Prólogo.

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A dinastia Jung perdurou por séculos. O sangue real circulava pelos herdeiros do trono e cada pessoa presente na corte mantinha a tradição de seguir a própria linhagem. Desse modo, os Jung's só se relacionavam entre si; o Rei Choi II era o que mais presava pela tradição, mantendo-a ao se casar com uma prima, tendo assim seus dois lindos filhos: Hoseok, o mais velho, e Dawon, a mais nova.

Tudo parecia perfeitamente bem entre a corte. Opovo estava satisfeito com como a sua Majestade conduzia seu reinado e, por mais um pouco, eles viveriam um conto de fadas. Como disse, por mais um pouco.

Acredito que a vida é como uma balança, toda felicidade vem trazendo uma porcentagem de tristeza. E não foi diferente com a família real que, em um incêndio, perdeu metade de sua corte e as figuras mais importantes ali: o Rei e a Rainha.

Hoseok e Dawon ficaram órfãos muito cedo. O pequeno príncipe, de madeixas lisas e escuras, tinha em torno dos seus treze anos quando tudo aconteceu. E, por ser novo demais para comandar um reino, foi posto sob a proteção de um padre que viera, mais tarde, a ser o principal motivo para o buraco que Hoseok cavava pra si mesmo.

- Ajoelhe-se, príncipe. - Ditou o velho. - Peça a Deus que cuide dos seus pais e que perdoe o seu choro.

- Deus... - Com a voz firme, o órfão começou.- Aceite meus pais no céu, dê a eles a paz que não tiveram em vida e me perdoe por chorar, homens de verdade não o fazem.

E, com lágrimas aglomeradas nos olhos, o menino apanhou, talvez pela segunda vez só naquele dia. O padre dizia que aquilo era a sua paz e redenção, que se acaso ele se flagelasse, encontraria o reino dos céus. Como uma boa criança, ele o fez, arranhando suas costas magras e, até então, imaculadas.

É o preço de uma coroa.

Mais tarde, já com os seus vinte e dois anos, Hoseok foi coroado e se livrou das amarras que o clero e seu representante impunham sobre si. Com a notícia de que o novo rei já estava no poder, uma corte restabelecida voltou para o palácio, e tudo parecia como antes, exceto pela pintura da morada que agora tinha um tom claro como uma pérola. Ao longo dos enormes corredores, quadros dos mais renomados artistas também emolduravam as paredes, e o chão foi revestido com o piso mais reluzente e liso que puderam encontrar nas redondezas.

O ar que rondava a realeza era de festa, e o cheiro da comida preparada pelos cozinheiros alcançavam até os trabalhadores que estavam em torno do palácio; entretanto, um quarto específico do castelo estava alheio ao clima festivo. Lá dentro, apenas os cochichos eram ouvidos por todo o cômodo; no breu da sua vergonha, surgiu o padre, que mantinha a pose de benfeitor perante os fiéis, mas era o verdadeiro mandante por trás da chacina que ceifou não só a vida da corte, mas de empregados inocentes.

ㅡ Você poderia ter matado ele antes! Estava nas suas mãos. ㅡ disse um de seus capangas, se referindo ao jovem rei.

ㅡ Não, não... seria estranho um sucessor morrer assim. Ademais, Deus me disse: Hoseok precisa viver! Mas não por muito tempo.

ㅡ Podemos fazer um pacto, pedir ao demônio que faça o trabalho sujo! Conheço pessoas que sabem invocá-lo.

ㅡ Não! Nunca me sujaria com a presença imunda do tinhoso, sou temente a Deus! E, graças a mim, a antiga corte festeja junto ao eterno.

ㅡ Mas então quando?! Estou cansado de esperar pela morte daquele reizinho nojento. E ainda aguardo o dia que vou sentar no trono dele!

ㅡ Não seja tão ganancioso, logo esse reino será seu! E com o dinheiro dos fiéis, chegarei aos céus sem muitos problemas. Mas agora, precisamos de cautela! Ele vai morrer, mas só quando Deus quiser.

A cabeça de Hoseok estava na mira, e valia mais que mil coroas.

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