Gerrard era um homem simples; alto, magro, nem muito forte nem muito fraco, olhos castanhos, pele escura, cabelos pretos, roupas frouxas e o coração dominado por uma mulher. Kaia, o nome dela. Desde a infância, nutria algum sentimento por ela. Brincavam o dia inteiro perto de um lago com águas azul-claras, em um lugar profundo da floresta que cercava o vilarejo onde viviam.
Certo dia, ele nadou fundo e distante no lago, procurando uma ostra pois queria achar uma pérola das mais bonitas. Poucos segundos se passaram e ele emergiu na superfície anseiando oxigênio e olhando Kaia na margem, que observava algumas plantas e contrastava com os pinheiros que a cercavam. Voltou a mergulhar, tendo conhecimento que seria uma difícil missão. Gerrard se sentia imbatível tendo como guia o amor. Apesar dele querer voltar à superfície, o amor, de certa forma, lhe mostrava que estava próximo do que desejava, e, à sua frente, na areia do fundo do lago, uma ostra branca no centro e, em volta, rosa, aberta com uma pérola prateada em seu interior, mas o tal amor não o tornaria imortal. Ele estava roxo, precisava voltar a superfície imediatamente, mas não saiu da areia, apenas se virou e olhou para o Sol e como ele se tornava mais lindo visto debaixo d'água, admirando o que por pouco não foi sua última visão. Algo o puxou pela perna enquanto ele fechava os olhos.
Sentia calor, estava sobre algo quente e conseguia respirar. Estava com força para abrir os olhos. Não encarava o Sol, mas uma garota de cabelos ondulados, um nariz pequeno e maravilhosos olhos verdes que deixavam escapar uma lágrima. Kaia o abraçou, emocianada por ter salvado seu melhor amigo a tempo. Este, ao tentar retribuir o abraço, sentiu algo em sua mão esquerda que estava fechada. Com a cabeça por cima do ombro de sua amiga, abriu a mão que escondia uma pérola prateada. Provavelmente o tão forte amor a colocara ali, ou algo a mais do que isso.
Anos depois, o homem simples se encontrava na plantação do vilarejo onde vivia, colhendo trigo e repondo as sementes sob um dia ensolarado e quente. Sua roupa larga estava úmida devido seu suor. Ele passou seu braço na testa, deixando sua manga molhada, e respirou fundo. O campo de plantação era imenso, se prolongando pela esquerda e direita, mas, à frente, logo se desfazia, dando assim espaço aos pinheiros enormes concentrados aos montes. Apesar de acordar de manhã, já era meio-dia e não recolhera a metado dos trigos no campo. O Sol parecia estar enfiando agulhas flamejantes na pele de Gerrard, nem parecia o mesmo do dia em que quase se afogou no lago.
Um barulho o fez olhar para os pinheiros, de onde surgia um homem desesperado com cabelos pretos e longos, nariz comprido, roupas sujas e desgastadas e uma mancha vermelha no lado esquerdo de seu corpo, pouco acima da cintura. Ele estava com uma feição de espantado e ao olhar Gerrard, gritou:
- Está tudo acabado, irmão! Gerrard... eles... - seu tom era ofegante, estava com suor em todo seu corpo e corria através dos trigos com uma fraqueza de quem já havia corrido quilômetros - Eles chegaram, não há nada que possamos fazer, apenas fugir. Este Sol está me matando - ao chegar perto de Gerrard, o homem de cabelos longos se ajoelhou demonstrando extremo cansaço. - Me leve para a casa de nosso avô, ele acredita em mim. O único. Não zombe de mim, irmão. Eles virão mais tarde, a diferença é que se não me escutar, morrerá com esta sendo a lembrança mais fixa em sua mente.
- O vovô está gagá! Por este motivo acredita em suas asneiras - justificou Gerrard, olhando seu irmão ajoelhado à sua frente, mas mesmo assim nosso homem simples não deixaria seu irmão ficar sem colher sua parte só por isso - Merlim, não vê que está ficando louco, vampiros não existem! E você está simplesmente de corpo mole por não querer trabalhar.
- Irmão, me leve até meu avô. Não me deixe. - Merlim esticou os braços para alcançar as vestes largas de seu irmão que estava se afastando. Por causa da força que fez, seu corpo pendeu para frente - Por favor! Gerrard. Não sou louco. Não me abandone. NÃO ME DEIXE AQUI, IRMÃO!
