1° Capítulo

40 4 11
                                    

E como sempre, atrasada!

Tenho que estar na escola daqui a 10 min e eu não consigo isso nem se subir nas costas do flash!

— Pô Cecília anda logo, estamos atrasadas!
— Já vai mana, só estou terminando uma coisa...— Sem paciência já fui invadindo o banheiro.— Caramba Alana, só faltava um pouquinho— Ela me olhou com o rímel borrado, a cara de indignada estava tão engraçada que não aguentei e ri muito.

Depois de toda aquela confusão descemos correndo, sem tempo nem para comer alguma coisa. Moro com minha mãe e duas irmãs, é uma loucura total, principalmente na TPM, sempre acabamos brigando, chorando e rindo, não nessa mesma sequência.  Estudamos na melhor escola particular em São Conrado, claro que existem outras melhores e mais perto, mas essa foi a escolhida sem reclamações da parte de nós irmãs.
A escola é bem localizada, tem um pátio enorme, salas brancas com ar-condicionado e cadeiras impecáveis, funcionários simpáticos e alunos bem comportados, quando entrei para o ensino médio pensei que seria como High School Musical, com problemas entre alunos e canção pelo pátio, mas  felizmente e infelizmente não acontece isso. Ando com minhas irmãs, mas sempre tentamos interagir com todos, principalmente quando tem alguém sozinho, odiamos ficar sozinhas e não queremos isso para ninguém.
Não sou boa em todas as matérias, uma delas é Ed física, sim! Isso mesmo, não gosto de praticar, por isso fico só olhando. Minha 2° aula, já que não cheguei a tempo de assistir a primeira, é exatamente essa, até desanimei.

 ~~~~~~~~ ∆ ~~~~~~~~

As aulas passaram lentamente, principalmente agora que estou morrendo de fome, sempre prestei muito atenção nas aulas de História, mas hoje estava morrendo de fome. Sinal tocou e eu fui a primeira a sair, acho que todos se impressionaram já que sou sempre a última, fui correndo e desviando de todas as pessoas, como dizem: "saco vazio não para em pé" eu estava prestes a desmaiar.
— Oihamburguerecocageladaporfavor.— Ofegante falei tudo rápido, a tia da cantina me olhou confusa.
— Oi Alana, pode repetir, por favor?— Calma, minha tia favorita perguntou. Respirei fundo e disse:
— Oi tia, hamburguer e coca gelada, por favor?
— É pra já!

Assim que ela anotou, fui sentar na mesa e esperar minhas irmãs. Sempre costumávamos sentar nas cadeiras de concreto ao redor de uma mesa redonda e um guarda sol no meio, esse era nosso lugar preferido, perto das flores cultivadas pela escola e as grades que nos separam da liberdade. Logo o tio da cantina trouxe meu pedido e recebeu o dinheiro. Não demorou muito, minhas irmãs chegaram com seus lanches prontos e começamos a conversar:

— Vocês viram o que Carlos fez na festa?— Mariana é a primeira a fofocar, adoro!
— Eu vi mana, ele começou a tirar toda a roupa, estava loucão.— Cecília ficou ruborizada, deve ter lembrado do ocorrido.
— Não perco meu tempo olhando o Carlos e sua turminha, estava aproveitando a festa.— Último ano do ensino médio, vou ficar perdendo tempo com aqueles manés.
— Você bem que aproveitou, bebeu todas e rebolou horrores.— Com malícia Cecília me respondeu.
— Estou louca pra ir para o Vidigal.

Fiquei lembrando nossas loucuras, minhas irmãs embarcou comigo e conversamos o intervalo inteiro. Antes da Barra, morávamos no Vidigal, minha mãe sempre gostou de moda, mas durante seu curso engravidou, parou e abriu um negócio, no começo não deu tanto lucro, foi nesse momento que ela conheceu o Augusto, se casaram, e por muitos anos viveram felizes, tio Augusto faleceu ano passado. Estamos em um processo de aceitação, todas nós sentimos muito a falta dele, sempre nos amou e foi retribuído. Mas ainda temos amizades e familiares que moram lá, nossa vó bateu o pé dizendo que iria continuar no Vidigal, todas nós puxamos a sua teimosia. Minha mãe assim que se casou retornou ao curso, hoje depois de 17 anos está com sua loja famosa e por vários lugares do Brasil. Ela sempre foi uma mulher muito forte, batalhou para cuidar de Mari e eu, Cecília tem a minha idade, minha mãe começou a criar desde que temos 3 anos, minha tia morreu em uma operação no Vidigal, foi um choque para a família e com todo amor, minha mãe acolheu Ceci como sua filha e nós a acolhemos como irmã.  Como somos primas ninguém percebe. Hoje somos as irmãs Garcia, que se mete em muitas confusões e loucuras.

Somos muito bonitas, pele parda, cabelos pretos e ondulados, menos Mari que é castanho claro e liso, os olhos da Mari e o meu são verdes, já o da Ceci é um castanho claro que lembra muito o caramelo, um rosto bem desenhado e alguns traços delicados, nossos cílios são cheios, sombrancelhas bem desenhadas, o corpo é aquele típico violão, cada uma puxou um pouco de nossos pais. Agora nossa mãe é uma mulher de 40 anos muito bonita, com seus olhos verdes, cabelo preto e liso, sombrancelhas desenhadas, traços delicados e corpo violão. Minha vó diz que na adolescência minha mãe fazia muito sucesso, as garotas até tinham inveja. 

Na hora da saída, estávamos indo em direção ao portão, um gigante me empurrou com seu corpo todo deformado, fui parar no chão igual um tomate podre.

— Qual é o seu problema?!— Gritei o mais alto que pude, estou extremamente irritada.
— Com desdém Carlos me responde- Você quem não presta atenção— Que raiva desse garoto!
— Você estava atrás de mim! Me empurrou, quem devia prestar atenção é você!— Mari foi me ajudar a levantar
— Quer um beijinho para sarar?— Debochou o idiota.
— Eu quero que você vá pra China e fique por lá.— Virei e o deixei sozinho.

Menina SoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora