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ALEXANDRA


     Um forte soco numa mesa próxima, seguido de um derrubar de livros quase me fez derramar o café no teclado. Mariah na mesa à frente deu um grito e tentou se recompor o mais rápido que pôde, ajeitando a armação redonda dos óculos no rosto. Em seguida, um alto palavrão fez com que todos ao redor arregalassem os olhos, parando por alguns segundos o que estavam fazendo. Conhecíamos bem aquele momento e temíamos por ele, mas algumas vezes infelizmente não dava para evitar. Só nos restava sobreviver.

Mais palavrões.

E mais palavrões com a mãe do objeto de tanto ódio.

Anjos do céu apertem nossos cintos: o anticristo foi invocado e ele está com sede de sangue.

– Os árabes não estão cooperando – Mariah comentou, olhando para as portas duplas ainda fechadas. Sabíamos que logo, Leviatã em pessoa as iriam colocar abaixo.

E pobre da alma que ele escolhesse para descarregar a ira.

– Como eu avisei – cantarolei.

– Ele vai chamar uma de nós em breve!

– Estou torcendo pra que chame a secretária – brinquei com ela, a deixando desesperada.

– Vire essa boca pra lá! De jeito nenhum quero ver este homem pelas próximas horas... ou dias!

– Aaaahhh, então significa que está torcendo pra ele me chamar?

Em seguida, meu ramal começou a piscar. Mesa do chefe. Mariah soltou o ar, aliviada, os colegas ao redor voltavam a oxigenar o cérebro com respiração até então interrompida enquanto eu atendia no viva voz.

Por favor, pessoal! É só um homem! Dignidade!

O pior deles, mas ainda um homem.

– Sim, Sr. Thompson?

Na minha sala – ele sibilou, desligando em seguida.

– O dragão está de volta à cidade – levantei, pegando meu tablet, já pronta para anotar várias coisas.

– Deus te abençoe.

Pisquei para a querida e medrosa secretária do chefe, enquanto abria uma das portas para entrar na sala.

Ou inferno, como você preferir.


***


Ethan estava transtornado. Essa é a exata palavra para defini-lo.

Havia afrouxado a gravata e tomava um trago do uísque, ainda ao lado do aparador. Livros espalhados pelo caro chão de madeira. Seus olhos esverdeados estavam com o globo ocular com várias veias saltadas, pulsando em vermelho. Ele respirava de forma curta e forte, como alguém que havia acabado de correr e buscava oxigênio desesperadamente. Segundo a aposta que eu havia feito, meu chefe iria ter um ataque cardíaco antes de completar 40. Morreria sentado na sua confortável poltrona sem conseguir pedir socorro e eu encontraria o corpo ao achar estranho a linha telefônica estar ocupada por tanto tempo, já que na tentativa de me ligar iria tirar o telefone do gancho.

Uma mulher preparada para o futuro é uma mulher que não estressa o coração com desagradáveis e funestas surpresas.

Ele me encarou e eu dei um breve sorriso, equilibrando o tablet nos braços. Naquele dia ele usava um dos seus milhares de ternos azul-escuros, com gravata escura e camisa branca – era a sua combinação perfeita. Ele costumava fazer a barba, mas estava trabalhando direto há tanto tempo naquela negociação que o rosto mostrava no mínimo cinco dias sem ver um barbeador.

O CEO É O LIMITE - Versão AlternativaOnde histórias criam vida. Descubra agora