O contraturno

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Tinham se separado depois da cena na escada para tirar fotos dos símbolos conhecidos e procurar novos. Já era quatro da tarde quando se reuniram sob a figueira, no fundo do pátio entre os prédios. A maioria dos alunos já tinha saído da escola e a sombra da figueira estava deserta. Pâmela parecia impaciente enquanto esperava Artur cruzar o pátio a passo lento. Ele teve que esperar o grupo de teatro sair da sala para tirar sua foto, então era o último a chegar.

— Ele podia andar rápido. — Pâmela resmungou — Minha mãe já ligou. 

— Mas o contraturno só acaba às cinco. — Roberta comentou intrigada.

— Quase ninguém fica até o final. — ela respondeu. — Muita gente nem fica a tarde. 

— Sua escola não era integral, né? — Denis constatou.

— Não. — Roberta admitiu — Essa coisa toda de contraturno é toda meio estranha para mim. 

— Na maior parte do tempo é um saco. — Denis comentou — Aulas de artesanato com a sua avó, de informática mais fajutas que as das escolas de informática fajutas, futebol...

— Não seja injusto Denis. — Artur chegou se incluindo na conversa — Tem as maravilhosas aulas antidrogas com a polícia e os inovadores programas de educação sexual. — concluiu antes de acrescentar, quase como um pedido de desculpas — Mas o pessoal do teatro é legal.

— Minha mãe já está me esperando em casa. — Pâmela interrompeu a conversa — Conseguiu a foto?

— Claro. — ele respondeu sacando o celular — reparei nela porque fica no alto, perto do teto.

A suspeita que Roberta alimentava desde que viu a Qliph do banheiro do pátio se concretizou assim que viu a imagem do celular de Artur.

— Mostra a sua, Paula. — pediu a imagem do pátio enquanto procurava na galeria do celular a imagem do terceiro andar. — Vê o padrão?

Artur arregalou os olhos e se virou para o prédio, apontando para lugares e fazendo traços mentais.

— Meu... — ele murmurou. — Isso é grande!

— O que você viu? — Paula perguntou com uma ponta de medo na voz, olhando ora para as imagens ora para o prédio.

— Em cada delas uma uma esfera diferente que está pintada, enquanto as outras estão vazadas. — Roberta explicou.

— E cada uma está na posição da esfera pintada. — Artur completou. — Deve ter uma na sala debaixo da minha e outra no banheiro do segundo andar... — Ele se interrompeu para correr para o prédio da direita.

— Volta aqui! — Paula gritou para ser ignorada.

Roberta entendeu em pouco para onde ele estava indo, entre os banheiros do centro do bloco e as escadas das extremidades e o seguiu com o coração disparado. Artur parou perto e onde Roberta esperava que parasse, olhando para cima. O resto do Círculo ia atrás dela e logo todos olhavam para o teto, para uma Qliph estava desenhada onde deveria caso houvesse dez, uma na posição de cada Qliph. 

Quando ouviu Artur se afastando Roberta desviou os olhos do teto. Ele caminhava para a direita, onde deveria estar a outra. O Círculo o seguiu em silêncio sepulcral rumo à confirmação da suspeita e, lá estava desenhada com pincel atômico negro no teto.

— Isso é assustador. — Paula quebrou o silêncio.

— É. — Artur respondeu lacônico.

Interrompendo o clima a pesado o celular de Pâmela tocou assustando todos.

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