Lilac: Uma Aventura Espacial

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"Lilac acreditava que estava fadada a virar uma guerreira e lutar pela sua tribo, mas o destino tinha outros planos para ela."

Sua tribo vivia tempos de dúvida; todos apresentavam uma marca negra em seu futuro, menos Lilac. Interpretando a ausência da marca como um mau presságio, ela perdeu a sua herança à liderança e foi limitada a treinar apenas sob supervisão do leitor das estrelas ou da líder da tribo, sua mãe. Com a chegada de visitantes desconhecidos, aquela que antes era vista como uma ameaça agora é a única esperança não só de seus companheiros, mas de todo o seu povo.

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      Lilac odiava aquele mercado. Para todo lugar que olhasse, havia pelo menos um escravo a venda ou trabalhando; as vezes, até ambos. Ela não estava nem um pouco surpresa; o maior centro comercial do espaço também era um dos mais escravocratas, mas pensar que inúmeras vidas eram tratadas do mesmo que a sua tribo manuseava a colheita... A criatura amarelada repudiava sequer pensar nisso. Se fosse por ela, todos os cativos seriam soltos e os seus senhores, presos; mas isso não dependia dela. De acordo com a Constituição Interestelar das Nações Unificadas, ou o Código Estelar, qualquer raça que não seja avançada o suficiente é taxada de selvagem e, consequentemente, pode ser comercializada. Se alguém tentasse escravizar um Cidadão, por outro lado... Haveriam sérios problemas.

      — Lilac! Pare de observar a paisagem e me ajude a descarregar estas caixas! — chamou Grotto, já usando seus quatro braços para tatear e pegar as cargas.

      Ela parou de observar o porto e encarou o amigo, ainda um pouco irritada pelo dia-a-dia daquele lugar horrível. A criatura malhada pegou a caixa mais pesada que conseguia carregar e, usando a sua longa cauda para se equilibrar, levou-a para o ponto de descarregamento, voltando para pegar mais. Ao colocar a última carga, Grotto a oferece um passeio até um restaurante próximo. Feliz por sair de perto do centro escravocrata da cidade, Lilac aceitou.

      No meio do caminho, a dupla avistou um Cidadão discutindo com o seu criado. Lilac espiou a cena com desgosto: uma carroça cargueira estava estacionada na rua, com algumas caixas jogadas pelo chão; algumas, abertas. Ela pôde ver que se tratavam de vários itens diferentes, com alguns ocasionais saquinhos cheios de dinheiro espalhados pelos paralelepípedos. Obviamente tratava-se da propriedade de um vendedor frequente das Docas, como o mercado daquela cidade era popularmente chamado.

      — Eu disse para você amarrar estas cargas direito, não disse? Ou sou eu que tenho que fazer tudo por aqui? Acha que eu te dou um teto e comida de graça? Você está aqui para trabalhar, me entende? PARA TRABALHAR! — dizia o senhor, furiosamente apontando para as caixas e para o cinto, solto, que deveria manter as cargas no lugar.

      — Senhor, eu as amarrei! É que o suporte já está velho, e estamos em uma colina, então...

      — VOCÊ ESTÁ ME CONTRARIANDO? — vociferou, empurrando o vassalo para o chão.

      — Não! Não! Eu só estou dizendo que o cinto que o senhor tem já está gasto; não aguenta mais o peso das mercadorias! Não foi minha culpa! — explicava o escravizado, chacoalhando os seus braços em negação e desespero.

      O mercador se ajeitou, parecendo mais calmo. Foi até o suposto cinto de má qualidade e o analisou, tirando-o da carroça para olhar mais de perto. Ele se virou serenamente para o submisso, ainda no chão, e sorriu.

      — Este cinto é de má qualidade, você diz? — o senhor falou, com uma voz contida.

      A dupla já estava deixando a cena para trás, mas a alienígena amarelada ainda conseguia ouvir tudo perfeitamente com as suas grandes orelhas, sensíveis ao som.

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