Capítulo Único

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Os pulsos semicerrados, amarrados à cadeira por cordas fortes, se contorciam, machucando ainda mais a pele e fazendo verter sangue. O ranger dos dentes era alto anunciando seu desespero, que só aumentava a cada novo som de passos emitido pelas botas de couro que se aproximavam. Em contraste, a madeira dos degraus da escada também rangiam e a poeira subia nítida, espalhando-se pelo porão escuro e velho, iluminado apenas por uma única lâmpada que já ameaçava se queimar a alguns dias.

A cena desesperadora era a mesma todas as vezes que a porta de ferro se abria. Tudo parecia se passar apenas em câmera lenta, como se o objetivo fosse trazer mais dor. Os olhos sem brilho da jovem vitima nem clamavam mais por comida. Será que ainda existia vida em seu corpo frágil?

Um par de botas de couro parou em frente aos pés descalços que descasavam sobre o chão frio e cinzento. Sua farda lhe caía bem, mesmo que um tanto quanto larga, a boina disfarçava o cabelo bagunçado. O suposto sequestrador sorriu com a cena deprimente que se encontrava a pessoa à sua frente.

Os orbes verdes fizeram algum esforço para visualizar a imagem da ruiva que até pouco tempo atrás não passava de um bom brinquedo.

— Por favor Flaky, pare. – Pediu quase sem força tamanha era sua fome, à dias sobrevivia apenas de água, não havia sofrido reais danos físicos como tortura, apenas tinha sido deixado naquele porão imundo para apodrecer.

— Cale a boca Fliqpy! — Cuspiu as palavras enquanto ajeitava a boina roubada na cabeça, derrubando um pouco de caspa. — Essa visão deprimente só me faz ter mais vontade torturá-lo. — Disse indiferente à dor do antigo amigo.

— Flaky... Vo.... Você sabe que não fui eu que fiz aquilo. Foi ele... Eu nunca... — O esverdeado tentou em vão falar sendo interrompido pela pequena ruiva que depositara delicadamente o indicador sobre seus lábios. A garota ainda tinha um olhar brilhante, quase inocente, mas via-se claramente que não era assim.

— Flippy, ter dupla personalidade não é desculpa para sequestrar uma garotinha colegial e abusar dela até que não consiga mais mover as próprias pernas. — Falou irônica e rancorosa. — Olhe pra você, está tão deplorável que nem ao menos lembra como veio parar nesse porão. — Flaky rodopiou dançante até um canto escuro do cômodo sombrio, acariciando o tapa-olho que jazia em seu olho esquerdo. Puxou de uma de suas botas um pequeno punhal, o mesmo que Flippy usara para arrancar-lhe a visão, em seguida caminhou em direção ao esverdeado com um balde enferrujado e velho de metal nas mãos. — Agora fique quietinho, quero saber com quanto sangue você consegue encher esse balde sem desmaiar.

Sua farda lhe caía bemOnde histórias criam vida. Descubra agora