Capítulo 9

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Nada, não consigo sentir nada além do puro desespero quando ele me diz aquilo. Não é possível, não pode ser, mas por que por dentro, sinto que é a mais pura verdade? Como se tivesse faltando um pedaço da minha memória que não me lembro?

- Eu... Eu preciso respirar. - Falo me levantando e os deixando pra trás. Então começo a correr e a correr sem parar pra pensar no que estou fazendo.

Ninguém vem atrás de mim, não sei onde estou ou como vou voltar, isso não me importa no momento. Tudo que consigo pensar é que todos que amava estão mortos a séculos atrás.

Deus isso parece tão insano.

Sem nem mesmo perceber pra onde ia, acabo chegando a um rio.

Me agacho e bebo um pouco da água e depois jogo água no rosto pra quem sabe disfarçar as marcas deixada pelo choro.

Então com os olhos fechados escuto o barulho de água do outro lado do rio estreito.

Na mesma hora eu paraliso sem saber o que fazer. Correr ou ficar imóvel? Abrir os olhos ou esperar a morte de olhos fechados? Quem sabe seja só um alce bebendo água como eu.

Morrendo de medo, mas com a curiosidade ainda maior eu abro meus olhos.

Preciso de todo meu alto controle pra não gritar e sair correndo. Porque bem na minha frente, me olhando com seus grandes olhos amarelos, está um Geher.

Ele é ainda maior do que imaginava, bem maior na verdade. James tinha razão quando disse que eles se pareciam com um dragão.

Enquanto bebia água sem desviar olhos de mim, fumaça saía da água que evaporava por conta do calor que vinha da sua boca, sua longa calda balançava ameaçadora de um lado para outro, e em cima parecia que tinha algo semelhante a espinhos enormes.

Com muito cuidado fui levantando bem de vagar, me virei e corri.

Nem dois passos depois eu já estava jogada no chão e com a cara na terra.

Uma pata imensa virou meu corpo e o Geher estava sobre mim. Só sua cabeça já dava mais da metade do meu corpo.

Sua cabeça foi se aproximando ainda mais perto da minha, como se tivesse me cheirando.

Então ele rugiu e cada célula minha se pudesse tremeria de medo. James tinha me falado poucas histórias, mas o suficiente para saber que já estava morta.

Essa constatação, me tirou o medo e sobrou alívio. Não tinha mais ninguém, não sabia o que fazer. A morte seria bem vinda como uma velha amiga.

E talvez no meu maior ato de loucura de toda minha vida, eu entendi minha mão e devagar coloquei a mão nele ou nela, até porque eu não faço ideia de como saber isso, e não era um bom momento pra procurar as genitais do animal.

Sua pele era gelada, mesmo com todo o calor vindo de dentro dele.

- Por favor, não irei machuca-lo.

Primeiro pensei que ficaria sem os braços, ou quem sabe todos os membros do meu corpo ( inclusive a alma ) mas para minha total surpresa não foi isso que aconteceu.

Então a criatura emitiu um barulho semelhante a um gato, e esfregou a cabeça ainda mais na minha mão.

- Ah então você é um grandão de coração mole.- eu disse me sentando e colocando as duas mãos sobre ele, que me respondeu como um barulho que vem do fundo da sua garganta.- obrigada por não me comer, ou só matar, vai que você é do tipo que mata mais não come. Não estou reclamando, só especulando.- Eu falo depois do que parece ser um resmungo vindo dele.

Ele deve ter escutado alto, porque levanta a cabeça com os ouvidos atentos a procura do que quer que fosse.

Olhou pra mim uma última vez e com rugido levantou voo e foi para longe.

- O que foi que acabou de acontecer? .- James diz me puxando do chão.

- Eu...Eu não sei.- Falo olhando ainda para o céu, como se ele pudesse voltar a qualquer momento.- Ele só olhou pra mim e foi embora.

- Deveria estar feliz por ainda estar viva.

- Mas ele não me machucaria, você viu eu colocando a mão sobre ele e você o espantou. - Falo irritada.

- Está brava comigo? No estante que eu vi você tive certeza que nós dois estaríamos mortos.

- Não, não estaríamos mortos nem se ele realmente me atacasse, isso tudo não passa de um sonho. Nesse momento eu devo estar amarrada em uma casa num hospício. - Grito. - Isso não é real.

Me viro de costas pra ele e começo andar em direção da floresta.

Antes que eu possa dar mais um passo, ele me puxa meu braço e cola seu corpo no meu, antes que eu possa se quer prever o que irá acontecer.

Uma das suas mãos vão em direção a minha nuca, enquanto a outra aperta de leve minha cintura, então ele me beija.

Não sei dizer se todas as vezes são assim, mas sinto um choque por todo o meu corpo só por ele ter tocado os lábios nos meus e se eu pensei que não poderia ficar melhor, eu estava completamente errada.

Ele aprofunda o beijo e acabo correspondendo a ele, e parece que eu e tudo ao meu redor irá explodir. Meu corpo todo formiga com a expectativa.

Ele me solta tão rápido, que tenho q segurar em seu ombro pra me segurar para me equilibrar.

- E isso é real?.- Ele fala.

Enquanto eu estou toda avoada pelo que aconteceu, ele se mantém inabalável e não sei o porquê, mas isso me deixa arrasada.

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