Há mais entre o céu e a terra...

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A elegante biblioteca da mansão do senhor Toshitsugu, cônsul do Japão, estava repleta de homens sérios de terno, com xícaras de café, e expressões preocupadas. A um canto, um homem careca de meia idade, usando fones de ouvido enormes, estava operando uma sofisticada máquina de rastreamento de chamadas. Em uma mesinha de madeira de lei estava um telefone equipado com viva voz e sentado ao lado dele o senhor Toshitsugu.

Seus olhos estavam embaçados e distantes, o rosto estava cinzento, como se ele estivesse muito doente e abatido, profundas olheiras revelavam as duras noites insones que vinha tendo de suportar. O encarregado daquela operação, um homem alto de ombros largos, rosto quadrado e queixo amplo, que aparentava ter pouco mais de quarenta anos, aproximou-se dele e apertou seu ombro com a mão de forma gentil. Após alguns segundos, o cônsul levantou os olhos e encontrou com o olhar dele, seu nome era Thomaz, ele sorriu afetuosamente, tentando passar conforto e confiança. O cônsul não lhe devolveu o sorriso, apenas encarou uma vez mais o telefone, que insistia em permanecer silencioso.

Thomaz caminhou pela sala, pegou com outro dos agentes uma xícara de café fumegante e caminhou até a sala contígua, onde outros oficiais se encontravam. Sobre uma escrivaninha via-se uma infinidade de papéis e pastas, bem como rascunhos e anotações. Dois computadores portáteis e um gravador também estavam sobre o móvel.

– Alguma novidade Tom? – perguntou um homem de óculos, barba espessa e cinzenta no queixo.

– Nada ainda Ramirez, respondeu ele, nada. Nenhum contato, bilhete, nada.

– Devemos estar deixando escapar algo, disse o outro homem na sala enquanto mordia uma rosquinha.

– Já examinamos tudo cem vezes, Dan, não há nada que tenha nos escapado até agora, tudo o que podemos fazer é esperar que eles façam contato, que façam exigências, peçam um resgate ou algo do tipo.

– Existem peças faltando, Tom, nós nem sabemos como o garoto foi levado. Essa casa possui um sistema de segurança, câmeras e alarmes por toda a parte. Nenhuma porta foi forçada, e o mais desconcertante é a história dos seguranças, todos repetem a mesma história.

– As câmeras confirmam a versão deles, disse Ramirez, até os cães caíram no sono.

– Dezesseis homens e três cães não podem simplesmente cair no sono de uma hora para outra, minutos antes de um sequestro! Nenhuma câmera registrou o momento em que o garoto foi tirado da casa! Nem uma só câmera, nem uma única testemunha!

– Eles podem ter sido drogados, insistiu Dan após um gole de café.

– Já checamos isso, retrucou Ramirez, fizemos testes, de sangue e de urina em todos eles, não há nada, absolutamente nada.

– Então usaram algo que não deixa vestígios, algum tipo de gás talvez. Rosquinhas?

– Não, obrigado, disse Ramirez, estou tentando perder peso. Isso também não é possível, um gás deixaria vestígios no ambiente, e não achamos nada na casa, nada. Nem digitais, nem saliva ou sangue, nem pegadas ou cabelo, nada.

– Achamos cabelo sim, insistiu uma vez mais Dan.

– Pelo de gato, droga! – esbravejou Thomaz – Achamos a droga de um pelo de gato! Em que isso ajuda?

– Acalme-se, Tom, disse Ramirez, o senhor Toshitsugu já está preocupado o bastante, seu filho está desaparecido há três dias, ele não precisa saber que estamos sem pistas.

– O pelo é uma pista, Tom, disse Dan mordendo outra rosquinha, não há gatos nessa casa. A senhora Toshitsugu é alérgica. Essa é a nossa única pista até agora.

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