Pontualmente as dez da noite ela me ligou. Dizia muitas coisas de maneira muito veloz, falava que não entendia o porquê de tudo aquilo, mas queria um tempo de nosso relacionamento. Eu só queria um tempo daquele papo.
Não me entenda errado, eu também estava desconfortável com tudo, eu não só queria uma pausa como precisava de uma, mas antes eu precisava mais ainda saber o porquê de todo esse desconforto. Ela desligou o telefone, e nossa pausa foi selada.
Foi aí que eu ouvi minha campainha tocar. "Ding dong"
- Senhor Ratio?! – Um homem estava gritando na porta de minha casa. – Precisamos falar com o senhor Fernando Ratio! – e por algum motivo ele sabia o meu nome.
A voz do desconhecido me era muito estranha, a fala em si era em tom limpo e sereno mas parecia conter dentro de si muitos e muitos sussurros fazendo-a soar como uma revoada de pássaros.
Abri apenas uma fresta da porta, mantendo a corrente do trinco para o caso de o sujeito tentar abri-la a força.
- Pois não senhor. – Disse educadamente. – Sou o Fernando, no que posso lhe ajudar?
- Eu venho lhe fazer uma simples oferta. – Respondeu o desconhecido. Ele era um tanto mais alto que eu e utilizava uma máscara cirúrgica que ocultava a parte inferior de seu rosto. Um longo manto, semelhante as vestes de monges medievais, cobria seu corpo por inteiro, incluindo seus braços, mas ele não utilizava um capuz, mostrando um olhar enigmático, que permeava entre o de um sábio e o de um rapaz jovial.
- Eu não estou interessado em nenhuma oferta! Principalmente a esta hora da noite, peço que o senhor saia, e não retorne. – Respondo enquanto tento fechar a porta, porém, sou impedido pelo pé do sujeito, colocado entre ela e o batente.
- O porquê. – Ele diz estas palavras de maneira fria, enquanto me encara com um olhar pesado, como o de uma águia que anuncia para um coelho que ele está prestes a ser capturado. Estas palavras colocadas de maneira tão objetiva, e cirurgicamente precisa, eram tudo que eu precisava ouvir.
- E-entre. – Como que em uma hipnose, eu abro a porta para o sujeito, e direciono-o para a mesa de jantar, sentando-me no lado oposto visando manter uma distância segura – Antes de tudo, o senhor poderia se apresentar? – Pergunto educadamente.
- Eu sou apenas um simples detentor de conhecimento.
- Mas você poderia me dizer seu nome?
- Nome? – Seu rosto esboça um sorriso. – Não vejo o porquê desta necessidade.
- Você conhece meu nome, eu acho justo que eu saiba o seu também.
- Mas me chamam por tantos nomes em tantos lugares por onde já caminhei, entretanto, se deseja tanto assim uma alcunha, pode me chamar de Edgar Verum, seu querido mensageiro. – Sua voz possui sempre em um tom sereno, e um ar de superioridade, porém sempre há os sussurros no fundo, como se tentassem tirar a credibilidade de sua fala, provocando duvida em quem o escuta.
- Pois bem senhor Verum. – Prossigo, agora sabendo o nome do sujeito, que apesar disso ainda não passa de um desconhecido. – Poderia me contar mais sobre sua oferta?
O mensageiro expressa uma evidente felicidade em seu olhar.
- Mas é claro! Eu vim lhe trazer as verdades que você tanto busca. – Uma de suas mãos escapa de seu manto, utilizando uma luva e segurando um papel. – Claro que isso tem um preço, três simples coisinhas. – Os sussurros começam a ficar mais altos enquanto ele fala. – Primeiro, que assine este papel. – Os sussurros aumentam se assemelhando cada vez mais com ruídos de pássaros. – Segundo que me conceda seu reflexo. – Eles ficam mais altos. – E por último... – Eu tenho certeza que em algum lugar há corvos fazendo barulho. – A sua alma. – Os corvos começam a fazer barulhos ensurdecedores.
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Panteão
ParanormalUm conjunto de contos sobre entidades diferentes de um universo indiferente, assustador, estranho, e sem sentido. Imagem de capa: https://br.pinterest.com/pin/755901118690453849/