Fui descoberta

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- pai, mãe... eu não sou a garotinha de vocês - não, isso tá horrível. - pai, mãe. eu gosto de garotas. - não, eu vou matar eles assim

falava comigo mesma enquanto voltava da escola sozinha chutando algumas pedrinhas do chão, eu tinha feito 17 anos na semana passada e achava que meus pais precisavam saber sobre quem eu era de verdade. Eu pensei o dia todo, a semana toda, o mês todo e nada ficava bom, eu não conseguia pensar em uma forma de dizer isso sem a possibilidade de causar um surto neles. Quando eu estava quase chegando em casa decidi que diria isso no jantar, pensaria em como dizer no banho e ia dar tudo certo, eu não precisava me desesperar. Quando abri a porta lá estavam eles, sentados no sofá como se a nossa casa tivesse sido roubada, mas todos os objetos estavam em seu devido lugar.

- Sina Deinert, o que significa isso ?

MEU DEUS! ONDE ELES CONSEGUIRAM ISSO ?
lá estavam eles, com uma foto minha beijando Sabina Hidalgo, isso tinha acontecido no vestuário da academia da escola, eu suponho que tinham câmeras lá. Sina eu não acredito que você deu um vacilo desse. O que era pra dar tudo certo já tinha dado errado sem eu nem ter dito nada.

- E-eu posso explicar isso - pode mesmo ? Eu não faço ideia do que dizer

- Pois então comece a falar sobre isso

- Pai, mãe... eu não sou quem vocês pensam que eu sou, eu não sei que proporções isso vai tomar quando eu dizer, mas eu gosto de garotas. - eu já não tinha escapatória, tinha que falar a verdade de qualquer forma

Eles não disseram nada e se sentaram no sofá, eu achei que estava tudo bem então me aliviei soltando um suspiro leve, até que eu escutei a voz do meu pai.

- Você lembra quando você se envolveu naquela briga com os Urrea ? Quando você começou a andar com seus amigos má influência ?

- sim eu me lembro - depois daquilo ficou tudo bem quando eu pedi desculpa pro Noah Urrea e pra todo mundo. Né?

- o que eu tinha dito que faria como castigo caso você fizesse mais alguma coisa estúpida

- me mandaria para um internato católico - eu não acredito que ele vá fazer isso comigo, eu não acredito que ele vai me fazer viver o inferno por conta de uma besteira. eu achava mesmo que ia dar tudo certo ?

- então como você já sabe o que vai acontecer, por favor arrume suas malas e coloque tudo o que precisa nela. Amanhã de manhã você vai pra Belmont Heights, é lá onde o internato fica.

- o que ? por favor, eu não preciso fazer isso, vocês estão fazendo uma grande tempestade em um copo d'água! - eu não fiquei triste por ter que ir pra um internato, na verdade eu estava queimando de raiva, por que eles estavam fazendo tudo isso comigo ? Eu só gosto de garotas. Não é algo absurdo!

- Sina, você foi avisada sobre isso, não adianta explodir de raiva

O aviso dele não serviu pra nada, eu gritei como nunca havia gritado antes e joguei a mochila no chão, subi as escadas enquanto escutava os soluços de minha mãe que chorava descontroladamente e os gritos de meu pai dizendo que eu era uma péssima garota.

Eu cheguei no meu quarto e bati a porta trancando a mesma, deitei na cama e chorei tudo o que tinha pra chorar, dessa vez por um pouco de tristeza e um pouco de raiva.
Quando não aguentava mais sentir minhas lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas eu entrei no banheiro do meu quarto tomando um banho gelado e silencioso, eu já não tinha mais animação pra cantar minhas músicas favoritas no banho. Logo depois que tomei o pior banho da vida, fui contra a minha vontade arrumar minhas malas, Belmont Heights não era perto, então eu sabia que ficaria lá por um tempão sem ter pausa pros finais de semana como as outras garotas teriam. Coloquei tudo que eu tinha de importante nas malas. Minhas roupas, meu diário, minhas meias da sorte e tudo que eu precisava pra não morrer de tédio naquele lugar.
Quando eu terminei eu deitei na cama olhando pro teto e comecei a pensar em tudo o que teria acontecido mais cedo, e foi pensando nisso que eu adormeci rapidamente

Acordei as 05:00 em ponto com as batidas delicadas de minha mãe na porta de meu quarto chamando pelo meu nome, eu sem lembrar muito bem sobre o que tinha acontecido na noite passada, achei que tinha sido tudo um sonho e abri a porta pra minha mãe. a mesma me recebeu com um abraço dizendo que me amava e se dependesse dela eu não iria a lugar algum, foi aí que a ficha caiu, eu vou mesmo pra Belmont Heights. pra um internato católico.

- Você sabe que eu te amo filha, eu vou sempre te telefonar e te escrever, mas você também sabe que seu pai é um homem extremamente difícil de lidar. Isso vai ser melhor pra você, eu prometo.

- mamãe, tá tudo bem. Eu te amo e nada vai mudar o que  nos duas somos uma da outra... Mãe e filha.

No mesmo momento que eu disse aquilo nós se abraçamos e eu fiz de tudo pra não chorar na frente dela e deixar ela calma perante a tudo isso. eu era a única filha que minha mãe tinha, e de acordo com ela eu sou um milagre, pois ela nem podia ter filhos quando ficou grávida de mim. O fato de eu ser um milagre faz com que ela tenha um carinho especial por mim, é óbvio. Imagino o quanto vai ser difícil pra ela, e pra mim.
Depois dessa melosidade toda ela desceu e pediu pra que eu me arrumasse e decesse pra tomar café da manhã, sairíamos as 06:30.

Eu tomei um banho rápido e coloquei qualquer calça apertada com a camiseta menos chamativa que eu tinha, umas meias brancas completamente sem graça e um tênis da mesma cor. Desci as escadas e meus pais estavam na mesa tomando café da manhã. não falei com meu pai, não estava conseguindo nem olhá-lo sequer, então só tomei o meu café da manhã enquanto conversava com a minha mãe até ser interrompida pelo meu pai.

- já são 06:15, pegue suas malas, coloque no carro que nós vamos sair às 06:30, e nem pense violar alguma regra do internato pra poder voltar, vai ser pior pra você.

Me retirei do local subindo as escadas com raiva e fiz o que ele havia pedido. Eu esperei eles chegarem no carro já lá dentro, não demorou muito os dois já estavam no automóvel.
Coloquei meus fones de ouvido no caminho e aquilo demorou mais do que eu esperava que demoraria, cada minuto passava como hora, mas as 08:00 nós já estávamos lá. Saí do carro tirando as malas da parte de trás e quando vi, minha mãe já estava me esperando pro último abraço, já meu pai estava no carro, ele não iria se despedir de mim, mas... Pra mim já não fazia diferença, abracei pela última vez no dia minha mãe e disse que eu ficaria bem. Em questão de minutos o carro de meu pai já estava tomando o caminho de volta, então olhei para o lugar observando cada canto da parte de fora do local.

Ana's boarding school only for girls.Onde histórias criam vida. Descubra agora