Extremistas usan chans (fóruns anônimos) para disseminar o ódio. Qual a relação deles com massacres como o de Suzano?Uma linha de investigação do Ministério Público de São Paulo tenta descobrir se os autores do massacre de Suzano obtiveram informações em fóruns extremistas sobre como agir nos ataques. Se positivo, não vai ser a primeira vez: os chamados chans — fóruns anônimos, basicamente — estão relacionados a outros ataques, como o de Realengo, em 2011, e o de Toronto, em 2018.
Esses e outros atentados, incluindo o de Christchurch, na Nova Zelândia, executado na mesma semana do ataque de Suzano, são crimes de ódio. Um ódio que é alimentado de modo assustador em comunidades online, principalmente na deep web. É por isso que é importante entender o papel desses espaços como catalisadores de tanta barbárie.
O que é um chan
Embora o nome chan seja um diminutivo da palavra em inglês “channel”, as origens desse tipo de fórum remontam ao Japão. Os primeiros grupos do tipo surgiram por lá perto dos anos 2000 e, em pouco tempo, o conceito se espalhou para diversos países, incluindo Estados Unidos e Brasil.O chan mais conhecido da atualidade é o 4chan. Criado em 2003, o site foi inspirado no Futaba Channel, também chamado de 2chan: esse fórum foi montado no Japão em 2001 e é bastante acessado por lá até hoje.
A dinâmica desses fóruns é simples: para começar, não é obrigatório ter cadastro. Todos os usuários podem postar mensagens sem se identificar. Além disso, os tópicos normalmente são iniciados com imagens que podem ter ou não relação direta com os assuntos discutidos, razão pela qual esses espaços também são chamados de imageboard.
Note que, originalmente, os chans não foram criados para abrir espaço para assuntos nefastos. Nos mais populares, é possível encontrar tópicos sobre jogos, animes e história, por exemplo. Polêmicas são bem-vindas e até estimuladas nesses sites, mas conteúdos que violam as leis são proibidos, pelo menos nos mais populares.
No que se conhece como deep web, porém, é muito mais fácil preservar o anonimato. Não é de se estranhar que uma enormidade de atividades ilegais seja encontrada por lá. No meio disso estão chans extremistas, criados especificamente para promover o ódio.
Em uma explicação bem simplificada, a web que a ampla maioria das pessoas acessa — e de onde você lê este texto — corresponde à chamada surface web. Mais abaixo está a deep web. As páginas existentes ali não são indexadas por mecanismos de busca como Google e Bing. Existe ainda a dark web. Trata-se das camadas da deep web, vamos dizer assim, que concentram páginas e redes para atividades obscuras.
Pois bem, seguindo essas definições, os chans extremistas fazem parte da dark web. Rastrear atividades ilegais é muito mais difícil ali — difícil, mas não impossível —, motivo pelo qual fóruns do tipo são relativamente comuns nessa parte da deep web.
Quem cria esses fóruns e por quê?
Momentos antes de entrar em uma van e, com ela, atropelar dezenas de pessoas em uma movimentada via de Toronto, Alex Minassian publicou no Facebook a seguinte mensagem (em tradução livre): “A Rebelião Incel começou! Nós vamos derrubar todos os Chads e Stacys!”.Essa postagem, sem sentido na primeira lida, é bastante reveladora sobre o perfil que aparentemente predomina nos obtusos fóruns da dark web: incel é uma abreviação de involuntary celibacy ou, em bom português, celibato involuntário. O termo é comumente usado em chans de língua inglesa.
De modo geral, os incels que povoam os chans são homens, muitos dos quais jovens, que têm dificuldades para arranjar parceiras para sexo ou relacionamento amoroso. Nos fóruns, não é difícil encontrar, por exemplo, participantes relatando sofrer rejeição de garotas, desejo sexual frustrado ou sentimentos de inferioridade diante de mulheres atraentes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Deep Web - O verdadeiro horror
HorrorO que você lerá a seguir é uma creepypasta, ou seja, uma lenda urbana moderna difundida pela internet, por fóruns, e-mails e redes sociais. Normalmente podem ser fictícias, sem provas ou fontes confiáveis, ficando assim apenas como um conto de terro...