Capítulo 3 - Isadora

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Ao entrar no dormitório, minhas amigas praticamente pularam sobre mim, me derrubando na cama, como duas malucas, falavam sem parar e ao mesmo tempo, era praticamente impossível distinguir suas palavras, mas constatei o óbvio, de alguma forma elas já sabiam sobre a banda.

— Pode contar tudo, que historia é essa de você e a Adrenaline? — Ane perguntou.

— Se vocês me matarem sufocada, não vou poder contar. — eu respondi com dificuldade por causa do peso delas sobre mim, mas ainda assim sorri.

Elas saíram de cima de mim, Ane se acomodou ao meu lado e Lilian correu até seu notebook.

— Em primeiro lugar como vocês sabem disso? — questionei.

— Quem é que não sabe Isa? Eles são meteoros, todo mundo já está vendo. — Lilian me respondeu virando a tela do aparelho para mim, o vídeo já estava na rede.

Contei à elas como tudo aconteceu, elas ficaram eufóricas e assistimos o vídeo mais algumas vezes, eles eram realmente muito bons, embora eu tenha ficado com cara de idiota quando o vocalista retirou os óculos especiais do meu rosto, até que gostei do resultado.

— Não acredito que você ficou tão perto deles! Ainda bem que não fui eu, pois teria pago o maior mico, quando ele se ajoelhasse aos meus pés, mesmo pensando ser só virtual, eu teria partido para cima dele. — Lilian diz e nós três rimos.

— Ele é mesmo tão bonito de perto? — Ane questiona.

— Absolutamente maravilhoso! — respondo.

— Diz para mim que você conseguiu o telefone dele. — Lilian pede.

— Claro que não, Lilian. — eu nego, rindo.

— Não acredito que você esteve tão perto do cara e perdeu a chance de pegar o telefone dele para marcar um encontro.

— Até parece Ane, vocês me conhecem o suficiente para saberem que eu jamais faria isso. — digo de maneira leve.

— Você disse que queria beijar ele! — Ane rebate.

— Eu não disse que queria, disse que se fosse para beijar alguém eu beijaria ele! — eu falei e sabendo como acabar com aquele assunto eu continuei. — Olha o que eu ganhei!

Tirei da bolsa o maço de ingressos para os shows dos próximos seis meses, todos ali na região. Ao menos poderíamos curtir aos finais de semana.

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As aulas iniciaram, eu estava radiante, era exatamente como eu esperava, as aulas teóricas eram incríveis e o estúdio para aulas práticas era sensacional. A primeira semana se passou e eu me sentia bem, os horários passados no estúdio eram os melhores, e eu conseguia ficar sozinha lá em alguns momentos do dia, o que era ótimo. Quando isso acontecia, eu não usava o sistema de som do ambiente, colocava meus fones de ouvido, deixava a música invadir o meu ser e me entregava completamente, expressando através dos movimentos, cada sentimento que eu guardava em meu peito. Aquilo era libertador para mim!

Era quinta-feira a noite, eu ainda estava no estúdio, quando a música cessou, respirei fundo e abri os olhos encarando a minha imagem no grande espelho, meu peito subia e descia rapidamente, consequência do esforço da dança.  Esperei que a respiração voltasse ao normal, peguei as minhas coisas e saí da sala de ensaio.

O prédio estava deserto, olhei para os dois lados do corredor e comecei a caminhar. Comecei a ouvir uma melodia doce, eu não conhecia, mas era linda, o som reconheci se reproduzido por um piano, um pouco mais a frente vi uma porta entreaberta, diminui o ritmo dos meus passos, até parar em frente a brecha por onde o som escapava e sem conter a minha curiosidade, espiei.

O músico estava de frente para mim, porém o piano escondia seu rosto que estava abaixado, eu somente podia ver os cabelos loiros e fartos. Ele não cantava, somente o som do piano reinava no recinto, imponente, se infiltrando em minha pele e quando, o que imaginei ser o refrão foi tocado, fechei os olhos sentindo cada pelo do meu corpo se arrepiar, tamanha beleza tinha a melodia. Quando meus olhos se abriram novamente, eu pude vê-lo, o vocalista da Adrenaline, ele mantinha os olhos fechados e agora a sua cabeça pendia levemente para trás, deixando bem visível os pelos claros de sua barba curta, seu corpo se balançava no ritmo das notas. Ele estava completamente entregue à música e eu achei aquilo a visão mais linda que já tive.

Sem querer esbarrei na porta fazendo-a ranger, não esperei para saber se ele havia notado que eu estava espiando-o, somente corri em direção a porta de saída e segui meu caminho para o dormitório. Depois de quase correr por uns cem metros, diminui o ritmo, passando a caminhar normalmente, sentindo o coração desacelerar lentamente, seguindo o meu caminho.

Percebi quando um homem de blusa preta e capuz caminhava apressadamente a quase uma quadra de distancia de mim, tentei manter a calma, já que neste horário outros universitários também estavam indo para seus dormitórios, apesar de estarmos só nós dois naquela rua. Ele se aproximou mais, a esta altura o rapaz estava uns dez passos atrás de mim.

— Hey! — Ele chamou.

Os pêlos da minha nuca se arrepiaram, eu não olhei para trás, somente apressei os passos, me preparando.

— Hey! — Ele chamou novamente. — Espere!

O homem enfim me alcançou e tocou meu ombro, então, fiz o que eu tinha que fazer, soltei minha bolsa no chão, pegando-o desprevenido, agarrei o seu braço puxando-o por cima do meu ombro e fazendo-o cair de costas no asfalto. Sentei-me em cima de seu peito, com uma perna de cada lado, mantendo seus braços junto ao seu corpo e quando estava pronta para começar a socá-lo no rosto ele falou:

— Hey, sou eu Joe!

Puxei seu capuz e encontrei seus brilhantes olhos azuis assustados. Sim, era mesmo o vocalista.

Adrenalina - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora