Deusa & Deus

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 No neo-paganismo a prática do Politeísmo é comum, isto é, há adoração de várias divindades e cada religião e vertente tem sua própria "definição" para as divindades cultuadas.

Na Wicca e todas suas tradições e caminhos há duas divindades geradoras: A Deusa (também frequentemente atribuída como Senhora, Deusa-mãe, Dama da Lua, Deusa Tríplice) e o Deus (Deus Cornífero, Deus-Sol, Deus de Chifres, Senhor). Dessas duas divindades geradoras ainda pode ser criado um panteão inteiro com dezenas ou centenas de outras divindades pagãs que na verdade serão faces do Deus e da Deusa, seus arquétipos, uma vez que esses representam a dualidade do universo e neles tudo está presente. E cada arquétipo ainda pode ser também multifacetado por epítetos, que funcionarão da mesma forma.

Quando uma bruxa cultua, por exemplo, Afrodite (deusa grega do amor e da beleza), está adorando um entre os milhares de aspectos da sua Grande Deusa, que é a face da Paixão, a Deusa do Amor. É importante entender também que apesar da existência incontestável da dualidade e do gênero Masculino e Feminino em tudo o que existe, esse panteão de faces da Deusa e do Deus não é composto por gênero, uma vez que uma divindade masculina ainda possa ser uma das faces da Deusa e não necessariamente do Deus, e vice-versa. O que estará em pauta, nesta ocasião, é o que essa divindade representa nos planos do Universo. Resumidamente, costuma-se dizer que nos deuses não existem gêneros ou aparências, apenas a existência, a sua energia. Foi lhes dado gênero e rosto cada povo apenas quando os criaram e estabeleceram relações correspondentes a tudo o que cada um representa, e, por exemplo, na cultura celta, a Guerra e o Misticismo sempre foram intimamente relacionados ao símbolo feminino, e por isso as divindades que regem este meio serão, em sua maioria, apresentadas como uma mulher, ao contrário, por exemplo, da cultura egípcia e romana.

É por isso que na Wicca é bastante comum encontrarmos bruxos e feiticeiros de várias tradições e caminhos que seguem panteões diferentes um dos outros, sejam estes Celtas, Nórdicos, Egípcios, Gregos, Indígenas, Africanos, Indianos, Japoneses, Romanos, etc. O que faz o praticante da wicca não é o panteão ou os arquétipos e epítetos que cultua, mas a sua Ética e jura com o Código e também a sua devoção à Deusa e ao Deus, à dualidade e à Natureza.

É importante que nunca julgue um praticante da Magia pelo panteão que adora. O que realmente o fará membro de uma religião, tradição ou caminho Pagão, seja qual for, será sempre a sua Ética e crenças nos valores e nos pilares da religião que pertence.

Contudo, não é surpresa que esteja intrigado em descobrir as origens da Deusa e do Deus na compreensão humana. Para isso voltamos ao tempo em que os primeiros Homens saem de suas cavernas e começam a integrar-se de forma espiritual à Natureza, observando e estudando o tempo e todos os seus ciclos, fenômenos, variedades e sua perfeição. O Homem dependia desse conhecimento para sobreviver, assim como todas as espécies de animais sabem, natural e instintivamente.

O Homem aprendeu quais são as épocas de plantio e colheita, quando mais chove e quando tudo é seco, quando as flores nascem e quando caem, quando os animais migram, quando faz muito frio ou muito calor, quando a Lua estava Cheia e brilhosa e quando estava Nova e sombria e assim descobrindo os infinitos ciclos da Natureza até compreender estações, datas e os diversos fenômenos astrofísicos. Mais tarde a Astrologia e a íntima correspondência que existe com o universo e tudo o que existe, por mais minúsculo que seja. O que hoje nos permite a prática, por exemplo, da Clarividência.

Tudo é e tudo sempre foi uma sucessão infinita e perfeita de ciclos, dentro e fora do nosso próprio organismo e do nosso próprio planeta. Essa ideia de ciclos e perfeição moldou, desde o início, a personificação da Deusa e do Deus, os primeiros geradores, e mais tarde todas as outras milhares de divindades que hoje existem no paganismo e fora dele.

