A Liga das Almas Perdidas

Level Zero

- E é por isso que x= √2/2. Entendeu?

- Nossa! Você fez parecer muito fácil! - É porque é fácil. Francamente... Você já está no final do ensino médio e não entende trigonometria ainda, Alex. Pretende mesmo entrar em alguma faculdade?... - Obrigado, Grey!

- Não foi nada, cara. Se precisar, sabe que pode contar comigo.

E era verdade. Por mais que eu soubesse que as dúvidas dele seriam, em sua maioria, simples demais para mim, queria ajudá-lo. Alex cresceu comigo e me ajudou todas as vezes que precisei. Se ensinar um pouco de matemática básica era algo importante para ele,então eu o ajudaria. Mesmo que ele perdesse parte do meu precioso tempo, por não focar nas aulas, preocupado com a próxima garota que beijaria nos corredores, nos intervalos...

Quando Alex saiu, voltei para o que realmente importava: a nova temporada de Centaurus começou a algumas horas. O campeonato mundial estava promissor: a Argos finalmente decidira jogar sério, contratando bons profissionais, enquanto Leblon, pela primeira vez, pelejava contra as forças inabaláveis de Sapiena, a maior companhia de jogos de todos os tempos.
Isso sem contar as demais, que ainda esperavam ganhar dos três gigantes. Apenas por um milagre poderiam chegar às quartas de finais... Tolice. Porém, me tiravam do tédio por alguns instantes.

Centaurus consiste em um jogo em que sete jogadores de cada time, formado por dois cavaleiros, assassinos, magos e um curandeiro se enfrentavam em um labirinto cheio de armadilhas e gráficos em 3D. O objetivo, talvez você pense, que seja chegar ao outro lado. Errou. Quer-se chegar ao centro, com a maior quantidade de jogadores ainda vivos. Não há espaço nem tempo para erros. Um jogo de uma única chance. Estratégia e trabalho em equipe são fundamentais para levar um time à vitória.

Analisei os jogadores de cada um dos times do meu querido campeonato mundial. Argos tinha chance. Mas já cansei de apostar nela. Sempre tinha... Só que um pequeno detalhe garantia a ela o título de segundo lugar por dois anos consecutivos: o Healer deles. Não que Jack Courston seja um jogador ruim. Ele está na companhia por algum motivo, afinal. O problema está em sua personalidade desagradável e seu costume de querer tomar a frente o tempo todo. PÔ CARA. TU É HEALER. SUA FUNÇÃO É FICAR JUSTAMENTE ATRÁS. Mas tudo bem.

A Leblon era novata nos mundiais. Não sou de dar muito crédito àqueles que são novos, só que o entrelaçamento do grupo e as estratégias rendiam a eles bons números. Além do mais...

- Grey. - Era a professora de Dinâmica. Pelo tom de voz... De volta para o meu tédio. Tirei os headphones. Guardei o celular. Novamente, pegar a lapiseira, rabiscar números, chegar em resultados óbvios. - Já conversamos sobre isso- apontou para o relógio. Já havia se passado meia hora desde o começo da aula.

- Me desculpa, Samantha. Realmente não percebi.

- Tudo bem... - suspirou fundo, como de praxe. Me entregou uma lista. - Termine-os e pode voltar para... Seja lá o que você estava fazendo.

Muitos alunos me fuzilavam com os olhos. Como se fosse uma espécie de preferência dela - e de qualquer professor. Não. Mérito. É isso que eu tenho. Minhas notas são sempre altas, como se isso valesse de alguma coisa no mundo real. Só que, para essa realidade fictícia de escola, em que dados como esse revelam sua capacidade de sobrevivência, nada era mais importante. Tudo bem. Dou-lhes os dados de que preciso e eles me tiram do tédio. Nada mais justo. Se eles querem receber os "privilégios", simples: sejam inteligentes também.

Olhei para o relógio de novo. Faltava uma hora para acabar a aula. E 40 min para que eu terminasse a lista, se ela estivesse fácil. Congelei minha visão para a folha. E ela para mim. Fácil. Fácil. Fácil. Média. Média. Fácil. Difícil. Difícil. Média. Fácil. Facil. Média. Fácil. Difícil. Difícil.
É... Talvez a Sam estivesse cansada de me ver fazendo nada na aula dela. Usaria todo o tempo para terminar. Que saco.