DROGA, DROGA, DROGA! Estou atrasado. Reno Casablanca me convocou noite passada com um pequeno pedaço de papel dizendo hora e local, assinado com suas famosas iniciais que absolutamente todos conhecem, e quando Reno Casablanca convoca alguém, não aparecer na hora é uma afronta às normas de convivência no complexo estudantil.
Só para constar, Reno Casablanca é o camarada mais inteligente do complexo, e com isso vem certas conquistas que os menos privilegiados no quesito conhecimento não possuem. Então, por tamanha bondade e interesse, o camarada doa alguns desses privilégios para aqueles que, como eu, estão dispostos a pagar com favores.
Eis a questão: preciso passar em Química Para Combate nível 1, e se existe alguém neste mundo que pode me ajudar, este alguém é Reno Casablanca.
Seu convite é uma prova de que ele também sabe disso.
Não. Posso. Me. Atrasar. (Muito.)
Agora, imagine minha expressão de desespero, pânico e nervosismo, e encontre algum alívio cômico para toda essa situação alarmante.
Ok, sei que esse drama todo não vai ajudar. Preciso relaxar, focar, encontrar meu livro da fé e sair correndo o mais rápido que conseguir. Eu consigo, eu consigo, eu consigo!!!
Respiro fundo algumas vezes até sentir que o nervosismo deixou minhas mãos em paz. Encontro meu livro da fé debaixo de uma pilha de camisetas dobradas sobre a mesinha que arranjei com Sue Lintche — meus antigos patins de quatro rodas por uma mesa marrom velha; uma troca justa eu diria.
Coloco o livro da fé na mochila, respiro fundo e saio.
Mas então, é isto. Ando tão rápido que minhas panturrilhas queimam e, se eu pudesse jurar, diria que há grandes chances de ficar resfriado com a velocidade que o vento gelado bate bruscamente no meu rosto. Quase sinto meu nariz escorrendo, mas talvez isso já seja coisa da minha cabeça. Não ficarei doente, sou forte demais para ser derrotado por um ventinho.
Atravesso o complexo de alojamento e vejo o camarada Reno Casablanca sentado timidamente em um dos bancos da praça B-19, encolhido em seu casaquinho verde musgo sem graça, por conta do frio.
Reno Casablanca é uma pessoa franzina. Um desses garotos que sobrevivem pelo cérebro, não pelos músculos. Se eu decidisse neste instante começar uma briga, tenho certeza mais que absoluta que seria capaz de matá-lo. Obviamente eu seria apedrejado e muitos camaradas não providos de um QI alto o suficiente ficariam decepcionados com minha total estupidez, mas a questão é que eu poderia, sabe. Reno Casablanca já estaria nas mãos dos valentões engomados se não fosse sua mente brilhante e sua discrição diante dos favores concedidos. Ele se tornou uma das maiores preciosidades, quase uma celebridade oculta. O salvador dos burros!
Me aproximo e ele logo acena daquela maneira acanhada de sempre, como se tivesse nascido com a parte superior do braço colada no corpo. O jeitinho destrambelhado dele meio que me acalma um pouco.
— Camarada Max Final — me cumprimenta. — Está atrasado.
Sento ao seu lado no banco. Realmente está frio esta manhã, e parece ainda mais frio quando me sento. Sabia que ele ratificaria meu atraso.
— Camarada Reno Casablanca — o cumprimento. — Sinto muito.
— Manhã difícil?
— Nem imagina.
Reno não diz mais nada. Parece nervoso. Quero perguntar o que poderia estar tirando a paz de espírito do reservado Reno Casablanca, mas não acredito que sejamos amigos o suficiente para me intrometer, ainda mais quando isso poderia prejudicar nossa relação de troca. Entretanto, não consigo parar de observar seus dedos agitados batendo de maneira discreta nos joelhos simetricamente grudados. As luvas pretas de lã tornam o movimento ainda mais difícil de perceber, então começo a me perguntar como fui capaz de notar.
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Porão B-44
Teen FictionMax Final tem como único objetivo passar num teste de química para iniciar seu futuro da melhor maneira possível. Ele só não previu que a proposta de seu camarada Reno Casablanca poderia ser tão desafiadora e que Mara Kim poderia ser mais atraente d...