Nota do autor: Esse texto se passa num mundo similar ao nosso. Embora certos fatos históricos sejam os mesmos, outros estarão ligeiramente modificados.
Inglaterra, Maio de 1938 – A Europa encontrava-se em rebuliço com a ascensão de vários governos fascistas e a tradicional Inglaterra acabou por não escapar desse destino. O rei Jorge VI se encontrava doente e, assim, o impopular Lord Pinkerton, líder do partido fascista local conseguiu, numa manobra política, afastá-lo e ser nomeado “Lord Protetor do Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda” se valendo do fato de ser um primo distante do rei e da herdeira deste ter apenas doze anos.
Embora parte do povo e os políticos da oposição estivessem preocupados com as medidas de Lord Pinkerton, mais preocupadas estavam as jovens monarcas de dois pequenos reinos situados no conjunto das ilhas britânicas e que há séculos conseguiam manter sua independência, mas que temiam que o novo Lord Protetor não respeitasse os tratados do passado que protegiam os seus reinos.
Os reinos, no caso, eram Duralan, um pequeno conjunto de ilhas na costa de Gales e Mayville, uma pequena cidade-estado na costa da Cornualha. A verdade era que a grande maioria dos britânicos nunca entendeu porque os dois países nunca haviam sido anexados. Os locais contavam lendas que nas veias dos moradores dos dois reinos havia o sangue das fadas, mas nada era confirmado. O Reino Unido só afirmava que haviam antigos tratados e estes seriam respeitados e, como os dois países eram pequenos e se mantinham um permanente estado de neutralidade, nem o povo nem a oposição política do Reino Unido nunca contestaram a resposta oficial.
A questão, para os pequenos reinos, é que desde que surgira na política, Lord Pinkerton sempre contestara os tratados e, agora, no cargo que ele ocupava, ele teria poder para tentar mudar o “status quo” das pequenas nações.
Para tentarem encontrar uma saída, estavam reunidas no palácio real de Duralan as duas rainhas. Não havia figuras mais contrastantes que as duas: Rachel, a rainha de Duralan, tinha vinte anos, era alta, elegante, com uma pele branca quase marfim, cabelos negros até o meio das costas e um ar sério permanente em seu alto rosto enquanto Miranda, rainha de Mayville era dois anos mais nova, mais baixa que Rachel, tinha cabelos cacheados ruivos, uma pele levemente mais morena que a da Rachel e quase sempre estava sorrindo, o que não era o caso naquele momento.
- E o seu primo que não chega – reclamou a Rainha Rachel.
- Ora, Rachel, você, mais do que eu, deveria saber que se ele atrasou, é por um bom motivo. Sem falar que você o convocou às pressas da missão diplomática lá no Brasil.
- Claro, ele é meu conselheiro militar, ele tem que está aqui para trabalhar.
- É, mas lá ele também estava trabalhando e não importa, ele já chegou.
- Como você sabe? O link mental de vocês?
- Sim, exatamente e você sabe que ele não falha nunca.
Nesse instante um servo entrou e perguntou:
- Majestade, Sir Talion está aqui. Devo deixá-lo entrar?
- Claro, o que você está esperando?
- Bem, é que Vossa Majestade disse que não queria ser incomodada então achei melhor perguntar.
- Eu sei o que eu disse, mas agora não importa, deixe apenas ele entrar
O servo fez um gesto de mesura e anunciou, enquanto abria a porta:
- Sir Lex Talion, cavaleiro real de Duralan, membro da casa real de Maydor e conselheiro militar de Duralan.
Após o anuncio, Sir Talion entrou no salão. O seu visual naquele momento, não parecia nada com o de um cavaleiro indo ao encontro de duas rainhas, mas sim de um aventureiro recém saído de alguma floresta. Sir Talion, um homem grande, de mais de um metro e oitenta, de ombros largos, cabelos e olhos castanhos escuros e cujo olhar e jeito de agir o faziam parecer ter mais do que os vinte e seis anos que tinha na verdade, usava uma calça surrada, uma camisa amassada que um dia foi branca e vestia um casaco surrado por cima deste enquanto as duas usavam longos vestidos dignos das rainhas que eram.
Talion fez um gesto de cumprimento ás duas rainhas e falou:
- Majestades, peço desculpas a vocês pela demora e pelos meus trajes e já irei justificá-la – disse ele. E antes que Rachel falasse algo, rapidamente emendou: Minha rainha, já estou ciente do motivo de sua convocação e acredite, isso está relacionado com o meu atraso.
- Deixe de tanto formalismo, primo, estamos só nós três no salão – interrompeu a rainha Miranda.
O jovem cavaleiro olhou para trás, averiguou que o que a sua prima dissera era verdade, relaxou e suspirou.
- Ainda bem, vocês sabem como falar empolado me cansa. Querem que eu comece logo o relatório?
- Seria bom, primo – respondeu, sorrindo, Miranda.
O cavaleiro começou logo a fazer seu relato. Ele viajara até o Brasil para se encontrar com o presidente deste, o senhor Getulio Vargas, para falar de acordos comerciais e trocar impressões sobre a situação européia. O presidente Vargas deixou bem claro à Talion que, naquele momento, não pretendia escolher nenhum lado da disputa, esperando aquele que se mostrasse mais vantajoso apoiar.
- Uma posição muito cômoda a dele – comentou Rachel.
- Sim, é verdade, Rachel, mas não dá para culpar ele, afinal, por enquanto tudo está ocorrendo bem longe do Brasil – retrucou Lex.
- Mas, e com relação aos nossos reinos, Lex, qual a posição do Brasil? – perguntou Miranda.
- Por enquanto? Está do nosso lado, está interessado na tecnologia e no dinheiro que vocês controlam. E deu provas disso, o que me leva à parte final do meu relatório...
Talion retomou o seu relato. Contou como, dois dias após o jantar com o presidente brasileiro, caminhando por um parque florestal existente na cidade, foi atacado e baleado no ombro por dois misteriosos homens. O tiro, porem, não o impediu de correr atrás dos dois. Um, na perseguição, acabou caindo e quebrando o pescoço enquanto o outro acabou por ser capturado por Lex.
- O presidente pessoalmente me garantiu que ia tentar obter o maior numero de informações possíveis a cerca do crime. E isso explica o meu estado. Eu recebi o recado de vocês logo depois de ter prendido o infeliz e embarquei no nosso avião logo depois, sem ter tido tempo de tomar banho.
- E o seu ombro, primo? – perguntou, preocupada, Miranda. – Como está? Você não usou nenhum medicamento? Não tomou ponto?
O cavaleiro tirou a jaqueta, revelando na blusa que usava, na altura do ombro esquerdo, um buraco de bala sujo de sangue porem não havia nenhum ferimento visível no ombro dele.
- Só precisei tirar a bala com o kit de primeiros socorros. Como podes ver, prima, eu continuo me recuperando bem rápido – sorriu Lex.
- Para variar, Miranda, você se preocupa demais com Lex – disse Rachel. – Alguma pista de quem fez isso, Lex?
- Sim, infelizmente sim...
Talion tirou do bolso uma insígnia da tropa fascista do partido de Lord Pinkerton.
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Guerra das Fadas
FantasyNo ano de 1938, o Reino Unido se vê governado por um governo fascista que tende a apoiar o regime alemão. É nesse cenário que duas jovens rainhas tentam manter a liberdade de seus pequenos países custe o que custar.