Ok, vamos dar um stop no flashback e voltar ao presente. Eu estava saíndo de casa e indo para o centro da vila, onde ocorreria o rito.- Bela maquiagem idiota! - disse Hunter
Hunter era um menino mais jovem que eu, cujo pai é o principal caçador da tribo (eis o nome hunter, eu sei, não é o mais criativo), insiste que ele é um caçador nato, e vai ser o cacique, como ele mesmo deveria ter sido. Egocêntrico? Claro.
Patético? Mais ainda.Hunter era tao pequeno que tinha que andar com seus 4 primos (a quem se referia de lacaios) para parecer perigoso, mas todos só latiam e não mordiam, o número de vezes que eu me socaria se fosse eles é... alto assim por se dizer. Mas não hoje. Hoje não iria enfrentar ninguém, não antes do rito de caça, claro.
- Valeu Hunter. - Eu disse
- Não foi um elogio, panaca! - disse o garotinho.
- Isso aí! Vai nessa Hunter! - disse um dos primos, encorajando os outros á aumentar o ego gigantesco dele.Eu poderia sair de lá deixando algum olho roxo e saindo com o meu de mesma cor, seria muito satisfatório. Olha, não sou agressivo, nem irritadiço, mas aquele menino me atormenta desde que nasceu.
- Ok, ok Hunter, se você fosse recitar todos os xingamentos de sua pequena cabeça, nós nos atrasariamos então vamos logo. - retruquei
- Ou seja, você desiste!
- Sim, sim, pode ser.
- Ha! Outra vitória, naturalmente.
- Yeah! Uhu! - comemoravam os Hunter-heads (o nome que hunter dava a seus primos. Eu sei que o cérebro dele é minúsculo, mas sério?)Cheguei lá, mas tinha algo diferente. As saaripés (luvas com as formigas, masoquismo, como quiser chamar.) não estavam lá. Foi então que lembrei, a ordem dos rituais alternam. Esse ano, nós caçaríamos primeiro.
Fantástico. - Pensei, entrando em pânico.
Meu plano está arruinado.
Meu plano era que, depois do ritual, todos os jovens vão para casa, para depois voltar para a festa (ou no caso, a caça), então teria tempo de pegar uma carne em casa e sujar minha mão com frutas silvestres para se assemelhar a sangue. Assim, pareceria que eu teria completado minha caça. Mas agora, não teria tempo.Eu só caçaria se fosse realmente necessário. E segundo os habitantes, ninguém estava precisando. Eu não quero desrespeitar os rituais e tradições. Se quiser fazê-los, faça, só queria que aceitassem que eu me sacrificaria sim pela nossa tribo, e não precisasse tirar a vida de algo para isso.
Eu não sabia, mas eu ia provar isso e muito mais.
Havia chegado a hora do inicio do ritual, o líder da aldeia se dirigia a nós com um sorriso aquecedor, ele olhou para mim com um olhar calmo e duvidoso, como se estivesse conversando comigo pela sua visão, eu respondi com um suspiro triste.
- Jovens, - ele disse - é hora de entrarem no mundo dos adultos, e terem suas próprias responsabilidades.
Porque, claro, ser adolescente é facil, não é mesmo? - pensei, com um tom extremamente irônico.
- A caça será como de costume. Durará 2 horas. Ou seja, em duas horas deveram trazer um animal para o centro da vila. Morto, claro.
A palavra "morto" retumbava na minha cabeça como uma bola elástica lançada numa caixa fechada.
- Isso será para provar que farão de tudo para ajudar nossa vila, como um bom tupinambé-maué faria. - ele finalizou.
Eu vejo a animação para ir, então, darei a todos 5 minutos para conversar e se preparar.Minha cara ja dizia tudo. Eu NÃO estava a fim de conversas. Nem de nada, muito menos de estar ali. Eu ouvi o pai de hunter exclamando:
- VAI FILHO! ACABA COM ELES! -ele exclamava para que todos ouvissem. - PROVE SEU SANGUE DE CARRASCO!
Carrasco. O homem enorme e seu filho amavam ser descendentes desse tal carrasco. Quem ele foi? Ah, simples. O cara que matava pessoas selecionadas pelo rei, que depois seriam comidas pelo mesmo. Canibalismo. Muitas vezes por opiniões ou ideais diferentes. Só isso. Só isso dava origem aquela cena. Eles se orgulhavam de usar esse nome.
Isso me enojava.
Passado os 5 minutos, que contei segundo por segundo na minha cabeça, minha ansiedade só aumentava.
- Acabaram os 5 minutos! - anunciou meu padrinho - Prontos?
Não. - eu pensei enquanto todos outros exclamavam a palavra "Sim". Eu não tinha escolha. Com um pesado suspiro, abaixei e peguei minha lança.
- Preparar! Apontar! - disse meu padrinho.
- Boa sorte, panaca. - sussurou Hunter que estava do meu lado.
Como sempre demonstrabdo espírito esportivo. - pensei.Parando para ler, pensar foi a coisa que eu mais fiz. Pensar, pensar e pensar. Agora não tem mais o que e como pensar. Muito menos o que falar.
- JÁ! - exclamou o cacique.
Todos saímos correndo para cantos diferentes da floresta. Eu estava desesperado. Será que eu chegava lá de mãos vazias? Ou com a consciência de que tirei a vida de um serzinho inocente.
- Eu sou uma bagunça. - falei baixo pra mim mesmo.
Não prestando atenção, eu prendi meu pé em algumas vinhas no chão. Eu estava preso. Até que eu olhei para o lado e vi alguém com o arco e flecha apontado. Não dava pra ver quem era, eu assumo que era o mesmo do outro lado, então não era de mal, devia ter me confundido com um animal.
Ele soltou a flecha. Ela ia direto a mim.
Eu não podia correr.
Minha morte era iminente.
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Endi e a Terra Sem Males
Fiksi UmumEndi é um índio de uma miscigenação de tribos tapirapés e saterés-maués. Ele não é interessado nestes rituais e nem na caça, ele acha cruel o que fazem com os animais. Perdeu o pai, pelas crueldades que o mesmo fez e só tem uma mãe, que... não é mui...