Ella não se lembrava de nada. Não se lembrava de que horas eram, em que dia estava ou como havia chegado alí. Não sabia como perdeu seu all star favorito ou por que seu corpo ensanguentado, fétido e sujo doía tanto. Tão escuro quanto sua memória, o...
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Eu sonhei.
No meu sonho eu estava sentada em uma poltrona de couro extremamente confortável com a cabeça aconchegada em um travesseiro azul. Eu vestia roupas brancas de algodão, limpas com cheiro de lavanda. Meu nome estava gravado no bolso do lado direito da minha camisa.
'Ella Reed.'
Era uma sala clara. Clara até demais. Tão clara que era difícil distinguir os móveis ao redor ou a decoração, tudo parecia um grande borrão.
Ainda assim, eu podia vê-lo sentado na poltrona a frente. Uma poltrona exatamente igual a minha. Também havia um travesseiro repousando sua cabeça.
Ele estava lá. Seu cheio podre de enxofre invadia minhas narinas, seus olhos cor de lava emitiam uma luz doentia. Seus chifres pontudos e retorcidos pareciam prontos para perfurar a mais rígida carne, com garras no lugar de dedos e rabo enrolado no braço da cadeira.
O diabo me olhava com um sorriso perverso.
Mas eu não o temia.
Não mais.
Então eu me levantei para encará-lo debaixo, de onde ele deveria ficar, mas ele se levantou também. Levantei o meu braço para tocar sua pele cascorenta cor de fogo, mas ele também levantou o seu longo braço e a ponta dos nossos dedos se tocaram.
Só então que me dei conta que olhava para um espelho.
Foi nesse momento que meus joelhos vacilaram. E enquanto o medo me paralisava eu ouvi uma voz distante chamando meu nome.
'Ella'
Era a voz de Thomas. Tão familiar, tão longe, tão baixo.
'Ella'
De novo
'ELLA'
Acordei no susto.
Num movimento brusco e instintivo elevei o meu tronco e tão rápido quanto acordei, meu corpo afundou. Não senti o chão sob meus pés e a água gelada já cobria meu último fio de cabelo.
Prendi a respiração quando o líquido começou a invadir todos os buracos do meu rosto.
Senti o braço do Tom me puxando para a superfície.
— Está bem!? — Tom perguntou me vendo recuperar o fôlego.
— Puta merda. — Tossi uns goles de água que havia entrado na minha boca contra a minha vontade. Aquela merda tinha gosto de ovo podre. — Precisam rever o sistema de filtragem de água dessa joça o quanto antes.
