𝙥𝙖𝙘𝙞𝙛𝙮 𝙝𝙚𝙧 𝙭 𝙗𝙮𝙡𝙚𝙧

1 - Acalme ela, ela está me dando nos nervos

Ninguém sabia como ou porquê o prefeito de Hawkins havia decidido iniciar uma nova tradição anual, O Festival de Verão de Hawkins; mas de uma coisa se tinha certeza: todos amavam o festival.
Esperavam ansiosamente durante o ano todo pelo verão para que na segunda semana da estação mais quente do ano as barracas fossem erguidas, trabalhos temporários fossem arranjados pelos desesperados adolescentes loucos para juntarem um dinheiro a mais, brinquedos fossem montados para a diversão das pessoas e, para que o cheiro de algodão doce e raspadinha de cereja tomasse conta da cidade.

Menos Will Byers.

Para ele era uma grande besteira aquele festival. Como se já não bastasse ser no verão, a estação mais detestada pelo garoto de olhos verdes, ele tinha que aguentar todos falando do quão estavam felizes. Felizes pelo verão, felizes pelo algodão doce, pelas prendas nas barraquinhas de tiro ao alvo que ganhavam dos namorados, pelos beijos de roda gigante.

Ah, sim; os beijos. Ele não conseguia nem imaginar o que daria para estar no lugar da irmã. A mais de um ano Jane, El ainda carinhosamente (ou nem tanto assim) chamada pelo AV Club, namorava Mike Wheeler, o melhor amigo de Will, seu primeiro amigo, seu primeiro amor.

Só Deus sabe (inclua Max, Eddie e Richie nessa equação também) quanto Byers se culpava por gostar de Mike. Will não acordou em um dia e simplesmente sabia que gostava de seu melhor amigo, não, definitivamente não. Levou anos literalmente falando.

Ele não sabia quando havia começado, se foi quando Mike o beijou quando tinham doze anos, se tivera sido no momento em que Mike pediu para ser amigo de Will, ou se foi quando Mike passou uma semana inteira procurando pelo amigo quando Byers se perdeu no meio da floresta, ou quando ele abraçou Will com toda a sua força quase inexistente e disse que nunca mais o soltaria. Mas ele soltou. Soltou e abraçou outra pessoa, El, a menina que apareceu na cidade exatamente na mesma época que William havia desaparecido. Agora ela era Jane Hopper, a filha do chefe de polícia de Hawkins, irmã de Will.

Por insistência dos amigos, Byers foi junto do grupo ao Festival, muito contrariado, mas foi. Já fazia cerca de uma hora e meia que estavam lá e ele já estava entediado - irritado também - com toda aquela "felicidade momentânea". Era isso que Will pedia que Jane fosse para Mike, uma felicidade momentânea, que uma hora o mais velho olhasse Will e ficasse com ele, para que realmente ficasse com ele. Will não queria ser seu estepe, queria ser seu, completamente seu. Seu namorado, seu melhor amigo, seu amor...

Nao queria que Mike traísse a irmã como havia feito outras vezes. Oh, sim. Michael Wheeler não era tão inocente quanto todos pensavam. Will já não podia contar nos dedos a quantidade de vezes que os dois haviam terminado e reatado, mas conseguia contar as vezes que Mike havia a traído. Sete vezes no total. Todas com começos inocentes, mas que no fundo eram sordidamente planejados por Mike.

Wheeler era um garoto inteligente, sabia de muitas coisas. Sabia o número de pi e todas as suas casas decimais desde os onze anos; sabia a Constante de Planck; sabia que se misturasse certos elementos químicos conseguiria fazer um acido; sabia enrolar um baseado; sabia como bater uma punheta no melhor amigo e o mais importante ele sabia dos sentimentos de William.

Além de inteligente, ele era observador.

Byers estava sentado com seu celular em mãos observando todos que andavam pelo colorido festival. Seu olhos verdes inconscientemente procuravam pelas orbes negras de Mike Wheeler. E ele conseguiu as achar.

Cansado, o garoto azul, como Will chamava o mais velho quando estava acompanhado de Jane, andava em sua direção. Estava claramente irritado, e segurava as mãos de uma menina, as mãos dela. Jane estava radiante e tagarelava sem parar no ouvido do namorado que parecia não dar muita atenção para a menina. Ela só parou quando avistou uma barraquinha de churros disse que iria sair e já voltava, deu um beijo na bochecha do namorado - se claramente ficou indiferente e aliviado pela ausência da garota - e saiu.

   - Aquela vadia básica finalmente saiu. - Will falou para si mesmo quando levantou indo em direção ao melhor amigo que sorriu ao lhe ver.

"Fique longe de coisas que não são suas" - William se lembra do que Jane lhe disse quando percebeu o quão íntimos eles eram.

"Mas se ele não era seu, por que ele lhe queria tanto?" - pensou segundos antes de cumprimentar o garoto de 1,80 com cachos rebeldes com um caloroso abraço.

O abraço havia acabado mas do mesmo jeito Byers manteve suas mãos ao redor da nuca do maior, que por sua vez descansava as próprias na cintura fina de William.

- Senti sua falta, Mike. - disse e repuxou alguns fios de cabelo da nuca de Wheeler.

   - Mas a gente se viu ontem, Will! - exclamou e riu da revirada de olhos que o mais novo deu.

- Mas a gente mal se falou, faz tempo que não conversamos como antes. Eu sinto saudade daqueles tempos. - disse. - Você devia ir dormir lá em casa um dia desses.

   - Com certeza. - Michael percebeu o tom de malícia do castanho e apertou a cintura do mesmo. Will sorriu porque viu que o maior ainda tinha atração por ele. Mas o sorriso se desfez na mesma hora que viu uma Jane furiosa vindo na  direção dos dois meninos. E logo o menor agarrou firme a nuca de Mike e trouxe para perto do seu rosto o ouvido do maior. — Acalme ela. Ela está me dando nos nervos. — sussurrou para o menino e deixou um beijo em sua bochecha antes de sair e deixar Michael sozinho para enfrentar a fúria da namorada.