Analua
No caminho, indo em direção a minha casa, me lembrei no dia em que meu pai veio em minha direção, com um semblante de felicidade, e me disse:
— Filha, papai aprendeu como fazer um bolo que não tem leite. — Isso é possível? — Disse.
— Então, eu não sei, mas não custa tentar — falou com um sorriso de esperança no rosto.
— Mas, o que vai no lugar do leite?
— Espera um pouco, vou olha na receita — enquanto ele revirava o bolso procurando o papel que anotou a receita, perguntei — Onde que você encontrou essa receita?
— Eu fui na padaria, enquanto eu passava em frente a vitrine dos bolos, dois funcionários da padaria conversavam entre si, e você sabe como sou curioso — falou coçando a cabeça tentando lembrar onde deixou o papel. Meu pai era bem curioso, fazia de tudo para conseguir matar sua curiosidade, teve um dia que ele queria saber qual o presente que eu iria dar para ele nos dias dos pais, ele fingiu estar triste por algo que alguém tinha falado para ele, só pra eu ficar com pena e acabar falando o que comprei — cheguei perto, fiquei olhando para os bolos e comecei a escutar atentamente o que eles conversam entre si. Um dos rapazes, disse que a avó dele fazia um bolo sem leite, que é muito bom mesmo sem esse ingrediente — já sem esperanças de encontrar o papel, ele continuou — lembrei logo da minha filha querida, e perguntei como era que fazia o bolo, atenciosamente ele escreveu a receita pra mim.
— Quem é esse funcionário? — perguntei porque o funcionário que trabalha na sessão dos bolos, não é atencioso assim, pelo contrário é bem ignorante.
— É um funcionário novo — Respondeu. — Ele começou a trabalhar hoje e estava sendo treinado pelo Marcelo, hmm... O nome dele.... — enquanto falava, ele olhava para cima tentando lembrar o nome — Lembrei! O nome dele é Gael.
Gael! Sabia que esse nome não era desconhecido, então, ainda tenho esperança de comer o bolo que meu pai me disse a mais ou menos três anos e meio atrás, no qual ele perdeu o papel onde o Gael anatou a receita. Olhei para o relógio e vi que faltava pouco tempo para hora que tinha que entrar no hospital. Cheguei em casa, comi um pão e bebi suco de graviola, me vestir para ir ao hospital e fiquei esperando minha amiga, Ester, ela é enfermeira do hospital e trabalha na mesma ala que a minha.
GaelO dia hoje foi bem tranquilo, não teve muitos clientes no balcão dos bolos, todo quinta-feira é assim, na padaria tem promoções de bolo nas quartas-feiras, o dia mais cansativo para os funcionários que estão trabalhando na área dos bolos. Enquanto eu estava limpando a vitrine do balcão pela décimas vez, mesmo sem ter clientes eu não gostava de ficar parado, eu comecei a lembrar quando vim morar nessa cidade, eu conheci o Ethan em um momento difícil na minha vida, meus pais tinham sido presos por tráfico internacional de drogas, eu tinha 19 anos e estava no 2 semestre do curso de Letras.
Foi um choque de emoção e pensamentos, eu tinha que trancar o curso que eu sempre quis fazer, para cuidar de uma garota de 8 anos. Eu tinha os meus pais como uns heróis, eles faziam de tudo para ver os seus filhos felizes. O jeito que eles cuidavam da Mina e o afeto que eles tinham entre si, era algo formidável, sempre me apoiaram mesmo não gostando do curso que eu estava cursando, eles sempre me apoiavam. Ver eles como vilão, nunca tinha passado pela minha cabeça.
Eu estava sentando em um banco de praça, cabisbaixo, tendo uma crise existencial e sem saber o que fazer, quando o Ethan apareceu. Ele estava acompanhado de sua esposa, Melina, e de seu filho, Muriel, que na época tinha 2 anos, quando eles sentaram ao meu lado, eles começaram a conversar sobre o dia deles, pelo que estavam falando tinha sido incrível, de repente eles param de conversar e começam a me encarar, foi quando escutei a voz de Melina.
— Oi, meu jovem. Você está bem? — Falou tentando olha para o meu rosto.
