23 de maio de 2019.
Faz um fim de tarde lindo aqui de cima. Do telhado que dá para o fundo da minha casa e o quase infinito gramado verde que se estende para todos os lados conseguimos ver o céu alaranjado no horizonte, com nuvens rosadas, arco íris à esquerda e um cheiro de terra molhada incrível. Agora, só ele está aqui do lado, enquanto todos os outros estão lá embaixo se jogando na lama.
— E se nós fossemos logo conhecer tudo isso que tem pela frente? — Ele diz e eu fico sem palavras mais uma vez. Parece que o mundo parou de girar.
14 de maio de 2019.
— Prontinho! — sorrio ao entregar o ticket para a senhora Kath, que todos os dias segue rumo à Dublin no trem das sete e meia da manhã.
— Muito bom dia pra você, Dana! — ela responde de forma educada.
O movimento, como sempre, fica intenso aqui na estação por cerca de duas horas durante a manhã e depois quase não se vê mais ninguém. Nesse pouco tempo em que há maior movimento a estação de trem parece com a de uma metrópole em seu horário mais tranquilo, realmente nada de muito agitado. Na televisão, um programa sobre as plantações das redondezas passa novamente, entretendo pouquíssimas pessoas. É realmente diferente viver em Mullingar.
Levanto da cadeira e ando até o banquinho pequeno que fica a alguns metros da cabine onde trabalho. Em minhas pausas eu prefiro ficar aqui fora e observar um pouquinho como está o dia e, às vezes, conversar com alguma senhora que passa por ali.
Quando paro pra pensar que trabalho vendendo tickets aqui em Mullingar eu fico um pouco desacreditada. A Dana de alguns anos atrás nunca se imaginaria aqui, mas entendo que nessa cidade pequena não se tem muito mais a fazer. E, para ser sincera, é um pouco de prepotência da minha parte, admito.
— Dana! Vem cá, tô precisando da sua ajuda! — Ouço Mary gritar lá da copa. O que essa menina inventou agora, senhor?
Corro para dentro procurando por ela e me deparo com a geladeira apoiada sobre seu corpo, fazendo o maior esforço para não ser esmagada. Aos risos, ajudo-a a erguer a geladeira, perdendo a força algumas vezes ao olhar para a expressão de apavoro no rosto de Mary e rir ainda mais.
— Para de rir, Da, eu não tenho culpa. — Diz ela com o rosto vermelho de tanto forçar a geladeira contra ela.
— Como tu consegues fazer isso, guria? — Falo ainda rindo um pouco, ajeitando a geladeira no lugar e ajeitando minha blusa que havia saído do lugar.
— Eu fui arrastar pra botar o carregador do celular na tomada da geladeira, aí aconteceu isso. — Agora, ela também ri, ajeitando o cabelo, já com vergonha.
— Você ainda vai me matar do coração — Dou um beijo em sua bochecha apertando seu rosto e em seguida voltando para a rua.
O dia está frio, mas nada fora do comum na cidade. Na verdade, o clima é uma das poucas coisas que não mudou completamente na minha vida. Após me mudar de Manchester para cá notei que as coisas estão diferentes em todos os sentidos. Primeiro, por estar em uma cidade em um país diferente - apesar de vizinho. Segundo, por estar sem minha mãe presente no dia a dia. E obviamente: Mullingar é uma cidade do interior e, para mim, que vivia em um lugar movimentado e com milhares de atividades para fazer, é uma grande mudança.
Estou na cidade há oito meses e apesar de adorar o clima e querer muito aproveitar tudo o que ainda não vi da cidade. Nos finais de semana em que tive companhia e disposição para dar uma volta, consegui ir a alguns pontos turísticos da região, mas, na verdade, William não queria muito me acompanhar, pois já conhece tudo.
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Mullingar's way - Niall Horan
FanfictionNa estação de trem, Dana se apresenta. Um festival musical, campos irlandeses, amores e desentendimentos. Dana vive uma vida monótona vendendo passagens de trem na cidade de Mullingar. Em meio a um namoro cômodo, a adaptação a um novo país e a vonta...