FELIPE
Minha companheira de longa data, a ansiedade. Ela me acompanha desde os 12 anos de idade.
É estranho pensar que os traumas que descobrimos hoje, são origem de algo que ocorreu faz tempo, nunca percebemos isso.
Lembro quando fui diagnosticado, e eu senti a flor da pele como era ser tratado como aberração, afinal, meus pais tinham um filho gay, e que tinha acabado de descobrir o transtorno que me acompanhava, aquilo era o fim para eles.—Para de falar assim dele! Ele é uma aberração, onde já se viu, filho gay, e ansioso!!! Deveria levar um corretivo pra aprender a virar homem..
Eu ouvia meu pai proferir aquelas palavras, e em até certo momento senti nojo de mim mesmo. Como eu poderia dar tanto desgosto á eles?! Por que meu pai não me amava? Por que minha mãe não dizia nada sobre isso?
Eu só queria ser amado.— Felipe... Vamos ter que te pôr em outra escola, amor..
— Outra, mãe? Por que? Eu não tô indo bem nessa?
Observava a mulher de estatura média, coçar sua nuca, desajeitada mente, como se escondesse algo.
— Vocês me acham diferente, né, mãe?... O que vocês vão fazer comigo?? Me diz!!!
Meu pai aparece no quarto, e me puxa pelo braço, agressivamente, me dando ponta pés.
— Cala boca!!!! Você vai para um internato, e só vai sair de lá quando virar homem!! Me escutou????
Ele proferia palavras duras, e eu não conseguia entender o por quê de tanto ódio carregado naquela fala, apenas me dava mais e mais vontade de chorar, e assim eu fiz.
— PARA DE CHORAR!!!!
Minha mãe corria para perto de mim, tentando me proteger, mas só me machucava mais ver a situação que eles me colocaram, quando eu achava, que eles deveriam me amar.
Desde então, eu me sinto ansioso a cada vez que me remetia a uma situação de tensão, ou simplesmente, por nada.
E isso era o fundo do poço, para mim.E foi lá aos meus 14 anos, no internato, que encontrei o Ramón.
Meu melhor amigo.
Meu ex namorado.
Meu verão.Nós desde sempre fomos próximos demais, a conexão que eu tinha com ele era surreal, as descobertas que fiz com ele, as risadas que dei com ele, os choros que pus pra fora, os abraços apertados, os olhares trocados.
Ramón para mim era como uma estação quente, me provocava calor, pois deixava meu rosto mais vermelho que um tomate.
Me acariciava de um jeito delicado, como se eu fosse desmontar a qualquer momento.
E estava ali, toda hora, todos os dias, para o que fosse.E era isso que me doía mais. Por que eu o amava, o amo. Como amigo, e como namorado, mas nossos destinos foram diferentes assim que saímos. Eu o agradeço, por ser a melhor pessoa que eu poderia ter na minha vida, por ter me dado as primeiras melhores experiências do mundo, mas... Já não me encaixava mais em um relacionamento com ele, e isso me doía como o inferno.
Mas eu sabia, que precisaria ser forte, e encarar tudo de cabeça erguida. As lembranças do meu passado estavam me afetando demais, e ele não precisava mais passar por isso, eu queria e quero lutar contra meus traumas internos, sozinho.
Volto a realidade, quando vejo o visor do celular brilhar.
ROmeu está ligando...
📲 Tá pronto? Tô quase chegando aí, demora não, pô.
📲 To terminando de me arrumar já, avisa quando chegar.
Minto. Se ele soubesse que eu ainda iria me arrumar, com certeza ia querer me matar. E uma mentira não faz mal, né?!
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Psychologist
Non-FictionO que acontece quando um psicólogo se torna extremamente importante para um paciente, sem ser em um sentido clínico? Você acredita em encontro de almas?