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Se um dia a minha alma voltar, entrego a ela minha memória, pois o sentimento mais inesquecível que adquiri um dia, foi a amizade. E então, a daria mais valor.

2020, 4 de fevereiro.

Antes da reunião, que se resultou no meu afastamento, os seis me acharam desmaiado no banheiro.
Abri os olhos e Namjoon estava me dando tapinhas no rosto, enquanto Jimin enchia um copo com água.
"Yoongi, o que houve?" Seokjin foi o primeiro a falar. "Você saiu correndo do estúdio e o achamos desmaiado aqui."
Nesse tempo, a porta se abriu em um estrondo.
"Yoongi!" Jihyo entrou acompanhada de hongjoong.
"Foi só uma queda de pressão." Menti
"Por qual motivo você vai continuar mentindo, hyung?" Daquela vez, notei a voz de Jimin como nunca havia escutado antes. "Nós somos seus amigos, e agora você está com essa dor no ombro que ninguém sabe o que aconteceu!"
"Eu caí da escada, mas não quis falar nada." Menti novamente.
"Hyung, chega de mentiras! Nós ouvimos hoje, 'tá bem?" Taehyung quem tomou a frente. "Eu, Jimin e Jungkook. Nós três ouvimos."
"O que? O que vocês ouviram?" Hoseok os encarou, esperando pela resposta.
"Tae..." Jungkook se encolheu no cantinho do banheiro.
"Não, Jungkook, o Yoongi está se matando e não estamos fazendo nada! O que você estava fazendo no banheiro de madrugada, hyung?"
"Eu-eu.."

Me levantei rapidamente do chão, sendo ajudado por Namjoon quando me senti tonto.
"Puta merda, dor de cabeça insuportável." praguejei.

"Yoongi, o que você estava fazendo no banheiro?" Hongjoong se aproximou.
"Não é como se vocês realmente precisassem se importar agora." Endireitei minha coluna e fui em direção a porta, sendo parado por Jihyo.
"Quando a gente não se importou com você Yoongi?" Jihyo tinha seus olhos cheios de lágrimas.
"Eu sempre te apoiei em tudo, Yoon." Jimin ainda possuía o copo em suas mãos, e não fazia contato visual.
"Chega! Eu não quero ouvir! Qualquer palavra que saia da boca de vocês não vai me adiantar de nada, no final são só palavras. E que porra de palavra vai me ajudar? 'Vai ficar tudo bem?' Não vai porra! Eu não vou ficar bem!"

Me apresso até a porta de novo, mas sou parado no meio do caminho.

"Você disse que o paraíso é um lugar na terra em que esteja com a gente." Seokjin segurou meu braço e olhou em meus olhos. Os seus tomados por lágrimas, que me destruíram por inteiro.
"Eu amo vocês. E por amar tanto, eu não posso continuar aqui. Eu não suporto fazer vocês chorarem. Eu não suporto ser eu mesmo. É o melhor a se fazer." Seokjin afrouxou meu braço, e por fim, consigo me retirar do banheiro.

Saio correndo pelos corredores, com a certeza que minhas oito metades, jamais me perdoariam.

No caminho para o elevador, sou chamado até a sala do PD, onde ouve a reunião.

- Então, você os afastou? - O médico pergunta.
- Sim. - Respondo chorando, lembrar ainda doi.
- Mas eu ainda tenho uma dúvida. - Coloca seus cotovelos na mesa. - O que os meninos ouviram?
Congelo.
- Eu-eu - Gaguejo.
- Yoongi, nada do que você falar vai sair daqui. - Ele tranquiliza.
Respiro fundo, com lágrimas ainda rolando.
- Me ouviram chorar. - Soluço. - Após tentar me matar.

- Como foi? - Ele anota em seu notebook.

- Tomei todos os remédios de Jimin. Ele tem uma bolsa que deixa no estúdio, cheio de diversos. Eu peguei no dia. E eu sei que foi errado, eu sei. Mas eu simplesmente não aguentava mais. Eu não aguento.

Já não tenho mais controle, minhas lágrimas são liberadas, afoitas.

