As Flores Do Século XIX

3°

Jungkook agora chegava mais cedo à ópera, com o objetivo de observar o belo artista. Assim que se instalava no seu órgão, já devidamente vestido e com o relógio posicionado no bolso, pegava seu caderno e continuava a escrever sua peça, sempre lançando olhares de admiração ao ator no palco. Taehyung havia se tornado sua fonte de inspiração. Sempre que se sentia perdido, confuso ou sem capacidade para continuar a história, fixava seu olhar nas belas orbes castanhas do ator. Quanto mais encarava sua imensidão, mais confirmava em sua mente que Taehyung era o violinista mascarado, aquele que lhe dirigia tão belas flores.

De certa forma, sua vivência noturna diária com as flores inspirou o organista na escrita de sua obra. A mesma, que já se apresentava quase completa, conta a história de um homem mascarado, que vive em um "castelo de areia". Sua moradia era assim apelidada pelos habitantes da vila ao seu redor por ter ruínas antigas, por ter sido construída em outro século. Por sua idade, muita poeira era acumulada pelos arredores, dando a imagem de um local abandonado, muitas vezes considerado assombrado. O homem se esconde da sociedade por julgar a si próprio feio, um monstro. A única coisa que ele faz é cuidar de seu jardim. Um dia, uma bela jovem adentra o jardim e rouba suas flores. Irado com o ocorrido, o mascarado vai à cidade em busca de informações sobre a jovem, e descobre que a venda das flores que rouba é sua única fonte de sustento. E é neste momento que ele se apaixona.

O músico ainda não havia conseguido dar continuidade à trama, mas se sentia grato pelo progresso. Percebendo que falta apenas cinco minutos para a ópera, Jungkook fecha seu caderno e volta seu olhar ao palco, no qual só havia Taehyung. Todos os outros atores já haviam se dirigido ao camarim e as portas da ópera ainda não haviam sido abertas ao público, o que fez com que Taehyung e Jungkook se encontrassem sozinhos no grandioso salão do palácio.

O organista, como de costume, ficou um tempo encarando Taehyung, até que o mesmo percebeu e devolveu o olhar. Os dois músicos se encararam até o diretor da peça pedir a Taehyung que fosse se organizar para o início do primeiro ato. Ao ouvir isso, Taehyung simplesmente dirigiu um belo sorriso à Jungkook, se curvou e deixou o placo.

O músico apenas ficou perplexo, olhando o palco vazio. Foi exatamente assim que o violinista mascarado desapareceu em todos os encontros que os dois músicos tiveram. Aquele simples gesto por parte do ator só fez Jungkook ter mais certeza de que ele era o violinista mascarado.

Depois desta conclusão, o organista ficou ainda mais ansioso para o fim da apresentação daquela noite. Seu coração disparava mais do que o custume a cada vez que Taehyung entrava no placo. Quando a ópera chegou ao fim, Jungkook apressado guardou seus pertences e ficou ali, encarando o órgão, esperando pelo manifesto do músico misterioso.  O segurança mais uma vez apareceu e mais uma vez o músico afirmou que permaneceria na ópera por mais tempo. O segurança então, aliviado, seguiu seu caminho pelas ruas de Paris, despreocupado com o som que provinha do instrumento de cordas que o apavorava tanto.

Jungkook não teve de esperar muito até encontrar a tão conhecida flor sobre seu órgão.  Quando a pegou, percebeu que novamente havia um papel preso em seu caule.
Desamarrou o mesmo do caule e percebeu que ele continha apenas uma palavra.

" Siga-nos."

O organista ficou alguns instantes encarando o bilhete, sem entender. Porém quando desviou seu olhar para o chão à sua frente, percebeu que ali havia outra flor. E, mais adiante, havia outra. E mais outra. E outra. Até sumirem pela curva que levava às escadarias principais.

Jungkook então começou a andar pelo caminho anteriormente demarcado, recolhendo as flores quando passava por elas. Caminhou por vários corredores, virou tanto à esquerda quanto à direita, fez mais curvas do que podia contar e desceu várias escadarias, até chegar a uma porta que se encontrava no terceiro subsolo da ópera. Em sua maçaneta, outra flor repousava.