Ella não se lembrava de nada. Não se lembrava de que horas eram, em que dia estava ou como havia chegado alí. Não sabia como perdeu seu all star favorito ou por que seu corpo ensanguentado, fétido e sujo doía tanto. Tão escuro quanto sua memória, o...
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Não foi difícil despertar com o alto som da porta destravando ao final do tempo cronometrado, ressoando por todo o pequeno cômodo e vibrando as paredes. Me limitei a soltar um resmungo, avisando ao garoto semiacordado ao meu lado que eu ainda não havia morrido de infecção.
Havíamos dormido por oito horas completas, mas meu corpo gritava por mais trinta. Claramente, Tom também não estava tão animado. Sem pressa, sentou-se devagar no mesmo chão onde dormiu, estalou os ossos doloridos e fitou o assoalho por um tempo.
— Tive um sonho estranho. — Ele disse enquanto bocejava.
'Estranho'.
Minha concepção de estranho mudou um pouco desde que acordei em um labirinto suicida com um milionário em potencial.
— Tão entranho quanto uma escada de navalhas? — Perguntei.
Tom enrugou a testa. Ele parecia mais confuso que o normal.
— Não lembro direito. Mas havia um som... Um som estupidamente irritante. Pulsava na minha cabeça feito uma enxaqueca. Era tão enlouquecedor que senti vontade de gritar.
— Que tipo de som?
— Não sei descrevê-lo. — Sua expressão se enrijeceu. Tom elevou as mãos à cabeça, deixando dois dedos encostarem na lateral da sua testa, massageando a pequena dor que o importunava naquele ponto. — Esse som ia e voltava, de um lado para o outro e nunca parava.
— Como um pêndulo? Você sonhou com um pêndulo!? — Pulei do colchão.
— Não sei, eu-
— Precisa me contar sobre esse pêndulo. — Interrompi. — Era uma sala? O pêndulo era prateado? Você ouviu a voz de um homem? Me diga! O que ele disse!?
— Ella, por que está gritando!? — Tom elevou a voz, se igualando a minha. — Não sei do que está falando! Sonhei com um barulho e você enlouquece de repente?
Certo.
Nem se quer notei que estava gritando.
Não posso me culpar, esse lugar deixa qualquer um fora de si.
— Esquece. — Bufei, recebendo em resposta um olhar levemente preocupado com minha condição mental.
— Você não parece bem, Ella. — Tom me encarou.
Não pareço bem?
O que ele esperava?
— Eu deveria estar bem? — Perguntei entre dentes. — Tenho 10 pontos na coxa, dois rombos nos joelhos, 500 cortes por todo meu corpo, mais hematomas que eu posso contar e você insiste em me olhar como se eu fosse louca.