- Não tenho motivos para lhe ajudar. Você não nota a desonra que traz para nossa família? Todos da vila nos encaram com nojo ou desprezo. - Gerrard parou a meio metro da trilha de pedra que guiava ao vilarejo, se virou e continuou falando com seu irmão, que estava agonizando no chão - Você sabe como ela me olha? Me olha como se eu pensasse como você! Ela desvia o olhar ao me ver.
- Não confia em nosso avô?
- E nem em você, adeus!
- ESPERE! SABEMOS DE ALGO ENVOLVENDO KAIA.
- Está tentando me enganar. Não seria a primeira vez.
- TODO MUNDO SABE. ELA IRÁ SE CASAR IRMÃO!
A expressão que dominava a face de Gerrard era espanto e medo. Perdera o chão. O Sol não mais açoitava sua pele, ele não sentia mais nada exteriormente, todos os seus sentimentos estavam concentrados em seu coração. Como aquilo estava acontecendo tão rápido. Um casamento? Sua amada entregara seu coração a um homem, e o de Gerrard se entregou à solidão.
- AJUDE-ME! LEVE-ME ATÉ MEU AVÔ. LÁ EU LHE CONTO TUDO, IRMÃO.
- Você já notou... - uma lágrima escorria pelo rosto do homem simples - que me chama demais por irmão? Como se tivesse orgulho de ser meu irmão, e pode até ter. Mas eu... - Gerrard encontrou alguém para descontar a tristeza que sentia - Eu tenho vergonha de ser seu irmão.
- Não diga isso... - sussurrou Merlim.
- Todos temos vergonha de você, irmão. Nossos pais já expulsaram você de casa e mesmo assim não se toca.
- Pare...
- Dertyah não terminou com você por passar tempo demais caçando. A verdade é que ela tinha medo; não aguentava ver você voltando e falando sobre monstros, mas, não queria lhe constranger, muito menos avisar a todos que estava ficando maluco. Ela se importava muito com você e quebrou seu coração o fato de não poder continuar amando alguém que não conseguia sequer dialogar sem envolver vampiros nas conversas.
- So...corro. Irmão.
Ainda com seu coração sendo bombardeado por sentimentos, precisava ajudar seu irmão antes que morresse ali, deitado e queimado pelo Sol. Andou em direção à plantação, puxou seu irmão e o pôs de pé. Passou o braço esquerdo dele por trás de seu pescoço, assim servindo de apoio para a caminhada de Merlim sobre a trilha de pedras. Ao deixarem o campo e serem cobertos pelos pinheiros e suas sombras, se sentiram aliviados. A trilha se estendia entre as árvores, e os irmãos prosseguiam em passadas arrastadas e lentas.
Logo sentiram a penetração do calor solar, os pinheiros se distanciavam e agora se encontravam cercados por casas de pedra e de madeira. Estavam no vilarejo.
A casa mais próxima da trilha, que se desfazia, era a do avô dos irmãos, Roccan, que, felizmente, deixara a porta de sua casa aberta, assim Gerrard e Merlim simplesmente entraram e o homem simples depositou seu irmão em uma cama próxima. Apenas após isso, observaram um homem alto, com vestes claras, cabelos compridos e brancos, sem barbas ou bigode e olhos verdes.
- Eles chegaram, Merlim? - Perguntou o avô deles.
- Sim, vovô. Quase me atacaram e irão invadir o vilarejo muito em breve. - Disse o irmão de cabelos longos, ainda em tom ofegante.
- Creio que ainda esta noite.
- Por que acredita nas histórias de meu irmão. Logo o senhor. Conhecido por sua sabedoria e agora se deixando enganar por palavras de um louco? - Perguntou Gerrard, furioso.
- Seu irmão não é...
- É justamente o que é: louco.
- Não interrompa nosso avô, cretino.
- PAREM! - os dois desviaram seus olhares ao idoso que, primeiramente olhou com severidade para Gerrard e, depois, olhou para Merlim, ao observar todo seu corpo o encarou com desprezo, surpreendendo o outro irmão. - Até amanhã, Gerrard, de nada importará suas crenças, tudo irá mudar. Talvez você nem tenha a oportunidade de pedir desculpas a seu irmão, mas nada importará. Antes que volte a me interromper mal educadamente, acho que devo lhe contar o motivo pelo qual acredito em Merlim. E, espero que não se espante muito, foi por conta de uma lenda.
