One.

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“ No rules, in breakable heaven ”
— Taylor Swift: Cruel Summer ♡

Emma

Eu cheguei antes do horário porque odiava me atrasar e deixar todo mundo esperando. Então, depois de comprimentar cada um que passou por mim, bater um papo com as maquiadoras, beber uns dois copos d'água e checar a maquiagem pela milésima vez (coisa que eu nunca iria me acostumar) entrei no estúdio, comprimentei todos e o programa começou. 
— Estamos ao vivo com Emma Gomez pela primeira vez em nosso programa, que honra! — toda platéia aplaudiu e foi inevitável sorrir. Eu nunca iria me cansar daquilo. Me sentei ao lado da apresentadora carismática e ela me ofereceu um sorriso gentil. — Então, Emma. Seja muito bem vinda ao nosso programa, nós queremos você aqui há tanto tempo, mas com a sua agenda estava quase impossível! 
— Obrigada. — eu sorri, timidamente. — Perdão por isso. Mas agora, eu estou aqui, não estou? 
— Sim e é maravilhoso que esteja! Tudo bem se eu fizer algumas perguntas? 
— Claro! — sorri. — Não prometo responder todas, mas... — todo mundo riu e eu relaxei um pouco mais. 
— Não se preocupe, são perguntas fáceis. Você é muito fã da Taylor Swift, certo? 
— Definitivamente! — a plateia aplaudiu e eu sorri, felizmente meus fãs tem bom gosto assim como eu. — A trilha sonora da minha vida. Ela é perfeita. 
— Claro, isso ninguém pode negar! A mulher faz tudo. Então, você gosta que as mulheres estejam no poder? 
— Óbvio. As mulheres são a melhor nisso. — a plateia soltou um " owwww " seguido de palmas.
— Entendo. — ela piscou, maliciosa. — Você ficou muito famosa com seu papel em The Boss. Na sua opinião, o que fez Victoria Williams conquistar o público geral? 
— O fato dela ser uma mulher de personalidade forte e empoderada ajuda muito. — comecei. — Quando a trama começa, ela é uma funcionária capaz de tudo para ter seu trabalho reconhecido e a tão sonhada promoção. Mas assim como a maioria, a empresa onde ela trabalha é machista, então muitas vezes os próprios colegas tentam sabotá-la, fazer com que ela pareça vilã e até mesmo, roubar os créditos do trabalho dela. Ela tenta não deixar que isso atrapalhe seu desempenho, mas é muito difícil porque do outro lado, ela é uma mãe batalhadora, amorosa e dedicada. Então, ela precisa se desdobrar para conseguir equilibrar tudo. Mas ela também é sensível... Então, muitas mulheres se identificam com ela por isso! Eu mesma a admiro muito e entendo tudo o que ela sente e passa durante a trama inteira. 
— Exato! Todo mundo aqui concorda que você fez um trabalho com essa personagem tão forte, não é mesmo? — todos aplaudiram e meu coração ficou quentinho. — Eu tenho que parabenizar você, Emma, eu tô acompanhando a novela desde o começo e me identifiquei tanto com a Torie! 
— Muito obrigada, foi uma honra! — sorri. — Tem uma música chamada “ The Man ” da Taylor que fala justamente sobre isso e eu meio que exigi que estivesse na trilha sonora. — todos riram e eu cruzei as pernas. 
— Você realmente fez isso? — ela perguntou rindo, chocada. 
— Mas é claro! Eu acho que é a música perfeita pra Torie e tudo o que ela vive. O que eu mais amo nela é justamente isso: ela nunca desiste apesar das dificuldades, ela passou por tanta coisa mas isso não tirou seu brilho, sua essência, pelo contrário, a deixou mais forte. Eu poderia interpretá-la para sempre, se fosse possível. — garanti, com um sorriso orgulhoso. 
— Eu com certeza não iria reclamar disso! Vocês iriam? — a platéia gritou “ não ” em uníssono. — Então, você tem essas qualidades em comum com a personagem? 
— Sim! Eu diria que não sou tão corajosa quanto ela, mas eu sou muito sensível também. E nós temos tanta coisa em comum que às vezes acho que foi inspirada em mim.
— Isso seria incrível! Então, qual foi seu maior desafio em interpretar Victoria?
— Torie é uma personagem complexa. Às vezes, ela age de acordo com a emoção. Outras, com a razão. Nem sempre ela está certa. Meu maior desafio foi lidar com tudo isso durante a preparação, porque eu ficava tipo “ ela realmente vai fazer isso? ” enquanto lia o roteiro, já que ainda não estava familiarizada com ela e tudo mais. Quando as gravações começaram, ficou muito mais fácil de entendê-la. 
— Uau, dá pra ver que você mergulhou de cabeça nesse papel! Antes dele, você já tinha trabalhado em novelas antes. Qual papel mais marcou você antes da Torie? 
