desconfiança

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outrora escrevestes sobre apesares
e agora, sobre acontecimentos
o problema não é apenas a desenvoltura
mas também o entendimento

fui incitado a declarar 
sobre um amor a desprover
em que duas almas vivas 
vieram a perecer 

começava um caos psíquico
no rapaz ao caminhar
entre ruas e avenidas 
observava o alinhar 

das sequoias e pinheiros
com o chacoalhar do outono 
isso em meio ao amanhecer
onde lhe faltava sono

demorava para chegar 
ao seu trabalho exaustivo
e em seu pensamento habitava
recaídas e libido

pela mulher cacheada 
morena e não tão alta,
sua pretendente de longo prazo
e era nesse caso
que em mil batidas seu coração parava

bem-sucedida, vinte anos
de pura volúpia e carinho
nunca que qualquer hora 
ela o deixaria sozinho 

trabalhava em meio ao sol
como lavradora numa plantação
suava, ardia e ansiava
por água e um pouco de pão

todos os dias ela o ligava
pelo telefone de seu regente
mas nesse dia seria diferente
e o mais difícil de tudo
seria deixar o homem descrente

as horas se passavam 
ela jamais o deixara esperar 
nem pergunte o que a mesma fazia
nesse tempo de matar

ás três da tarde, os dois se vêem
na Rua do Bom Jesus
ela coberta de suor
e ele com olhos de luz

ela pergunta como foi o dia
ele a estranha demais
como se algo tivesse errado
entre os dois tanto faz

a acusava de traí-lo 
por demora na lavra
depravado e sem pensar
gritava com a pobre coitada

no meio da rua
na feira dos artesãos
ela a estendia os dedos
ele estapeava sua mão 

acabou que se separaram
três anos de namoro 
uma simples paranoia
levou junto seu tesouro

meses voavam como folhas
já era pra lá de setembro 
enquanto estava sentado
lamentando em seu trabalho
acabou a pedir seu dissenso 

visto que tudo desabara
entre chãos e seu céu
saiu abalado da escola
na cabeça agora embola 
a morena e seu véu

foi até a sua casa
pra lá de Petrolina 
com seu fusquinha velho
denominava Betina 

quilômetros pra lá, cá 
seis da noite
e Zé viu uma multidão
curioso como sempre
parou e gelou a mão

nervoso, saíra do carro
o viu olhando para a rua 
e de repente subiu
no seu corpo um calafrio
ao ver a moça que era sua 

estirada estava ela 
com o corpo ensanguentado
viu Zé marcas de tiro
já não era obstinado

pôs-se em estado de crise
vira ela com seu casaco 
preto com verde, padrão
mas também na sua mão
estava algo guardado

ela voltava cansada
árdua, queria o conforto de casa 
a confundiram com fugitiva
bandidos na ativa
injustos e de farda

tirara o casaco da moça
consolidou sua morte 
tentou ser mais do que era 
mas não conseguiu ser forte

abriu a caixinha pequena
com o restinho de confiança
e lá estavam suas dores
numa linda e simples aliança 

se fosse um pouco mais esperto
e confiasse nela
não a perderia 
sem dúvidas para a heresia
e sua vida seria bela.









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⏰ Última atualização: Oct 12, 2020 ⏰

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