Gerrard não queria dar cabimento às caduquices de seu avô. Tornou a olhar a casa pequena em que se encontrava. Havia apenas um cômodo, pequeno, lotado de prateleiras com livros, uns ou outros com teias de aranha, uma mesa marrom e vazia e uma cama onde jazia o louco. Voltou sua atenção novamente ao mais velho ali presente.
- Essa lenda foi passada de geração em geração e, da mesma forma, se perdendo. Ela conta a antiga história de um vilarejo em que pessoas era mortas por monstros da floresta. Por isso, o vilarejo não conseguia crescer e se estabelecer, não até, por meio da mágica, nascer um menino dotado de poderes extraordinários.
"Em sua infância, um lobisomem matou seus pais e tentou o comer. Além de não obter êxito, o lobisomen morreu no mesmo dia. Logo os poucos habitantes notaram os dons do bebê e o utilizaram para proteger o vilarejo."
"Quando ele cresceu, teve domínio sobre seus poderes e estabeleceu uma barreira circular enorme que cobria muitos terrenos além do vilarejo, repelindo assim os monstros. Suas cores preferidas eram azul-claro e azul-turquesa, nunca se decidiu."
"Novas gerações nasceram e o tal homem não morria com o passae dos anos, mas mantinha uma enorme fama e a barreira de pé. Certo dia, um homem que tinha inveja dele o esfaqueou, e após disso alegava: 'Se este homem fosse tão poderoso, não seria ferido por outro tão simples'. As pessoas observaram o poderoso homem caído e sangrando e, como essa nova geração cresceu sem ao menos ver um monstro, pararam de acreditar no tal homem, que nunca deixou a barreira se abrir."
"A lenda foi passada, desta vez como o mágico sendo um inventor e que monstros nunca existiram. O mágico se isolou de todos e, ao longo do tempo, os que também acreditassem em monstros seria afastados da vila. Não demorou muito até que a lenda deixasse de ser passada. Apenas os Afastados acreditam e oram para o homem."
- Você acredita que este homem e os monstros existiram? - perguntou Gerrard, que não demonstrara nenhum interesse na história.
- Acredito, mas não compartilho minha decisão com ninguém, senão seria exilado como os Afastados, e seu irmão quase foi.
Gerrard apenas queria voltar para sua casa e cuidar de sua mãe. Iria fingir que a história não havia entrado por um ouvido e saído por outro fazendo uma pergunta, depois sairia daquele lugar.
- Me diga, então, por que eles irão invandir nosso vilarejo?
- Visitei Françoir, um dos Afastados, um dia desses, e ele acha que o tal mágico, depois de longas gerações, está morrendo, e a barreira está se desfazendo. Logo os monstros virão. Por isso, de manhã, pedi para que Merlim checasse a barreira.- respondeu o avô, examinando a mancha na roupa de Merlim, ainda mantendo o olhar de desprezo que Gerrard nunca vira.
- Esses Afastados também fazem parte da lenda?
- ELES SÃO REAIS, IRMÃO. TREYOR OS EXILOU, E SEU FILHO IRIA FAZER O MESMO COMIGO SE NOSSA MÃE NÃO TIVESSE IMPLORADO. - gritou Merlim, que estava vermelho, suando e ainda cansado.
- Não ligo! Como já estou aqui, lembro-me que o trouxe ao nosso vô com uma condição: você disse que contaria tudo. O que seria tudo?
- Treyor. Ele que se casará com Kaia. Todos sabem. Fará o pedido na floresta, de madrugada. Mas não posso alertá-lo do perigo; ele não me escutaria.
- Preciso cuidar de minha mãe. Até breve. - disse Gerrard, ignorando a última fala de seu irmão.
Mas o homem simples hesitou, uma parte dele não queria deixar o irmão fraco e queimado do Sol ali, outra parte queria simplesmente sair fazer algo. Ele parou a um passo da porta e olhou Merlim, deitado com seus longos cabelos espalhados pela cama e ainda ofegante.
- Cuide de seu mãe, e dele cuido eu. - avisou o avô.
