As noites têm sido mais longas que os dias e a sensação de perigo eminente não passou desde então. Continuo recebendo bilhetes sem nexo, objetos misteriosos e também vendo o mesmo carro parado em frente à mansão pela janela. Ana tenta me convencer todos os dias de que seria uma ilusão a qual minha mente estaria pregando ou até mesmo que estou sobrecarregada com as questões sentimentais. Além disso, pediu-me de maneira sensível para que me levasse a um psicólogo, algo que recusei instantaneamente.
Tenho a plena certeza que não estou louca e também que a cada dia os fatos me mostram que estou sendo perseguida.
Perseguida por um inimigo desconhecido, sem qualquer poder de fogo ou ajuda já que logicamente Mikhail não vai mover um dedo para me dar apoio e nem eu mesma me rebaixaria tanto. Mesmo tendo o medo me consumindo a cada dia, a aflição vindo à tona e a angustia me destruindo por dentro.
Os pesadelos se tornaram rotineiros como se fosse um aviso do que aconteceria a seguir. Um homem encapuzado de terno preto me sufocando com um saco plástico dentro de uma boate. Desde que começaram acontecer, tento dormir um pouco menos para não ter tanto sofrimento o que resultou em olheiras terríveis.
Às vezes penso em que Ana poderia estar certa. Eu passei por tanta coisa nos últimos tempos que posso estar realmente precisando de tratamento com um especialista, uma ajuda. Talvez, fosse realmente melhorar o que estou vivendo ou minimizar parte disso. Se eu tivesse coragem para sair do quarto, já seria um bom progresso.
— Você ainda não saiu da cama? — Perguntou Ana após abrir a porta do quarto segurando uma bandeja de café da manhã contendo minhas frutas preferidas, morango e uva, assim como também pão com queijo suíço e um chá de camomila. — Não conseguiu dormir novamente, não é? — Perguntou depois de alguns segundos sem ouvir minha resposta.
Eu estava deitada na cama ainda de pijama e coberta dos lençóis brancos que ela sempre trocava. Olhava para o teto como se buscasse algo nele, fixamente, não me atentando as perguntas da garota. Ela, por sua vez, sentou-se sobre o colchão mole ao meu lado e olhou com aflição para o meu estado, completamente aterrorizada com o que estava acontecendo.
— Atena.. — Começou melancólica. — Tente se alimentar, pelo menos. Você não come direito há dias, além disso, hesitar ao sono fará mal a sua saúde. Tome esse chá de camomila e relaxe, nada vai acontecer. Nós estamos juntas desde aquilo, não é? Ele não vai voltar, está morto, você o matou. — Abaixou a cabeça com os olhos lagrimejando após completar a frase e esperou uma resposta não dada. — Não precisa ter medo, nós..
— Você acha que estou louca? — Perguntei interrompendo sua fala.
— Não é exatamente isso.. Você passou por muitas coisas até mesmo desconhecidas para mim. Talvez você esteja sobrecarregada, não custa nada procurar uma ajuda, só para verificar os fatos.
— Responda-me. — Ordenei rígida.
— Atena, você viu coisas que eu olhei no mesmo instante e não vi.. — Respondeu com receio de continuar.
— Ok. — Concordei e levantei o torso me espreguiçando para apanhar a bandeja de café da manhã. Peguei primeiramente o chá dando um gole, posteriormente, fiz o mesmo movimento com os outros elementos sobre a bandeja. — Marque com o especialista, talvez você esteja certa.
Ana levantou os olhos puxados antes aflitos para ir de encontro aos meus e animou-se em ter conseguido de alguma forma me convencer.
— Talvez ele tenha horário para hoje mesmo, tudo bem para você?
— Faça como quiser, fica ao seu critério. — Respondi dando um pequeno sorriso de lado no intervalo que levava a xícara até os lábios.
Ana me observou até o termino da minha refeição matinal e aconchegou na cama desejando ótimos sonhos antes de sair do cômodo e eu pegar no sono.
Eu estava em um lugar sem qualquer luz além da lua refletida pela janela. Ouvia gritos agonizantes que vagavam em um enorme eco formado pelo pequeno corredor coberto de sangue. Além dos gritos, havia risadas masculinas, mas não divertidas, risadas maléficas. Minha cabeça girava e meus olhos perdiam o foco de visão à medida que eu caminhava pelo recinto. Em meio a toda confusão, avistei um homem ainda longe de terno preto, mas completamente sujo de sangue. O homem de imagem não identificada sorria de uma forma aterrorizante para mim e fazia gesto chamativo com as mãos.
