1

53 5 3
                                    


Beep-beep-beep

Beep-beep-beep

Pisquei lentamente enquanto minha consciência voltava para a realidade. Por um segundo, ainda pude sentir o vento sacudindo meu cabelo enquanto eu caía do décimo terceiro andar de um edifício depois de perder meu ioiô lutando sozinha contra um vilão qualquer. Era sempre o mesmo sonho. Maldita ansiedade.

Naquele dia, eu iria me apresentar diante de toda Paris, e não como Ladybug. Se fosse sob o disfarce de joaninha, eu não estaria tão preocupada, eu sempre me sentia cem vezes mais confiante quando o usava: era uma super-heroína, não a garota tímida, desastrada, pouco confiante e desengonçada que se chamava Marinette Dupain-Cheng. Mas hoje era ela quem iria subir ao palco.

Beep-beep-beep

Busquei o despertador com a mão e desliguei o alarme com um suspiro. Hora de levantar.

"Uaaah!" bocejei, sentindo meus olhos lacrimejarem.

"Bom dia, Marinette!", Tikki me saudou e então bocejou também, cobrindo a boca com suas pequenas mãozinhas vermelhas e esticando seu corpinho vermelho com bolinhas pretas no ar.

"Bom dia, Tikki", respondi com uma voz nem um pouco animada enquanto me erguia para ficar sentada na cama.

"Você não parece muito feliz...", a kwami observou. "Não está ansiosa para mais tarde?"

"Ansiosa estou, mas não de um jeito bom...", murmurei esfregando o sono para longe dos meus olhos.

"Todos os seus amigos vão estar lá... até o Adrien!"

"Ahhh", gemi infeliz. "Saber disso não ajuda!"

"Vamos lá, Marinette! Não vai ser tão ruim! Você é uma artista, tem que ficar orgulhosa pelo seu trabalho!", Tikki disse num tom encorajador enquanto flutuava perto do meu rosto.

Eu havia me inscrito para um concurso de Design de Moda que aconteceria na cidade naquele ano. Na verdade, eu nem planejava participar – era um concurso realmente importante – mas aí...

Dois meses antes:

"Bom dia, Marinette!" A voz de Adrien soou como um violoncelo harmonioso em meus ouvidos, fazendo borboletas ganharem vida em meu estômago enquanto eu entrava na escola com Alya e então parava para respondê-lo.

"B-b-bom dia! Bom dia, Adrien!", gaguejei – e quis me enfiar em um buraco por isso. Eu era um fracasso no quesito "manter uma conversa coerente com Adrien". Ao meu lado, pude ver Alya escondendo um sorrisinho divertido.

"Então, Marinette, você está sabendo do Concurso Paris Fashion Design desse ano? Eu tenho alguns convites para a abertura, já que meu pai vai ser um dos avaliadores, e estava pensando em convidar vocês para assistir comigo. Já chamei o Nino e ainda tenho esses dois, se você e Alya quiserem ir..." Adrien sorriu timidamente e mostrou dois ingressos cor-de-rosa em sua mão.

Se eu sabia sobre o concurso? É claro que sabia, eu estava ansiosíssima pela edição daquele ano, já que Design e Moda eram minhas paixões. No entanto, meu foco no momento era outro.

"Adrien está me chamando para sair?!", gritei internamente. Meu cérebro entrou em curto-circuito enquanto meus neurônios corriam para lá e para cá esbarrando uns nos outros por não saberem como lidar com aquela situação.

"Nós adoraríamos!", Alya tomou a frente e pegou os ingressos, dando um cutucão em minha cintura com o cotovelo para que eu voltasse à vida.

"Ah! É! Eu adoraríamos! Digo, nós adoraríamos!", falei.

"Que ótimo, então! Aguardo vocês lá!" Adrien sorriu amplamente, fazendo o mundo ganhar novo brilho e minhas pernas bambearem de deslumbre.

Nesse momento, uma figura saltitante pulou no pescoço de Adrien e começou a guinchar irritantemente.

"Adrien!", começou Chloé, "Você não vai acreditar, papai conseguiu ingressos para o Concurso Paris Fashion Design! Um pra mim e um pra você!"

Adrien gentilmente empurrou Chloé para longe de si e sorriu sem jeito enquanto a garota sacudia os dois ingressos na frente do rosto.

"Hã... na verdade, Chloé, eu já tenho um ingresso...", o garoto explicou.

"O quê?! Ah! Então vamos juntos de qualquer jeito!" Chloé sorriu e agarrou novamente o pescoço de Adrien.

Eu não estava gostando nada daquilo. O monstrinho do ciúme começou a borbulhar dentro de mim.

"Sabrina não vai?" Adrien questionou, novamente – para a minha alegria – se esquivando de Chloé.

"Algum parente dela aí vai participar do concurso e ela ganhou ingressos por isso" foi a resposta desinteressada da garota, mesmo que fosse sobre sua melhor amiga. "Como se um qualquer assim tivesse chance de ganhar..."

"Oh! As inscrições são até hoje, não é?" Adrien comentou, ignorando o comentário maldoso da outra. "Falando nisso, Marinette, você não se inscreveu?"

"E-e-eu?!", gaguejei novamente.

"Ahaha!" Chloé debochou. "Essa daí?!"

"Marinette ganhou o concurso de chapéus da escola naquela vez, lembra? E eu já vi os desenhos dela, são realmente bons!"

"Ora, vamos! Chapéus! Este é um concurso de moda sério! Ela não tem a menor chance!" Chloé continuou, rindo escandalosamente.

Senti meu rosto esquentar, eu certamente estava vermelha de vergonha e de raiva. Um impulso sobre-humano se apoderou de mim enquanto eu via Chloé gargalhando e meus amigos me olhando e esperando uma resposta.

E ela veio sem que eu pudesse antes calcular suas consequências.

"Eu me inscrevi sim!", bradei.

Imediatamente, Chloé parou de rir, e Alya e Adrien me encararam surpresos – este, feliz; aquela, incrédula.

Alya sabia, tanto quanto eu, que eu não tinha me inscrito em coisa nenhuma.

"Ah! Que maravilha! E sua inscrição já foi aprovada?" Adrien indagou animado.

"Inscrição em quê?" Nino chegou e cumprimentou seu melhor amigo com "e aí, cara?" e um tapinha antes de ir para o lado de Alya e beijá-la no rosto.

"No Concurso Paris Fashion Desing", Adrien respondeu.

"Aaah! Irado! Boa sorte, Marinette!" Nino sorriu.

"Pois é... e-eu ainda não sei se foi aprovada...!", menti nervosamente torcendo para que um buraco se abrisse no chão e me engolisse naquele instante.

"Mas vai descobrir hoje! Não é, amiga?" Alya veio em meu favor.

"Hmpf! Com certeza vai ser recusada!" Chloé bufou enquanto afastava-se de nós. "Onde está Sabrina, aquela inútil..."

Nesse momento, o sinal que indicava o início da aula tocou, e todos nós subimos as escadas em direção à sala, encerrando o assunto por hora.

_-*-_

La PeurOnde histórias criam vida. Descubra agora