Mas por que uma Deusa e um Deus? – Além da obvia dualidade existente em tudo, do Masculino e Feminino assim como o Bem e o Mal, a ideia de ciclos, de nascimentos e mortes, sempre nos refletiu a própria Vida e assim moldamos nossas divindades. A Deusa é fértil e da à Luz ao Deus, este que cresce, torna-se vitalício, forte e sedutor, engravida a Deusa, envelhece e morre, depois renasce do ventre fértil e o ciclo recomeça. Desta forma, a Deusa é imortal e infinita geradora de vida e o Deus é o animal, O Pai, a vitalidade e um infinito gerador do crescimento e também da morte. Este é o mito da Deusa.

Todas essas ideias assim como o mito da Deusa e do Deus como infinidade também são claramente refletidos no que conhecemos como "Roda do Ano", o calendário bruxo, e as celebrações dos Sabbath.




A Carga da Deusa

Ouça as palavras da Grande Mãe, Aquela que desde a Antigüidade foi chamada de Artemísia, Astarte, Dione, Melusine, Cerridwen, Diana e muitos outros nomes:

Sempre que tiverem necessidade de alguma coisa, uma vez por mês, especialmente quando a Lua estiver Cheia, reúnam-se em algum lugar secreto e adorem o Meu Espírito, pois eis que sou a Deusa de todos os Sábios.

Vivam livres da escravidão e como sinal de liberdade cantem, dancem, banqueteiem-se, façam música e amor, tudo em Meu louvor. Pois Meu é o êxtase do Espírito e Minha também é a alegria na Terra.

A Minha Lei é Amor a todos os seres. Minha é a porta sagrada que se abre para a Terra da Juventude, e também Minha é a taça de vinho da Vida que é o Caldeirão de Cerridwen, o Santo Graal da Imortalidade.

Eu dou o conhecimento do Espírito Eterno, da paz, da liberdade e a reunião com os que partiram antes de vós. Não exijo sacrifícios, pois eis que eu sou a Mãe de todas as coisas e Meu amor derrama-se sobre toda a Terra.

Ouça as palavras daquela que é Mãe das Estrelas, cuja poeira dos pés são as hostes do Céu e cujo corpo envolve o todo o Universo:

Eu que sou a beleza da Terra Verde e a Branca Lua entre as estrelas convoco suas almas. Levantem-se e venham até Mim, pois Eu sou a alma da Natureza que dá vida ao Universo. De Mim procedem todas as coisas e para Mim devem retornar.

Que Minha adoração esteja no coração que se regozija, pois eis que todos os atos de amor e prazer são Meus rituais. Que haja beleza e força, poder e compaixão, honra e humildade, jovialidade e reverência dentro de cada um de meus Filhos.

E aqueles que procuram conhecer-Me, saibam que sua busca e desejo serão em vão, a menos que conheça os Mistérios. Pois se não encontrar dentro de si mesmo aquilo que procura, jamais encontrará fora, pois eis que estive com você desde o princípio e Eu sou aquilo que é atingido ao final do desejo.

- Doreen Valiente


A Carga do Deus

Ouça as palavras do Grande Pai, que desde a Antigüidade foi chamado de Osíris, Adônis, Zeus, Thor, Pan, Cernunos, Herne, Lugh e muitos outros nomes:

Minha Lei é Harmonia com todas as coisas. Meu é o segredo que abre as portas da Vida e meu é o prato de sal da terra que é o corpo de Cernunos, que é o Círculo eterno do renascimento.

Eu dou o conhecimento da Vida Eterna, e além da Morte dou a promessa de regeneração e renovação. Eu sou o sacrifício, O Pai de todas as coisas, e minha proteção ilumina a Terra.

Ouça as palavras do Deus Dançante, a música de cujo riso sopra os ventos, cuja voz chama as estações:

Eu, que sou o Senhor da Caça, O Deus de Chifres e o Poder da Luz, Sol entre as nuvens e o segredo da Chama Renovadora, invoco seus corpos para que se levantem e venham a Mim. Pois Eu sou a carne da Terra e todos os seus seres. Através de Mim todas as coisas devem morrer e Comigo elas renascem.

Que Minha adoração esteja no corpo que canta, pois eis que todos os atos de sacrifício espontâneo são Meus rituais.

Que haja amor, desejo e temor, raiva e fraqueza, alegria e paz, reverência e saudade dentro de cada um. Pois isso também faz parte dos Mistérios encontrados dentro de cada um, dentro de Mim: Todos os inícios têm um fim, e todos os fins têm um início.

- Doreen Valiente

Wicca: a Religião das BruxasOnde histórias criam vida. Descubra agora