Gerrard saiu daquela casa e, ao passar por mais duas, estava na estrada principal, uma estrada coberta superficialmente de areia feita para os moradores transitarem, era reta e várias casas eram paralelas a ela. Diversas pessoas seguindo um rumo, entre elas o casal Lavour, o moço era ingênuo, e a mulher o oposto, o velho Nicholls, um homem corcunda com nariz de batata e fofoqueiro e Belle, uma menina rica e mimada pelos pais. Todos estes e mais alguns desviaram seus caminhos ao se depararem com o homem de roupas largas. Alguns inventaram desculpas, outros apenas se despediram.
Todos na vila vestiam roupas muito parecidas: castanhas, marrons ou amarelas. As mulheres vestiam azul ou rosa. As mais vaidosas usavam vestidos de saia curta. E os mais vaidosos vestiam um colete por cima das vestes. E um casal que andava no sentido oposto ao de Gerrard usava os dois. Lá estavam, Treyor e Kaia. Caminhando de mãos dadas, trocando olhares e sorrisos. Isso era demais para o coração dele.
Resolveu seguir normalmente, passariam por ele, e, pelo menos era o que desejava, levariam assim sua angústia. Por mais que andassem, parecia que o tempo estava parado, Kaia continuava à sua frente, junto com o sujeito que desejava exilar seu irmão. Continuavam andando, até que finalmente passaram por Gerrard, que os ouviu sussurrarem algo, provavelmente dizendo:"Este é o irmão daquele maluco".
O homem simples, com o coração na boca, apressou seus passos, queria tirar aqueles sentimentos do seu coração, mesmo que por segundos. Eram tantos pensamentos envolvendo Kaia, e os que predominavam naquele momento era se, por acaso, ela se lembrava que Gerrard já fora seu melhor amigo. E este se culpava; havia parado de falar com ela após o incidente da concha, paralisado pelo acontecimento que prosseguiu ao entregar a pérola a seu amor.
Estava em sua casa, feita de madeira. Tinha dois andares, um cômodo em cada andar, e o cômodo era bastante pequeno. No primeiro andar, de um lado estava a cama de sua mãe, e um colchão embaixo dela, usado raramente quando seu pai voltava das caçadas; do outro lado se encontrava o forno a lenha sendo usado por Marie, a mãe de Gerrard.
- Mãe, sabe que não precisa fazer comida. Nem estou com fome.
- Me deixe em paz, G. Só estou tentando manter minha mente ocupada.
- Tudo bem, me desculpe.
Ele compreendia totalmente sua mãe. Era uma mulher bonita anos atrás, que engordara, deixara o cabelo curto e agora sempre estava com uma feição triste o rosto cheio de lágrimas quase enxutas. Sempre preocupada com o marido e, agora, principalmente com o filho. O homem simples não esqueceu que sua mãe implorara por seu irmão, justo a Treyor, que se tornara motivo de nojo para Gerrard. Pelo menos isso acreditava ser verdade, diferente do resto da estranha conversa que teve com seu avô e seu irmão. Lenda de alguém com superpoderes? Asneira.
Havia também uma escada que conectava os dois andares. Gerrard se dirigiu ao andar superior, onde dormia. Continha prateleiras quase vazias, não gostava muito de ler, uma janela, uma cama quase arrebentada e uma escrivaninha onde ele expressaria boa parte de seus sentimentos em uma carta. Na escrivaninha já se encontravam o papel, a pena e o tinteiro. O papel suplicava para que tivesse utilidade, a pena queria rever suas duas amigas e o tinteiro queria cumprir sua missão.
Quando terminou a carta era noite. Estava com sono e cansado de tanto pensar em formas de transferir parte seu coração para uma carta, mas conseguira. Deitou em sua cama, enfiou o papel no bolso e fechou os olhos.
Jazia no chão. Kaia estava em cima dele, bloqueando a luz do Sol. O abraçou. Por cima de seus ombros olhou sua mão fechada e sentiu que estava guardando algo. Se separaram e ele mostrou a pérola à Kaia, que era criança assim como ele.
Sempre que pensava nesse momento, o homem simples desviava sua atenção, não por odiar o que aconteceu após ele emtregar a pérola, mas detestar que não se dirigiu a ela desde então.
