Perfeito Caos

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Abrir os olhos naquela manhã pareceu algo simples e corriqueiro como em todos os outros dias, não podia esperar que minha mente seria tomada por perguntas que tem respostas diferentes de toda pessoa que as escuta. Eu me perguntei como a luz traspassava a janela e tinha aquela cor. Como uma boa amante de física, sabia que a luz do sol era branca, mas aquele fato me incomodou muitas vezes sem um motivo aparente.

Era um dia de folga e caminhar pela agitada capital não me parecia má ideia, quem sabe encontraria alguma coisa interessante para me entreter, algo que ocupasse uma mente vazia. Lembrava claramente dos ditados que mamãe contava sobre mentes vazias serem oficinas da maldade.

Um vestido solto e meus queridos All Star eram o suficiente para um dia sem propósito pré-determinado, meu cabelo volumoso estava enfeitado por um lenço claro com pequenas bolinhas coloridas e cumprimentei meu companheiro de apartamento de quatro patas antes de sair, recebendo sua festa rotineira com muita baba e pelos.

O dia estava ensolarado e nenhuma nuvem cobria o extenso firmamento azul, as pessoas caminhavam em sua rotina e eu parecia a única fora do comum andando despojadamente em plena quinta feira no cruzamento de Shibuya. Mas sempre tinha algo de novo para ver naquela cidade encantadora, amada e odiada no mesmo tanto por tantos.

Em um dos telões, que ficava dispostos nos enormes edifícios, um anúncio me chamou atenção, um artista que eu desconhecia estava fazendo uma exposição interessante sobre sentimentos adversos.

Pisquei devagar olhando as imagens e uma em especial me chamou atenção: era um lugar completamente deslocado — pelo menos aos meus olhos — de toda a exposição. Guiei meus pés para o endereço que era em um grande centro de arte particular que ficava próximo, aliás o que não ficava próximo de Tokyo com seus trens precisos?

O distrito de Koto era novo aos meus olhos, principalmente aquele lugar, mas o que a curiosidade não faz? Entrei sem olhar para trás, sem premeditar que sairia de lá com um monte de coisa na cabeça, mas já era de se esperar de um lugar onde bolas gigantes e salas cheias de espelhos com LEDs são um cenário para devaneios de horas.

As pessoas faziam daquele lugar seu estúdio fotográfico. Passei por cada sala com cuidado esperando encontrar aquela que tinha aparecido. Elas eram repletas de cores, algumas com esferas gigantes outras apenas com espelhos iluminados, uma incrível piscina iluminada pelo próprio arco íris. Os olhos chegavam a falhar as vezes pela confusão de cores, luzes e reflexos, contudo, ainda não havia chegado ao final da exposição.

Depois de todo aquele carnaval de cores e brilhos, chegar àquela sala foi um alívio aos olhos e, por um momento, compreendi porque todos diziam que aquela era a cor da paz, algo que sempre descordei com veemência. A cor da paz deve ser uma que escolhemos individualmente, mas parecia que porque aquilo foi disseminado todos haviam aceitado.

Aquela cor tomava toda a sala, de alto abaixo sem nem mesmo um ponto que saísse daquilo. Deixei que meus olhos percorressem cada centímetro possível do lugar e todo aquele monótono voltou a ter o significado que tinha para mim: caos. Aquele caos nunca teve um monólogo que eu pudesse ditar para explicá-lo, e não era diferente para as pessoas que tinham outra visão dele.

Se tornou imensa a necessidade de explicar o porquê aquilo era o caos, assim como entender por que também era paz.

Caminhei a passos lentos e cuidadosos até a única peça que ficava no centro da sala. Era uma moldura que parecia ser feita de mármore no mais puro e límpido branco, como era toda aquela sala; uma cor que tinha muito a mostrar, mas era completamente ignorada se estivesse num lápis de cor. Era mais um ponto interessante, era totalmente descartável em um lápis e completamente necessária em um vestido de noiva com seus significados ocultos.

Cores - O Sentimento das coresOnde histórias criam vida. Descubra agora