olhos tudo muda, tudo se perde. Tudo acaba.

Tudo não passa de um imenso vazio.
Um eco no meio da escuridão.
Você não vê luz.
Você não sabe como respirar.
Sua mente vaga pelo abismo.
Você não tem forças.
A respiração quase vai embora.
As batidas do coração são tão lentas que mal posso escutar.
Naquela noite eu merecia morrer, eu implorei pra morrer.
Mas eu não morri, meus pais morreram. Minha consciência foi embora, eu não escutava nem meu choro, Nem a voz do Noah. Meus fantasmas me levaram para longe. Me levaram para aquela noite de dor, eu sentia seu cheiro. Eu sentia o cheiro de sangue. Eu me entreguei a dor.
Eu o vi abusar da minha mãe. Eu o vi tirar todo sopro de vida dela. Vi o horror na cara do meu pai que não pode fazer nada, eu queria gritar, mas não tinha mais forças. Ele me tocou e eu senti nojo, repulsa. Eu me senti suja. Eu me odiei por ter amado aquele monstro. Meus pais me avisaram ele não prestava. Eu era uma adolescente burra. Me envolver com um cara mais velho que não sabíamos nada a respeito. Com um passado duvidoso. Mas eu o trouxe para nossas vidas, eu o deixei entrar. Ele tirou tudo de mim. Minha inocência. Meu ar, minha família. Tudo que eu amava, ele só não tirou a minha vida por que a Polícia chegou. Mas isso não significava que eu não estivesse morta. Meu pai não resistiu a caminho do hospital. Eu perdi tudo naquele dia, naquela floresta.

Dor.
Dor e dor.

Acordar naquela maca de hospital foi o pior pesadelo de todos e aquilo me assombrava todos os dias. Aqueles fantasmas e toda a culpa jamais me permitiria seguir em frente. Eu tentei. Eu fui pra escola, segui os dias, fui pra faculdade, perdemos o meu avô. Busquei refugio no álcool. Conheci os melhores amigos que poderia ter. Encontrei uma pessoa que me fazia me sentir bem. Eu me permiti viver. Mas isso mais uma vez foi tirado de mim. Meu coração foi despedaçado. Minhas regras não poderiam ser quebradas, não de novo. Apenas deveria seguir minha consciência. Meu coração sempre me levou a perder tudo. Se acontecesse de novo eu temo que não saberia como me reerguer.

Dor.
Medo.
Sofrimento.

Eu não poderia me perder novamente.