Sino • kth + pjm

Lágrimas agridoces

Foi na ponte a primeira vez que eu te vi. Olhando pro lago, a tristeza consumindo seu olhar. Você se aproximou da grade e apertou o com força o metal, tanto que seus dedos ficaram brancos. Da distância que eu estava, pude ver quando uma lágrima cristalina deixou seu rosto e pingou na água igualmente cristalina. 

Eu senti que te conhecia de algum lugar, a falta e a saudade antecipada apertaram meu peito, e logo eu me vi chorando junto a você. Meus dedos também estavam brancos, mas de apertar a câmera em minhas mãos. Eu nunca tinha sentido dor igual, do tipo que faz minhas pernas fraquejarem e minhas mãos tremerem. Mas ao olhar pra você, sabendo das suas intenções, o sentimento se alastrou com força e consumiu todo o meu ser.

Eu sabia que você ia pular, mas meu corpo simplesmente não se moveu. Apesar de trágica, sua imagem era tão linda que eu não consegui parar de olhar. A câmera em minhas mãos registrou o momento em que você olhou para baixo, como que ponderando sua decisão, então, quando você tomou impulso para subir na grade, eu simplesmente, me vi ali, atrás de você, com a mão em seu ombro. Eu ouvi, bem ao longe e baixinho. Um sino tocando. O  som tão suave que quase não notei. 

— Com licença, você poderia me ajudar? — Eu disse, minha voz quase não saiu de tão falha e trêmula. Só de imaginar perder você, minha mente nublou de um sentimento horrível que eu não desejo a ninguém, e a pior parte é que nem te conhecia. Na verdade, eu senti que já tinha te visto antes, mas eu não sabia como e nem quando. 

Você não olhou para mim, parecia perplexo com alguma outra coisa e eu quase pude ter certeza de que você ouviu o sino também. Então eu ouvi sua voz. O som mais bonito que eu já tive o prazer de escutar em toda a minha vida. Suave e trêmula, assim como a minha. 

— Claro. Do que precisa? — Você disse, e naquele momento eu pude ter certeza que você também me conhecia. Não teve medo de enxugar seu rosto molhado pelas lágrimas e muito menos medo de mostrar sua verdadeira face. Você chorava e, assim como eu, também não sabia ao certo o motivo exato, mas sabia que assim que você se virou de frente para mim e olhou nos meus olhos, tão brilhantes quanto os seus, ficaria tudo bem.