— Não sei — respondi.
— Pode contar para nós — disse o Ethan, colando sua mão direita no meu ombro — iremos tentar te ajudar.
— O que vocês fariam, se soubesse que
seus heróis na verdade eram vilões? — não consegui segurar o choro.— Eu me tornaria o herói no lugar deles — Respondeu Ethan — e tentaria combater os vilões.
— Mas os vilões são meus pais! — respondi enquanto levantava do banco e ficava de pé — meus pais foram presos e agora tenho que sair da faculdade, para arrumar um emprego e cuidar da minha irmã de 8 anos — não senti a dor quando dei um murro na árvore que ficava perto do banco, a dor sentimental era maior que a física.
— Escute o meu marido — disse Melina — seja o herói agora e combata o mal.
— Como? — perguntei ao mesmo que tempo que secava as lágrimas.
— Venha trabalhar com a gente — Falou o Ethan — cuide da sua irmã dê um bom futuro para ela e ao poucos você irá se tornar o herói dela.
— Meu marido tem uma padaria na cidade vizinha, você poderia ir trabalhar lá — Melina falou enquanto segurava minhas mãos.
— Eu agradeço a ajuda de vocês, mas não tem como eu ficar indo todo dia pra cidade vizinha. — Respondi com um tom de agradecimento.
— A gente tem uma casa desocupada, não é grande mas é o suficiente para você recomeçar sua vida e também estava querendo alguém para cuidar da casa — logo depois de Ethan falar e ele começou a rir.
— Vocês nem me conhecem, e quer me dá emprego e uma moradia... — Melina me interrompeu — Não acho errado ajudar alguém, e não queremos que fique assim, vamos com conosco e te explicaremos como vai ser — Ethan e Melina foi em direção ao carro e me chamou para acompanhar.
Estávamos indo em direção a casa de uma amiga de Mina, para buscarmos, no caminho Ethan e Melina explicava como iria ser, eles iriam buscar a gente, no caso eu e minha irmã, de manhã e iriam nos levar a casa onde iríamos morar. Como eles disseram, de manhã foram buscar a gente, não demorou muito pra chegarmos a cidade vizinha, chegando lá ele mostrou a casa, Mina ficou feliz já que a casa tinha dois quartos pequenos mas suficiente para ela ter o seu próprio quarto. Mina passou o dia com a Melina arrumando a casa e para colocar os poucos móveis que tínhamos, quando o caminhão da mudança chegar, e eu e Ethan fomos para a padaria.
Chegando na padaria ele me mostrou cada lugar da padaria, que era grande demais para uma padaria, e me levou para o lugar onde eu iria trabalhar, apresentou o Marcelo, o funcionário que ia me ensinar. E me deu a roupa que eu usaria para trabalhar. Marcelo me dava instruções, foi quando ele disse que queria fazer um bolo para uma asilo de idosos que ficava perto da casa dele, mas não poderia colocar leite e nem açúcar, eu comecei a dizer que a minha vó fazia um bolo sem leite e era muito bom, enquanto eu falava um homem se aproximou.
— Você disse que sua vó sabe fazer um bolo sem leite? — Ele me perguntou.
— Sim, ela fazia direto para mim e para minha irmã — Respondi.
— Seria incômodo eu pedir a receita? — Me respondeu e demostrava estar bem animado.
— Claro — rasguei um pedaço do papel que servia para imprimir os comprovantes de venda e comecei a notar.
— Minha filha vai ficar muito feliz, ela é tolerante a lactose e sempre quis comer bolo — respondeu e quase dava um pulo de alegria.
— Como é o nome dela? — Perguntei.
— Analua — respondeu.
Analua? Será que é a mesma mulher que veio aqui de manhã, quando me deparei estava sendo encarado por Marcelo, que agora é gerente da padaria e parei de limpar as vitrines e fui procurar fazer outra coisa, até dá a hora de ir para casa.
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Nunca Um Sem O Outro
RomanceDuas vidas cansada da vida rotineira e encontram no amor uma oportunidade de viver dias diferentes. Analua, uma enfermeira, que passa o dia todo no hospital escutando as histórias dos seus pacientes e Gael, que trabalha em uma padaria, que escreve u...