Paralyzed

209 42 24
                                    

Dizem que um dançarino morre duas vezes, e a mais dolorosa, é quando ele para de dançar.
Mas eu não sou dançarino, somente vivo da música.
E a minha morte mais dolorosa, foi dizer adeus a ela.
Foi dizer adeus à música, junto com a minha fé.
Me tornei paralisado, por não querer viver, mas ter medo de morrer.
A dor me tornou vivo, e vivi por ela.
Mas até quando se pode viver por algo que consome sua alma aos poucos?
O verdadeiro eu, que está perdido, quem sabe um dia alguém o encontre.
Pois eu estou perdido, e isso me mata por dentro.

2020, 06 de fevereiro

Depois de me retirar do banheiro, fui chamado para uma reunião com o PD.

"Min Yoongi!" Ele me recebeu com uma feição não muito agradável.
Não o respondi, apenas entrei em sua sala e me sentei a sua frente.
"Yoongi, creio que você saiba o motivo de estar aqui." Ele estava estirado em sua cadeira, confortável.
"Na verdade, eu não sei." Respondi.
"O senhor tem faltado ensaios, semana passada te tiraram de dentro do estúdio desmaiado. Sem contar nas diversas vezes que os staffs te obrigaram a comer alguma coisa." O PD disse, daquela vez com o olhar preocupado.
"Não posso permitir isso em minha empresa."
"O que? Eu vou ser demitido?" Aumentei minha voz.
"Eu sinto muito, Yoongi. O senhor tem um talento excepcional, mas não posso ter alguém com riscos a si ou a outros, dentro da minha empresa."
"Eu sou um peso morto. Entendi." Me levantei e fui até a porta.
"Yoongi! Cuide de si mesmo. Nós sempre estaremos de porta aberta para você!"
"É claro que estarão." Revirei os olhos e sai de sua sala, batendo a porta.

Novamente meu corpo começou a pegar fogo, me apressei a sair do prédio, e ao chegar na rua soltei um grito, me ajoelhando na calçada. Meu ombro latejava, mas essa dor não era a pior no momento.
Eu havia perdido o que tinha de mais precioso.
A partir desse momento, decidi que voltaria para casa e faria alguma faculdade que meus pais quisessem.
Seoul não era para mim.
Pequenas pessoas não suportaram a grandeza das explosões.
Amar oito pessoas e a música eram minhas explosões.
E naquele momento, eu decidi travar minha bomba, desistindo de todos os lados.
E essa foi a minha morte mais dolorosa.

- Depois de tudo, eu decidi que a vida em Seoul não é para mim. Eu desisti de viver em Daegu por ser jovem e inconsequente. Mas não vale a pena. - Retiro outro lenço da caixa, secando meu rosto.
- E o que você pretende fazer agora? Musica? Você mencionou faculdade, qual você deseja?
- Música não, essa é uma parte da minha vida que não existe mais. Faculdade? não sei. Só de pensar que uma hora eu vou precisar encarar uma bancada de professores para apresentar um trabalho que define se eu me formo ou não, me faz querer ficar na minha cama e nunca mais sair. - Digo respirando fundo.
- Yoongi, você tem um grande medo de ser julgado, por isso você se isola e não deixa ninguém se aproximar.
- O que você quer dizer com isso? - Levo meu dedo até minha boca e sinto o gosto do sangue.
- Que você tem fobia social, Yoongi, e ela está te deixando em estado depressivo e ansioso.
Não tenho reação.
O médico começa a receitar diversos remédios e eu apenas flutuo pela sala.
- Você quer falar com seus pais sobre? Se você quiser eles podem entrar e eu converso com eles. - Ele me pergunta.
- Tudo Bem, pode deixá-los entrar.

O médico se levanta até a porta e chama meus pais.
Meus pés começam a se movimentar para cima e para baixo, tremendo. Minha cabeça explodindo.
Eles sentam ao meu lado e o doutor assume sua cadeira atrás da mesa.

- Senhor e senhora Min, o Yoongi está em um quadro de fobia social, e isso está se transformando em uma depressão. - O médico começa.
Ouço minha mãe começar a chorar e meu pai segurar em suas mãos.
- Eu não entendo, ele foi para onde quis. Não o prendemos. Sempre demos tudo o que ele precisou, nunca o faltou nada.
- Eu não espero que você me entenda, mãe. Eu também não entendo, então não posso cobrar isso de você.

O médico assume as palavras, explicando a meus pais o significado da doença e o tratamento acompanhado por terapia.
Essa que não vou fazer.

Minha mãe pega as receitas e nos despedimos do psiquiatra. Entramos no elevador e Geumjae segura minha mão.
- Você vai ficar bem, irmãozinho.
Ele a solta, e a porta de abre.
Saímos do elevador e me viro para os três.
- Eu vou andando. - Digo, apertando minhas têmporas, buscando algum alívio.
- O que? É muito longe! - Minha mãe diz.
- Tudo bem, querida. Ele precisa pensar. - Meu pai segura em seu braço.
- Eu amo vocês. - Falo e puxo os três para um abraço.

Nos afastamos, coloco meu capuz na cabeça e enfio minhas mãos no bolso de meu moletom.
Ando pelas ruas de Daegu reconhecendo cada partezinha de lembranças.
O primeiro beco em que fiz minha batalha de rap. Eu era conhecido como Gloss.
Ando por ele, olhando pelas paredes procurando uma marca.
"O medo é ladrão de sonhos"
Cada vencedor podia escrever uma frase na parede, como marca da vitória.
Essa foi a minha. Da minha primeira batalha.
O meu eu jovem que sonhava em ser um grande rapper.
Eu sonhava demais.

Continuo meu caminho e paro na cafeteria que sempre passava depois da escola.
E o encontro.
A doação que minha mãe fez a alguns anos atrás.
Ele ainda está na mesma posição, com um pouco de acúmulo de poeira.
O olho pelo vidro, sem coragem de encara-lo de perto.
Sem coragem de olhar para meu primeiro amor.

Sem coragem para me encontrar.







Migraine Onde histórias criam vida. Descubra agora