Capítulo dois

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- Não acredito que você está sem blusa de frio outra vez, Liz! olha o gelo que está aí fora, entre logo! - berrou a tia Ally enquanto abria a porta da livraria quando cheguei. Dei uma risada como sempre e ela me cumprimentou com um beijo na testa.

A tia Ally sem dúvidas é a pessoa mais importante para mim, depois do meu irmão Louis e meu pai Rob, claro. Foi ela quem me ajudou a superar toda a fase sofrida e deprimente que passei quando minha mãe faleceu. Mamãe era doce e simples, era tudo que eu tinha, e além de tudo, minha melhor amiga. Ela se foi depois de meses lutando contra um tumor cerebral e todos os dias me lembro da última vez em que conversei com ela no hospital, antes da sua última cirurgia.
- Eu sempre vou estar com você, em qualquer lugar que seja, eu prometo a você, filha. Nós somos melhores amigas, e melhores amigas ficam juntas para sempre. - eu senti a mamãe segurando minhas mãos com força e seu olhar sincero mas também de desespero. - eu te amo do tamanho de todo o universo, Liz, jamais se esqueça disso. -disse ela antes de a levarem para a sala de cirurgia. Isso já faz 7 anos e a mamãe nunca voltou. Nada preenche a falta que sinto dela.

- Acho que alguém ainda está com sono -disse Ally rindo de mim ao me ver arrumando os livros devagar e desanimada. - Você pode organizar essa prateleira depois se quiser querida, não precisa de tanta pressa...

- Sinto a falta dela, tia. - eu disse
 
- Ah meu bem... eu sinto falta de Emma tanto quanto você... o amor e a alegria que sua mãe trazia era único, mas ela sempre vai viver dentro de nós duas. Sua mãe era uma benção grande demais para esse mundo tão simples e pequeno. - disse tia Ally que em seguida veio para perto de mim e me abraçou, passando seus dedos eu meus cabelos castanhos e ondulados como sempre fazia quando eu estava triste.

- Obrigada tia, por sempre me confortar quando preciso, principalmente quando se trata da mamãe...

- Minha Liz, sempre estarei aqui quando precisar, não tenha dúvidas disso, querida. - disse Ally para mim com seu olhar de sinceridade e carinho.
Ouço o barulho da porta se abrir rapidamente.

- Mas que livro CHATO! de todos que você me indicou esse sem dúvidas foi o pior! -berrou Gus ao entrar na livraria com tanta rapidez e disposição às 7:00 da manhã. Nem eu tenho tanta energia a essa hora do dia.

- Ah Gus, por favor, esse não é tão meloso! -respondo com ironia

- É super entediante! esse foi o que mais me deu sono. - diz ele com seu deboche de sempre.

- Não parece, já que está aqui a essa hora, me enchendo o saco desde manhã! - grito dando risada e ele também.

- Vocês deveriam se casar! não aguentam ficar um segundo no mesmo ambiente sem irritar um ao outro! - Ouço tia Ally berrar do fundo da livraria - Foi assim que eu e seu tio John acabamos juntos! 50 anos aturando aquele velho chato!

Eu e Gus damos risada e ele me da um soco de leve no ombro.

- Um novo livro vai, mas dessa vez um DESCENTE! nada de romances. - diz ele.

- Você é insuportável. - digo bufando - Esse é de suspense, "Não fale com estranhos" do Harlan Coben, se você não gostar, eu desisto de vez! Não tenho culpa se você não sabe apreciar livros bons.

- Ah eu darei mais uma chance a você, cara Liz, dona de um gosto tão ruim para livros! - diz Gus com ironia enquanto pega o livro.

- Senti sua falta, cowboy. -digo me contendo para não rir.

- Foram só duas semanas! não deu tempo de comprar meu look country! - diz ele rindo e em seguida ri também. - O vovô disse que você poderia ir lá quando quisesse, que sente falta de nós dois correndo ao redor da fazenda atrás das galinhas... coitadas, uma vez matamos uma de susto.

- Aquele dia foi épico! -digo dando gargalhadas. - Um dia voltamos lá, duvido que depois de adultos, não iremos repetir essa cena.

-Ah, mas nós vamos! -responde Gus animado- Se cuida Liz.

- Se cuida Gus, estou de olho em você! - digo gesticulando e dou um sorriso.
Gus sorri e vai embora.
Eu o conheci assim que comecei meu trabalho na livraria, num dia em que ele veio aqui e precisava de um livro de Matemática e sem perceber eu o dei um de Biologia, mas nem ele mesmo notou. No outro dia veio me devolver dando muitas risadas e em seguida ri junto por perceber que dei o livro errado.

"- Como você não percebeu que estava errado, moça? quem consegue confundir matemática com biologia?" -ele perguntou rindo sem parar

"- Cala a boca, nem você mesmo percebeu na hora!" -eu disse grosseiramente mas gargalhando junto com ele.

Minha falta de educação e atenção no segundo dia de emprego me trouxe ao menos uma coisa boa: a amizade de Gus.

Percebo que não comentei com ele sobre a garota do ônibus. Tudo que acontece na minha vida conto para Gus, nós sempre fomos assim, contamos um para o outro qualquer novidade, seja ela a mais simples ou desnecessária possível.
Desde que acordei até este exato momento, eu tenho pensado nela várias e várias vezes, mesmo que já tenha feito algumas semanas que a vi aquele dia.
É estranho o quanto eu penso em Kristen e o quanto o nome dela me dá frios na barriga. Foi só uma menina que vi no ônibus uma vez, não tem o porquê disso... e a minha vida toda sempre gostei de garotos.

Mas ela não sai da minha cabeça nem por um segundo. E isso me tortura.


















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⏰ Última atualização: Mar 28, 2020 ⏰

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