— Sabrina, com certeza! Eu amo o quanto ela não se importa com a opinião de ninguém sobre ela. É segura, confiante, empoderada num nível absurdo e tão nova. Ela teria sido minha idola se existisse na vida real, com certeza. Mas apesar de tudo isso, ela com certeza não impediria um casamento. — eu ri e a plateia me acompanhou. 
— Então você não impediria um casamento, como a Torie? — ela perguntou. 
— Sim... — todo mundo caiu na gargalhada. — É bem a minha cara fazer isso. 
— Realmente. Quando a Torie decide impedir o casamento da Lucy é um momento muito marcante na trama, o que você pensa sobre isso, a atitude dela? 
— Penso que é um ato muito corajoso e arriscado. 
— Entendo, e quanto a Lucy? 
— A Lucy é a alma gêmea da Torie, o que eu posso dizer sobre ela?
— Você acha que ela foi muito ruim ou…?
— Eu acho que apesar de muita gente ter ficado com raiva do que ela fez, é preciso lembrar que aceitação é uma coisa complicada, delicada. Nem todos se aceitam de imediato. Uma coisa engraçada é que a Torie é aquele tipo de mulher que vive estressada, mesmo tentando manter a calma sempre, dá pra ver que ela precisa de umas férias de tudo. E a Lucy já tem uma energia mais leve, ela é o tipo de mulher que vive os momentos e não os dias. Então, eu acho que elas se complementam — fiz aspas — nesse aspecto. É muito lindo.
— Hum, pelo visto você é uma pessoa extremamente romântica, certo? 
— Ah, um pouquinho. — eu sorri. — Eu lia muitos romances na adolescência, então eu meio que posso por a culpa nisso. Mas por conta própria, diria que eu sou a famosa “ romântica incurável ”.
— Ah, eu sabia! Você gosta muito de ler?
— Sim! É um hábito que eu mantenho  sempre, apesar de que antes tinha muito mais tempo. É uma ótima terapia enquanto espero pra gravar uma cena e outra. 
— Isso é ótimo. Voltando a The Boss, como foi gravar a cena do casamento? Ou melhor, do impedimento.
— Ah, eu me diverti muito nas gravações, aquele dia estava fazendo muito sol e grande parte das cenas foram captadas ao ar livre então a equipe foi maravilhosa e muito paciente com todo mundo.
— Entendo, imagino o quanto você deve ter se divertindo. E falando em casamento, você pretende casar, algum dia? — um “ ui ” em uníssono vindo da platéia me deixou ansiosa. 
— Não está nos meus planos. No momento, eu quero me dedicar totalmente a minha carreira por pelo menos mais dois anos, mas quem sabe algum dia. De qualquer forma, é loucura casar comigo! — argumentei. — Não sei cozinhar. 
— Mas isso é o menos, Emma! — a mulher riu. — Você deve ser boa em outras coisas, não deve? — havia uma leve malícia em seu tom, o que provocou a risada do público.
— Sim, mas imagina o desastre: casar com alguém que não sabe cozinhar? Ninguém merece isso! Eu provavelmente vou ser uma solteirona de 50 anos, famosa pela quantidade de gatos. — a apresentadora não foi a única a rir. 
— E filhos, você pretende ter? — essa era o tipo de pergunta que eu mais odiava. Mas gentilmente, eu respondi:
— É mais provável que eu tenha filhos do que vá me casar. — confessei. A plateia soltou um “ awwwwn ”. 
— Melhor ainda. — a apresentadora sorriu. — Você não fala muito sobre sua vida pessoal, certo? 
— Não, pelo fato de eu ser uma figura pública, muita coisa sobre mim é exposta, com ou sem a minha permissão. Então, essa é uma área da minha em que eu quero privacidade, definitivamente. 
— Entendo, você está certa. — a entrevista prosseguiu tranquilamente. Era isso o que eu mais gostava: quanto mais as pessoas me entrevistavam, mais elas me conheciam. Não como uma famosa cuja carreira estava em ascensão, mas como um ser humano. Às vezes as pessoas esqueciam disso, e não pensavam duas vezes antes de publicar uma notícia sensacionalista, tentando acabar com a minha imagem. Isis tinha trabalhado nisso, o que significa proibir ou limitar o meu acesso às notícias que envolvam meu nome. Mas nem sempre isso funcionava e era o preço a ser pago, a consequência da fama. Por mais que na internet tivesse inúmeras notícias falsas sobre mim, responder com fatos qualquer pergunta que me fizessem nas entrevistas era o que eu podia fazer para lidar com tudo aquilo sem surtar. Eu não era o tipo de artista que ia com todas as falas ensaiadas pra não fazer nada errado ou algo assim. Gostava da espontaneidade, embora ela também me assustasse. 

cruel summer ²Onde histórias criam vida. Descubra agora