Conocerás tus sueños

Vinte e seis

Valentina despertou com o toque suave de Juliana afastando seus cabelos para beijar suas costas. Sorriu antes mesmo de abrir os olhos azuis, desfrutando de todas as sensações que a rodeavam. Estava abraçada a dois travesseiros confortáveis e enrolada em um emaranhado de roupas de cama que cheiravam ao perfume de sua namorada. A chuva caía lá fora e batia contra os vidros do quarto de hotel com paciência e consistência rítmica.

Depois de alguns segundos adiando a missão de despertar, rolou o corpo para o lado e se espreguiçou, sentindo todos os músculos do corpo relaxados. Então, deu de cara com uma Juliana encantada e sorridente sentada na beira da cama.

A estilista já estava pronta para sair. Vestia uma camiseta listrada em preto e branco, jaqueta de couro bege e uma saia preta comprida.

— Bom dia, dorminhoca. — sussurrou a morena, se curvando para dar um beijo rápido em sua namorada — Você não faz ideia do trabalho que tive para acordar a senhorita.

— Buenos días, mi amor. — respondeu Valentina, com uma voz arrastada e preguiçosa — Eu confesso que estou um pouco decepcionada em saber que você já está fora da cama faz tempo.

— Eu também fico decepcionada, mas preciso trabalhar. — argumentou Juliana, observando enquanto Val, sem fazer menção de levantar, arrastou a cabeça até seu colo e seguiu deitada encarando o teto.

— Você vai trabalhar de verdade ou devo te esperar na hora do almoço para voar de balão ao redor da Estátua da Liberdade? — brincou Valentina, rindo para ela.

— Que engraçadinha. — disse Juliana, estreitando os olhos e sacudindo a cabeça negativamente — Adoraria passar outro dia inteiro com você, mas tenho muita coisa para resolver. Teremos um almoço com os patrocinadores do evento, prova final com as modelos, últimos ajustes, e...

— Calma, garota. — interrompeu Valentina, apoiando as mãos no colchão e sentando em um impulso — Era só uma brincadeira. Eu sei que o desfile é amanhã e você provavelmente vai passar o dia ocupada.

— Desculpa. Estou nervosa. — confessou Juliana.

— Eu sei. — disse Valentina, com a suavidade acolhedora da compreensão — É uma reação normal a uma oportunidade incrível. Mantenha em mente que vai dar tudo certo. Você trabalhou muito duro nos últimos meses, e eu estarei lá segurando a sua mão.

— Vou tentar me acalmar. — assegurou Juliana, encostando a testa no ombro de Val — O que eu faria sem você?

— Não sei, e espero que você não descubra. — brincou Valentina, com os lábios colados ao ouvido da morena, que respondeu com uma risada alta.

Juliana afastou seu rosto lentamente, enquanto os dedos se enrolaram aos cabelos claros de sua namorada. Vivia uma daquelas epifanias que vez ou outra surgem em relacionamentos que colecionam meses até se prolongarem por anos: a percepção de que o amor recebido é uma espécie de patuá. Com o passar do tempo, os cuidados do outro são proteção. O afeto não se manifesta mais apenas em toques e palavras, mas em tudo aquilo que transborda nas entrelinhas — a paciência e o incentivo; a coragem e o alento; a compreensão e o silêncio.

Tudo que as religiões descreveram como Deus é, na verdade, o amor.

— Val? — chamou Juliana, com a voz baixinha.

Valentina apenas a encarou, com os olhos brilhantes e atentos.

— Obrigada. — sussurrou a estilista, antes de encostar seus lábios nos dela com a ternura de quem manuseia o tesouro mais frágil do mundo.