Capítulo um

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Assim como um dia após o outro, estava no ônibus a caminho do trabalho, sentada no lado da janela. Como eu já disse e impossível você não ter percebido, eu penso demais sobre as coisas e em qualquer lugar que eu esteja, gosto de olhar as pessoas a minha volta e observa-las, como é a sua roupa, seu cabelo, os chaveiros de desenho animado pendurados na mochila, o seu rosto.

O banco ao lado estava vazio até então, porém quando o ônibus parou e entraram algumas pessoas, uma garota de cabelos curtos azuis sentou ao meu lado.
A única coisa que prestei atenção foi seu cabelo, não deu tempo de olhar seu rosto e reparar no que vestia. Minha cor favorita não é azul, mas eu sempre quis pintar meus cabelos dessa cor, mesmo que a minha predileta seja amarelo. Eu gosto muito de azul.

Toda vez que estou indo para o trabalho, coloco meus fones de ouvido e ponho uma música Indie para tocar, principalmente Daddy issues do The neighborhood, combina muito com o clima melancólico às 6:00 da manhã sentado no ônibus olhando o caminho através da janela até chegar a uma livraria, que é aonde eu trabalho à 4 anos. Aliás eu tenho 19 anos, eu sei que soa muito coisa de terceira idade quando alguém diz que trabalha em uma livraria. Mas minha tia Ally me deu essa vaga de emprego quando eu tinha a acabado de completar 15 anos, fiquei imensamente feliz por finalmente ter meu próprio dinheiro, mas com o passar do tempo, percebi que trabalhar não era tão legal assim, que as coisas estavam se tornando cada vez mais monótonas, todo dia era a mesma coisa, isso até hoje. Mas eu já me acostumei com essa rotina, até porque eu preciso fazer alguma coisa ao invés de ficar em casa morrendo de tédio, já que os meus dias estão cada vez mais sem graça.

tirei meus fones de ouvido um pouco pois já estava me dando dor cabeça, foi quando olhei para o lado e percebi que a garota lia um livro, "O bangalô" é um dos meus livros favoritos, de romance e suspense, que me fez chorar as três vezes que o li.

- esse livro não deveria acabar nunca, ele é realmente muito bom. - comentei com a garota interrompendo sua leitura de forma amigável. Eu queria realmente olhar para ela e ver seu rosto.

- eu não gosto muito de livros de romance, mas esse... - e então ela olhou para mim pela primeira vez, seus olhos azuis encontraram os meus e me fez sentir totalmente congelada por dentro, me fez perder a linha de raciocínio e esquecer até o que eu havia dito a ela segundos antes. 

- esse me chamou atenção, acho que vale a pena ler até o final e saber o que acontece com eles dois -ela sorri, me encara por mais alguns segundos e volta o olhar para o livro.

Fiquei em silêncio sem saber o que responder, e percebi que seus olhos são tão intensos que nem ao menos prestei atenção de como era seu rosto de verdade. A maneira pela qual ela tinha olhado para mim foi diferente, me deixou em êxtase e sem resposta.

O ônibus parou e a garota se levantou para ir embora, deu alguns passos em direção a porta mas virou para trás e olhou para mim mais uma vez.

- Meu nome é Kristen, prazer em conhecê-la, Liz. - deu um sorriso de canto, virou-se e desceu do ônibus.

Olhei a garota ir embora através da janela, ainda me perguntando como ela sabia o meu nome sem eu ter ao menos falado a ela. Ela vestia uma camiseta preta, calça jeans escura e larga, um all star preto e um sobretudo vermelho-vinho, gosto da maneira em que ela se veste. Seus cabelos azuis ao sol ficavam ainda mais azuis, e além dos seus olhos, foi o que mais achei bonito nela.

O seu rosto não saía mais da minha mente, a todo segundo me arrepiava e me lembrava do momento em que ela olhou para mim e seus olhos engoliram os meus em menos de um segundo. Espero encontrá-la de novo, Kristen.

Eventualmente tudo se conectaOnde histórias criam vida. Descubra agora