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No dia seguinte ao seu último encontro com o organista, Taehyung havia chego à ópera mais cedo do que o esperado, por pura ansiedade. O violinista ansiava por ver Jungkook novamente, ansiava por poder, mais uma vez, observar o amado enquanto o mesmo permanecia concentrado escrevendo em seu caderno.

Jungkook chegou algumas horas depois, quando o ensaio já havia começado. E, mesmo concentrado em realizar os atos de seu personagem sobre o palco, Taehyung percebeu que o organista passou todo o tempo em que ele estava ensaiando o observando e escrevendo em seu misterioso caderno.
Ele ficava lindo com aquela gravata de tonalidade vermelha escura, o paletó sobre o órgão, o relógio descansando sobre o bolso do peito esquerdo e as mangas da camisa social branca dobradas, sempre concentrado em sua escrita e no outro músico. Taehyung gostaria de saber o que havia naquele caderno, além da música que Jungkook estava escrevendo.

O ensaio acabou, porém, dessa vez Taehyung foi o primeiro a sair do palco. Não queria ficar sozinho com o organista de novo, pois sabia que no primeiro momento em que se encontrasse a sós com Jungkook, era capaz de revelar-lhe toda a verdade. Apesar de querer se mostrar ao outro músico, o violinista se apavorava com a ideia de ser rejeitado. Ele preferia se esconder mais um pouco, enquanto tinha a garantia de algumas noites de sossego com Jungkook em seu esconderijo, enquanto os dois escreviam. Pelo menos assim, Taehyung tinha a certeza de que passaria alguns momentos ao lado de seu amado sem que olhares de desprezo a si sejam dirigidos.

Taehyung estava pensando em todos estes fatos quando o diretor da ópera convocou todos os atores para um comunicado urgente.
Os mesmos se reunirarm atrás da cortina vermelha, e Taehyung permaneceu ao fundo, enquanto ouviam o chefe se pronunciar:

- Todos vocês sabem da história desta ópera, que foi construída a muitos anos atrás. Por causa de sua idade e de sua história, muitos se recusam a entrar neste local. Porém, recentemente, muitos seguranças vem saindo do seu turno mais cedo, se recusando a fazer a ronda nos subsolos e até mesmo se demitindo, tudo porque um som apavorante passou a rondar o palácio tarde da madrugada. Os funcionários afirmam se tratar de um ser sobrenatural, e que o mesmo acorda os fantasmas presentes nesta ópera. Como se houvessem fantasmas aqui! Os seguranças apelidaram o ser que transmite tal som de Fantasma Da Ópera. Mesmo que seja algo simplesmente ridículo e inimaginável, obviamente, está causando transtorno no funcionamento da ópera. Sendo assim, aquele que encontrar o Fantasma Da Ópera e acabar com a palhaçada deste desgraçado, será muito bem recompensado com o aumento de 100% do cachê. Pois bem, o show começa em cinco minutos, estão dispensados.

Todos os atores se dirigiram de volta aos seus camarins, porém Taehyung permaneceu estático. Ele suava e tremia. Fantasma da Ópera. Se descobrissem que era ele, iriam expulsá-lo da companhia de teatro. Iriam destruir seu refúgio, um dos únicos lugares no qual podia ser ele mesmo. Iriam destruir suas telas, pintadas com tanto carinho e dedicação.
Iriam destruir seu violino, um prolongamento de sua alma. Iriam destruir sua máscara, algo que significava tanto para ele em vários aspectos. Iriam destruir suas flores, criadas com tanto amor e inspiradas em seu amado. Isso com certeza chegaria à faculdade, a qual é parceira da ópera, o que poderia fazer com que ele também fosse expulso e impedido de estudar. Isso faria com que ele não tivesse mais chances de ver Jungkook.

Taehyung não tinha sequer esperanças depois daquele comunicado. Porém, como o bom ator que era, deveria fazer o show continuar. Acabou de se aprontar e subiu ao palco atuando com todo o seu coração, como se fosse a última vez que faria isso. O ator percebeu que Jungkook também o encarou durante todo o concerto, porém seu semblante parecia preucupado, carregado, desesperado. Sua face não carregava aquele sorriso leve e belo da hora do ensaio.

O teatro acabou, os atores agradeceram e Taehyung foi diretamente para seu camarim. Colocou suas vestes normais e esperou a ópera se esvaziar, para então se esgueirar com mais cautela que o normal para seu esconderijo. Chegando lá, pegou seu violino, pôs a máscara em sua face e saiu por uma das entradas distantes e escuras do salão.

E desapareceu.

Enquanto isso, Jungkook esperava aflito em seu órgão. Não havia recebido nenhuma flor ainda. Depois do ensaio, Jungkook havia ido ao camarim falar com Taehyung para finalmente perguntá-lo se era ele o violinista mascarado. Porém, o organista encontrou todos os atores reunidos atrás da cortina, ouvindo o chefe falar do Fantasma Da Ópera de sua ameaça para a companhia teatral.

Jungkook já havia ouvido boatos provindos dos seguranças sobre o Fantasma Da Ópera, e, depois do seu último encontro com o violinista misterioso, ele confirmou que o homem que lhe entregava as flores era o Fantasma Da Ópera.

Enquanto observava Taehyung aflito, tremendo e suando durante o comunicado, Jungkook teve certeza. Taehyung era o Fantasma Da Ópera.

Depois que os atores voltaram aos camarins, Jungkook estava pronto para seguir Taehyung e acalmá-lo. Porém o diretor o enxotou para o órgão, alegando que faltava pouco tempo para o teatro começar.

Jungkook permaneceu a ópera toda completamente aflito, olhando ávido para Taehyung. Ao fim do show, guardou suas coisas o mais rápido que pode e ficou ali até o momento, esperando por uma flor que não aparecia. Por fim, precupado com seu amado, Jungkook decidiu que não esperaria a chegada da flor e saiu em disparada ao esconderijo do fantasma.

Jungkook abriu a grande porta de madeira, adentrando no belo jardim. As flores e as telas estavam lá, porém o violino e a máscara haviam sumido. Sobre o pódio do instrumento, havia apenas mais um pedaço de papel, com uma flor presa a ele. A mesma flor que devia estar sobre o órgão do músico, mas que novamente trazia um inusitado comunicado de seu amado.

Jungkook se dirigiu até o local e pegou o mesmo, começando a ler:

" Acho que você já percebeu quem eu sou. Perdão. Eu tive que fugir. Não posso deixar que retirem minha máscara e mostrem meu eu miserável para todos. Estou com medo. Eu sou patético por fugir, mas não tenho outra escolha. Eu estou com tanto medo, Jungkook.
Tenho medo de que, ao enxergar minha alma desprezível, você também me deixe no final. Eu preciso ir antes que me encontrem. Me desculpe por te fazer esperar. Eu vou dar um jeito, ainda vamos nos encontrar. Por favor, não me abandone, não desista de mim. Apesar de todas as controvérsias, eu ainda te quero.

° Perdão, mas eu não tive coragem de te deixar por completo. Eu disse que vou te encontrar. Se quiser me ver, vá atrás das flores."

Jungkook ficou sem entender, até que viu uma porta no fundo do salão, em um canto mal iluminado.

Com um exemplar das flores que ocupavam aquele imenso jardim preso em sua maçaneta.

As Flores Do Século XIXOnde histórias criam vida. Descubra agora