- O que você pensava na hora? - O médico agora me encara.
- Que eu sou um merda. Não sei o motivo de estar existindo. Eu não aguento ter que lutar por algo incerto, que algum momento eu posso não ter nada. E eu estou sem forças. - Coloco minhas mãos em meu rosto, tampando por estar tão nú.
- Eu só atrapalho. No nosso primeiro show, eu não consegui subir no palco. Fiquei trancado no banheiro, e eles desistiram de se apresentar. Eu não posso continuar os impedindo de realizar seus sonhos. - Respiro fundo e me recupero.
- O que você pensou quando estava trancado no banheiro? - Ele volta a anotar em seu notebook.
- Nas pessoas. Nos olhares. Nos julgamentos. Nas pessoas. - percebo ele entender algo. - Nas luzes. Nas câmeras. Nos staffs. No sonho dos meninos que estavam nas minhas mãos. Na pressão.
- E isso tudo te consumiu? - Ele pegunta.
- Uhum. - Levo meu dedão até a boca.
- Voltando para o assunto do banheiro, por que desistiu de continuar seu planejamento?
E essa pergunta me pega de surpresa.
- Não sei. Quando eu percebi o que tinha feito, coloquei tudo para fora e comecei a chorar. - Volto a chorar.
- Quando você percebeu? - Ele volta a me encarar.
- Quando eu ouvi a risada do Jimin, Jungkook e Taehyung. - Limpo meu rosto com o lenço, molhando todo o papel. - Eles estavam no quarto, jogando algum jogo idiota. Eu não poderia fazer aquilo ali. Não quando eles poderiam chorar.

- Então você desistiu por eles? Isso quer dizer que você viveria por eles?
- Não. Eu não viveria. Eu não quero viver.
- Como você se sente quando pensa que se não estiver mais aqui, seus amigos, não só Taehyung, Jungkook e Jimin, como os outros cinco, e seus familiares, sentirão sua falta todos os dias?
- A falta é algo que eles podem superar. Um dia vão. Mas essa dor não se compara com a dor que um morto ambulante propaga. Destruo e deixo com vermes. Propago minhas feridas escuras para quem amo. E eles são consumidos pela necrose.

- O que seus amigos acham disso?
- Eles não sabem. Eu nunca contei. Eles não sabem nem metade da minha vida. Eu nunca os deixei entrar. - Descarto o lenço encharcado e logo o médico se levanta, colocando a caixinha na minha frente. Pego dois lenços e me limpo.

- De todos eles, eu era mais próximo de Jimin. Nós conversávamos todos os dias, contávamos coisas um pro outro que não contávamos para mais ninguém. Sentíamos conforto e abrigo. E saber que o magoei me destrói. É uma dor que eu estou fadado a carregar comigo. Hongjoong mesmo não sendo do nosso grupo, como Jihyo, sempre deixou claro que estaria presente para o que eu precisasse. Jihyo também, ela é a única mulher do ciclo de amizade, eu tenho um respeito enorme por ela. Taehyung e Hoseok são minha alegria. Eles se juntam e sou possuído por um espírito de risadas. Eu amo a autenticidade dos dois. Taehyung perdeu alguém, assim como eu, e isso nos aproximou muito. Jungkook é um pontinho curioso. Ele sempre aparecia de vez em quando mas nunca deixando de falar o quanto se importava comigo, com todos nós. Namjoon eu tenho certeza que é o mais magoado, embora eu tenha falado muita coisa, eu sei que Namjoon se importa mais com atitudes, e esse é um perdão que eu nunca vou ter. - Suspiro fundo.
- E o seokjin. - Começo a chorar mais e mais. - Seokjin é meu parceiro de tudo. De micos até a duetos. Bom, agora você pode colocar tudo o que eu disse no passado, pois eu não tenho mais ninguém.

- E você acha que eles não vão te perdoar pelo o que aconteceu no banheiro do estúdio? - O médico pergunta.
- Eles não vão me perdoar pelo acúmulo de situações. Pelas mentiras. E por eu ser assim. Eu nem sequer os contei o que aconteceu com meu ombro. E eu nem sei o motivo! - Aperto meu ombro, me lembrando do acontecido.
- E o que aconteceu?

O que aconteceu?
Eu fodi minha carreira.

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