Entra, mas não fica à vontade

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Sabe quando você é criança e alguém te pergunta o que você quer ser quando crescer? Pois é, geralmente dá tudo errado.

Foi pensando nisso que, aos 22 anos, Kirishima tatuou o terceiro escudo do Flamengo só naquela semana. Amava sua profissão, é claro. Provavelmente só estava dramatizando a situação. O cliente parecia satisfeito, então ele também ficou feliz.

Apesar da concentração, sempre tentava conversava com quem estava atendendo. Alguns, ele suspeitava, até usavam-no como psicólogo. Principalmente os mais frequentes, que às vezes chegavam sem algo em mente, permitindo Kirishima treinar o que quisesse.

— Tô falando, Ei. Ela é perfeita. Você acredita que ela conversou com minha gata? Sim, a Marshmallow. Conversar com gatos! Temos que casar. Ai! — Mina exclamou.

— Foi mal, vai doer um pouquinho.

Estava terminando de ajustar a luminosidade de um unicórnio na coxa esquerda da menina de madeixas rosas.

— Tudo bem, tudo bem. E você, Ei? Quando vai arranjar alguém?

Eijirou também queria saber. Na verdade, de vez em quando entrava no Tinder para ver se tinha novos matches. No entanto, da última vez que marcou de se encontrar na casa de um pitelzinho, o garoto colocou Maria Bethânia para tocar e não conseguiu parar de chorar.

Ok, Kirishima não era ruim em consolar pessoas. Porém, quando chegou em casa, não tinha ninguém para consolá-lo. Talvez começasse a chorar com Maria Bethânia também. Talvez fosse contagioso.

— Por que caralhos tanta demora? É a porra de um yakuza lá dentro?! 

Expulso de seus pensamentos, Eijirou levantou bruscamente. Sua assistente, a Jirou, não sabia desempenhar o papel de secretária. Na verdade, logo estava xingando o cliente impaciente.

— Vai se foder, tá com pressa é só ir embora! 

— Puta marketing esse daqui, parecem que não querem ganhar dinheiro!

Sem saber o que fazer, Kirishima olhou para Mina. Ela, inabalável, pegou um spray de água improvisado para retirar os acúmulos de tinta e espirrou nos dois. Como gatos assutados, o susto foi o suficiente para que Eijirou pudesse falar.

— Eer, oi! Estou livre agora, você é o próximo?

Jirou o encarou com o olhar tanta-gentileza-vai-te-matar-um-dia, ao passo que Eijirou, sorrindo, respondeu com um ele-pode-falar-mal-da-gente-no-instagram. Obviamente ninguém captou nenhuma mensagem corretamente.

Bufando, o loiro adentrou o estúdio reservado para o atendimento. Sentou escandalosamente, parecendo não suportar todo aquele ambiente.

— Sinto que começamos mal. Meu nome é Kirishima Eijirou, o seu deve ser Bakugou Katsuki, certo? O que você quer que eu faça? Tem alguma referência na qual eu posso me basear?

Um momento de silêncio procedeu-se. Kirsihima checou a ficha, olhou para Bakugou, depois checou a ficha novamente. O loiro parecia incrédulo, encarando-o como se fosse um alienígena.

— Aquela bastarda não escreveu aí?

— Hmm, não. Eu deveria ir lá perguntar? — fez beicinho. Poxa, não gostava de decepcionar ninguém, por mais que fosse uma pessoa rebugenta e desmerecedora de quaisquer agrados.

— Eu quero que você tape esse nome com um cavalo relinchando.

Katsuki, então, levantou a manga de sua camisa e mostrou sua tatuagem no antebraço. "Izaque Miguel, amor eterno", fonte itálica.

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