Senhores da Morte

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Despertando ao mesmo tempo que Devika, eu pisco algumas vezes, adaptando novamente minha visão. Parece ser noite, e estou coberta por lençóis de cetim escuro, promessas de prazeres e risos noturnos sussurram em meus ouvidos, e logo me vejo desembolando das cobertas e pulando da cama. Sem surpresa alguma eu caio, minhas pernas ainda não aguentam meu peso depois de tanto tempo. Tento respirar por alguns segundos e agora posso perceber que a Guardiã loira me encara com um sorrisinho de canto.

- Não me olha assim. – sussurro com uma voz que mal reconheço, parece vir do fundo de uma caverna, rouca pelo desuso – Eu já queria voltar.

- Se você diz...

Como sei que não vou conseguir levantar agora, decido pousar a cabeça na cama e continuar no chão.

- Quer ajuda? – pergunta Devika.

- Não, eu consigo.

- Se você diz...

Reviro os olhos e deito no chão de bruços, empinando o bumbum e apoiando o braço no chão para sustentar meu corpo quando eu levantar. Estou prestes a dar o primeiro impulso quando escuto a porta do quarto abrir, seguido de um silêncio sepulcral, sendo quebrado apenas pela risadinha de Devika, eu sei o que vou encontrar se virar para trás, e só quero enfiar minha cabeça em um buraco.

- Por que eu não morro logo? – sussurro irritada.

- Lyla? – ouvir aquela voz depois de tanto tempo causa arrepios por todo meu corpo, e só posso desejar não estar em uma posição tão comprometedora.

- Ela não está. – respondo me jogando de volta no chão, e escondendo o rosto no carpete escuro.

Algumas passadas depois e logo sou recolhida do chão por mãos grandes, pousando em um colo que conheço muito bem, e encarando um sorridente Aurom. De canto de olho posso ver Devika sair na ponta dos pés, nos deixando sozinhos nesse quarto que emana seu cheiro por todo lado.

- Eu nunca fui recepcionado tão bem em toda minha vida. – sussurra no meu ouvido, causando mais arrepios, e acelerando meu coração.

Ignorando-o eu começo a sacudir meu corpo até que ele, entendo o que eu quero, me ajuda a chegar ao chão, ainda rodeando minha cintura com seu braço, que eu insistentemente tento tirar.

- Você pode me soltar agora. – resmungo irritada.

Seus dedos seguram meu queixo com delicadeza e erguem minha cabeça, me deixando refém do olhar apaixonado com o qual ele me encara.

- Meu amor, você não tem para onde fugir. Você pertence à aqui. – pousa minha mão em seu peito, onde posso sentir seu coração acelerado – E eu pertenço a aqui. – pousa sua mão no meu, que me denunciando salta fortemente dentro de mim.

Desisto da minha postura difícil e pouso a cabeça em seu peito com um longo suspiro. Agora que estou com ele posso respirar com liberdade outra vez, e o anseio que me dominava há alguns minutos esmaece a cada segundo.

- Você me deixou. – digo com voz embargada – Eu pensei que tinha me abandonado.

Ele me aperta mais, e pousa a cabeça em meus ombros, respirando em meu pescoço, causando sensações estranhas em mim.

- Você me trancou do lado de fora. – diz baixinho, dando singelos beijos atrás da minha orelha, fazendo eu esquecer tudo, exceto a textura dos seus lábios e o sopro de sua respiração – Quando você caminhou até aquele púlpito, como uma deusa, bela e destemida, eu entrei em desespero – ao falar isso ele me aperta mais – Eu não sabia se a essência de Sanya estava realmente em você, e não importava como eu tentasse quebrar o véu entre os mundos eu não conseguia, só me era permitido atravessar à meia-noite daquele dia.

Surpresa eu levanto a cabeça e encaro os olhos escuros.

- Mas naquela noite, quando você me trouxe aqui... Eu pensei que...

Uma risada divertida escapa de seus lábios.

- Naquela noite você finalmente se entregou e parou de fugir de mim. – ele dá um suave beijo em minha testa e se afasta alguns centímetros – Eu não tinha o poder de usar seu corpo para abrigar o espírito dela. O espirito dela se foi, o que permaneceu no mundo mortal foi parte de sua essência, mais especificamente o seu Dom, que escolheria outra para se hospedar. Eu não tinha como influenciar em nada. – ele dá de ombros – Agora quem ele escolheria... É uma questão de sorte.

Semicerro os olhos o encarando.

- Então quer dizer...

- Que quando a maldição foi quebrada eu fiquei tão surpreso quanto você.

- Ah... Interessante... – digo surpreendida.

- Eu nunca fiquei tão perdido quanto nos dias depois que você me expulsou dos seus sonhos. Acho que foi a primeira vez que você usou seu Dom, e ainda como humana. Claro que eu não percebi. Eu só conseguia pensar no motivo pelo qual você fez aquilo, e quando entendi eu não consegui chegar perto o bastante para explicar. – ele me encara com certa tristeza – Perdão.

Balanço negativamente a cabeça, um sorriso irônico em meus lábios.

- Eu não deveria ter reagido daquela forma. – digo arrependida – Me desculpa.

Me erguendo em seus braços Aurom me leva até a larga poltrona, sentando comigo em seu colo. Pousando a cabeça em meus ombros ele começa a respirar suavemente.

- Senti falta do seu cheiro. – então sinto sua língua cruzar meu colo até chegar em minha orelha, onde dá uma pequena mordida – E eu adoro seu gosto.

Com arrepios e mais arrepios subindo pelo meu corpo só consigo suspirar e murmurar frases desconexas, um anseio diferente cresce dentro de mim e tento segurar mais forte em seus ombros. Ergo a cabeça e encontro seu olhar, negros como duas poças de noite estrelada, com sussurros de desejo e amor. E logo nosso lábios se encontram, causando uma tempestade de sentimentos em mim, bons sentimentos.

Me afastando para respirar, sinto seus lábios descerem novamente até meu colo, e com um sorriso de canto consigo entender a palavra que sai tantas vezes de seus lábios a cada beijo.

- Finalmente...

Do Outro Lado do VéuOnde histórias criam vida. Descubra agora