Porém, seu sonho era indomável. Não tinha controle algum sobre a lembrança que revivia. Ele entregou a pérola, tocando as mãos macias de seu amor, e ela o beijou. Se sentia quente, mas um calor confortável, era, sem dúvida, um momento mágico, e mais mágico ainda no sonho, pois Gerrard não sentiu mais os labios de Kaia, e se encontrava rodeado por uma luz azul-clara, que de algum jeito tinha forma e se movia. Ela não estava mais ali e o chão era uma luz azul-turquesa, mesmo sendo sólido. A luz azul-claro se aproximava dele, estando a metros, sendo a única paisagem. A luz se aproximava, a distância era de centímetros...
Ele acordou. Se levantou, olhou sua carta, a dobrou e colocou no bolso. Sabia o que aconteceria quando olhasse a janela; Treyor e Kaia se dirigiam à floresta. Desta vez, ele usava uma roupa preta com capuz, estilo diferente de qualquer outro usado na vila. Ela, porém, se mantinha linda, usando o mesmo vestido que usara na estrada.
"Do que adianta amá-la se continuarei às sombras" pensou Gerrard e, com muita cautela para não acordar sua mãe, desceu as escadas, abriu e fechou a porta de sua casa, observando o casal se distanciar atravessando os pinheiros e arbustos.
Correu então, não deixando eles tomarem uma longa distância, mas será que chegaria a tempo? Existia uma possibilidade de seguir pelo mesmo caminho dos dois? Ele não sabia. Apenas disparou, passando por casas do vilarejo, saindo dele e entrando na floresta.
Não eram somente pinheiros, mas árvores mortas e enormes arbustos, além de um chão desnivelado com buracos e pedras. Tudo isso dificultava a orientação de Gerrard que, ao olhar para trás, não tinha mais visão do vilarejo, apenas de folhas escuras. A noite era traiçoeira, não deixava ele enxergar nada que ficasse a poucos metros de distância. Surgiu nele a ideia de se deixar guiar pela audição.
Parou se apoiando em um tronco de árvore e ouviu passadas de um lugar pouco mais a frente. Ao seguir o som, bateu em um tronco que estava à altura de seu peito e cambaleou para trás. Se abaixou e prosseguiu, sem esperar que o terreno agora estivesse irregular, o fazendo despencar em uma descida. Como se estivesse deitado no alto de uma colina, descendo a uma velocidade inimaginável.
Mas essa tal colina era coberta de folhas, assim como próximo a sua base, o que amorteceu o despencar de Gerrard, que já estava preocupado em não conseguir voltar. Por outro lado, o barulho de passos ainda continuava a sua frente. Pisavam em galhos e terra. Ele estava de bruços, mas se recompondo para ficar de pé. Antes de prosseguir, olhou para trás e viu que o terreno realizava uma subida inclinada e repleta de flores. Para ele, devia ser vinte metros de altura. Observou também que havia uma linha de árvores na chegada ao topo, todas com enormes galhos. Entre elas, Gerrard reconheceu a árvore com o galho que, no pensamento dele, era responsável por sua queda.
Antes que perdesse mais tempo, se orientou pela audição e ouviu risos pouco distantes de onde se encontrava. Novamente corria, tropeçando algumas vezes e chegando em uma parte da floresta onde não haviam árvores, apenas um terreno onde estavam Kaia e Treyor se abraçando, sem notar alguém próximo.
Era tarde. Já estavam se abraçando de forma emocionada, em um lugar perfeito, um terreno limpo, que era um pouco maior do que a casa de Gerrard, em meio a uma floresta densa.
Treyor, por estar usando preto, era quase invisível. Sua cabeça estava sobre o ombro de Kaia, e seus braços a envolviam. O homem de preto estava de frente para Gerrard, que não conseguia ver o rosto de sua amada, apenas a parte de trás de seu cabelo, o rosto de Treyor e seus olhos fechados que de repente se abriram, revelando estarem totalmente vermelhos. Não existia branco do olho, nem íris ou pupila, só duas bolas vermelhas, que não estavam olhando para o homem simples.
Treyor abriu sua boca e afastou sua cabeça, mas mantendo uma distância de poucos centímetros, do ombro de Kaia. Com a boca aberta, Gerrard notou que ele possuía caninos maiores do que o habitual e, rapidamente, mordeu o pescoço de sua noiva.
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Entre uma barreira e um mundo
FantasyGerrard vive em um vilarejo cercado por uma enorme floresta e está apaixonado por Kaia, uma mulher que está prestes a se casar, mas não com ele. Certo dia, Gerrard descobre que, à noite, irão pedir Kaia em casamento, então ele a segue pela floresta...