Acordo com o barulho do celular tocando, imediatamente levanto da cama e, com essa atitude brusca, quase caio. Vou até a escrivaninha, onde deixei o aparelho na noite anterior, e atendo a ligação. Para minha felicidade, é a minha mãe. Não consigo descrever o que eu senti ao ver a palavra "mãe" piscando na tela do celular.
— Oi, mãe? Como a senhora está? Eu liguei para você várias vezes.
— Eu sei, Gabe. Eu estava verificando um paciente que tinha feito uma cirurgia. Desculpa.
— Tudo bem. E quando a senhora pretende vir nos visitar? Papai e eu estamos com saudades.
— Em breve, querida. — sempre ela dá a mesma resposta quando questiono sobre isso, há quatro semanas minha mãe não vem aqui em casa ou conversa melhor comigo. Eu tenho medo da nossa relação ficar desgastada, já que estamos distantes — Você sabe que eu fico ocupada e também não estou dormindo bem, prometo que logo eu vou estar na nossa casa. Você só precisa ter paciência. Consegue esperar mais um pouco?
— Está bem. Eu entendo, continue ajudando as pessoas, mãe.
— Obrigada. Vou fazer o possível para recompensar o tempo perdido. — ouço uma voz masculina ao fundo chamando a minha mãe — Eu preciso ir, Gabe. É uma emergência. Irei tentar ligar novamente mais tarde. Tchau!
— Tchau, mãe. — um suspiro cansado é o que eu ouço antes de ela colocar fim na ligação.
Vou para o banheiro, tomo um banho e novamente penso em minha mãe. As palavras dela não saem da minha cabeça. Outro dia fui até o quarto dos meus pais para procurar uma blusa, meu pai sempre mistura as minhas e as dela quando guarda. Mas quando cheguei no armário, quase todas as roupas dela estavam lá, contando com um de seus jalecos brancos. Não a vi sair no dia da viagem, quando minha mãe foi embora eu estava dormindo, então não sei se ela levou uma mala, uma mochila ou simplesmente a sua bolsa, que está parecendo o mais viável com a quantidade de roupas que ainda está no armário.
Saio do banheiro e vou em direção a cozinha, mas antes de chegar ouço o telefone fixo tocar, vou até ele e atendo.
— Boa tarde, somos do Hospital Santa Clara, queríamos saber se a doutora Noemi Alencar já se sente melhor. Gostaríamos de informar que ela pode ficar fora o tempo que precisar, só ligamos para nos certificar de que ocorre tudo bem. — uma moça fala sem parar do outro lado da linha.
— Como assim, se sente melhor? É para a minha mãe estar bem, sim.
— O que está acontecendo filha? — meu pai aparece atrás de mim.
— É o hospital, perguntando se a mamãe está bem. Não estou entendendo.
Ele pega o telefone e diz que resolve isso, pede para que eu faça sanduíche para nós. Vou para a cozinha, mas continuo ouvindo a conversa. Ele diz para a moça não se preocupar, pois está tudo bem e que logo minha mãe volta a rotina do hospital.
Quando chego na clínica, seguro a caixa com força e vou diretamente para a portaria. Converso rapidamente com o senhor que é responsável por vigiar a entrada e a saída das pessoas. A maioria dos funcionários me conhecem, não é necessário ter cerimônia. Cumpro a minha missão e vou embora.
Avisto uma mulher mexendo em uma rosa vermelha no jardim, ela não percebe minha presença. Estou com a caixa na mão com as novas cartas e a observo melhor. Apesar de não conseguir ver seu rosto, ela me lembra minha mãe e sinto um sentimento acolhedor no peito.
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Cartas ao Vento
Short StoryGabriela é uma adolescente de dezesseis anos que escreve cartas com o intuito de ajudar pessoas com transtornos psicológicos. Uma vez por semana a garota ai até a clínica da sua cidade para mostrar sua solidariedade e compreensão a essas pessoas. E...