— Não tenha medo querida. Venha até mim. — Disse se aproximando.
Não demorou muito para que me agarrasse meus braços com força os sujando com o sangue que estava em suas mãos. Olhou-me de forma ameaçadora, mas ao mesmo tempo divertida, como se estivesse apreciando o som e todo o ambiente. Meu corpo estava fraco e a visão confusa não reagindo quando ele aproximou os lábios da minha orelha e sussurrou.
— O jogo ainda não acabou.
— ATENA! — Gritou Ana balançando meus ombros em uma tentativa de me despertar.
Acordei assustada e desnorteada com o pesadelo balançando minha cabeça várias vezes para voltar à consciência. Passei a mão pelo rosto e suspirei fundo agradecendo silenciosamente por ela ter me acordado daquele inferno.
— Você estava gritando e se mexendo.. Desculpa se a assustei. — Olhou-me de forma preocupada soltando meus ombros.
— Não, tudo bem.. — Sorri omitindo o que tinha acontecido. — Aconteceu alguma coisa? — Espreguicei-me levantando da cama e indo diretamente ao banheiro para lavar o rosto.
— Não.. É que você disse que estava ao meu critério agendar a consulta e eu consegui um horário para hoje, exatamente daqui a meia hora.
— Tudo bem, estarei pronta em dez minutos. — Falei ainda no cômodo ao lado ouvindo a garota avisar que estaria esperando na sala e bater a porta em seguida.
Arrumei-me como de costume. Uma calça de couro preta e uma blusa regata da mesma cor. Analisei no espelho a minha imagem por alguns segundos, agora com os cabelos loiros até a cintura, antes de ir ao encontro da garota para nos locomover até uma famosa clínica dos melhores especialistas do país.
Ana me acompanhou com calma no trajeto e pediu para falar abertamente com o psicólogo sobre os problemas já que ele não poderia abrir o bico pelo o que foi pago. Quando nós chegamos ao local um homem de meio metro de altura, de pouco cabelo e de muito peso me atendeu. A leveza de suas palavras me acalmou e fez compreender que aquilo realmente era um medo antigo, ainda não esquecido. Um trauma gera muitas consequências em nossas vidas, principalmente psicológicas. A mente humana não é um computador que armazena todos os dados sem qualquer perda de sanidade, segundo ele afirmando que se fosse, ele não teria um trabalho.
Sai da clínica me sentindo uma nova pessoa, uma pessoa capaz de seguir sua vida e deixar todos para trás. Recomeçar, como foi meu primeiro desejo ao vir para cá. Ana saiu por sua vez extremamente feliz e me acompanhou até o veículo para irmos embora, mas assim que sentamos nos bancos o carro começou a ser alvo de tiros.
Abaixei a cabeça da garota como forma de protegê-la e peguei a arma que guardava embaixo do meu banco para emergências como essa. Atirei contra o carro preto que sempre via em frente à da mansão tomando cuidado para que as balas do inimigo não me atingissem. Depois de algum tempo em uma intensa troca de tiros e gritos abafados de Ana, o carro da polícia local se aproximou fazendo o do inimigo correr em alta velocidade assim como o meu que tomei direção contrária ao dele.
Ana continuou apavorada em todo percurso assentindo com a cabeça todas as minhas frases que não estava louca.
Chegando ao imóvel apertei os passos para pegar o telefone em cima da bancada e pedi que Ana rapidamente arrumasse sua mala já que eu ia tirá-la o mais de pressa possível do país. Ela não correria risco junto a mim. Ana arrumou seus pertences e se dirigiu até a sala me questionando sobre os próximos passos, obviamente preocupada com meu bem estar.
— Vou ligar para ele. — Respondi com o aparelho celular em mãos.
![](https://img.wattpad.com/cover/204460714-288-k428320.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Perigo Fascina 2
ChickLitApós executar o chefe da máfia japonesa, Atena Volkov assume outra identidade e, finalmente, liberta-se das algemas da organização criminosa que a foi deixada de herança. Entretanto, após dois anos de plena felicidade surge um novo desafio. Uma nova...