Episódio 1: Um mundo perfeito

45 5 3
                                    

Meu nome é Duncan Cooper, tenho vinte e três anos e sou pesquisador na área de ciências quânticas. Meus estudos sobre tecnologia e inteligência artificial me levaram ao colégio Dallas, onde conheci Mily, uma talentosa estudante que mudou minha vida. Literalmente.

Mily é uma garota especial de tantas formas que seria impossível descrever todas. Nem ela própria tinha ideia de todo seu potencial. A história que vou contar remete ao tempo que passamos juntos. Um tempo breve demais, mas intenso o suficiente para que descobríssemos o significado do amor.

As andorinhas cantando no galho em frente à janela do quarto soavam quase como um despertador natural para Mily. Os pássaros haviam se mudado para ali no início do verão e agora, já no final do outono, preparavam-se para se despedir da vizinhança.

Mily esticara os braços, ainda deitada, se espreguiçando enquanto bocejava. Os números no relógio digital sobre o criado mudo marcavam cinco horas mais três quartos. Quase seis da manhã. A garota piscara, se acostumando com a luz que invadia o aposento por uma fresta aberta na janela.

O clima na pequena cidade de Hill Valley era quente e úmido na maior parte do ano. Por essa razão, Mily se acostumara a dormir com a janela meio aberta. Uma das vantagens em se morar na cidade mais segura da América do Norte, de acordo com as estatísticas, como os moradores se orgulhavam de dizer.

Após suspirar novamente reunindo forças para se levantar, a morena voltara a atenção para a janela, procurando ver o lado de fora, além da estreita abertura.

—Bom dia, João e Maria. Como estão Bernardo e Bianca?

João e Maria eram os nomes que Mily havia dado ao casal de andorinhas que construíra seu ninho no galho de árvore em frente à sua janela. Da sacada, era possível ver um casal de filhotes, que a jovem batizara de Bernardo e Bianca.

Filha única, desde pequena Mily aprendera a lidar com a solidão. Uma saída que encontrara fora nomear todas as coisas à sua volta. De acordo com a garota, nomes criavam um elo de intimidade difícil de se quebrar.

Enquanto os amigos tinham seus próprios nomes, a menina adorava nomear animais e outras coisas. Era também um exercício para memorizar tudo por onde passava. Memória eidética, uma vantagem estratégica em qualquer situação.

Menos de um minuto depois, Mily já estava em pé. A luz do quarto continuava apagada, deixando quase tudo mergulhado na escuridão. Listando mentalmente cada passo daquele dia, a garota seguira direto para o banheiro. Necessitava de um banho quente e um café da manhã reforçado.

Como acontecia diariamente, Mily descera para o andar de baixo seis e dez. O cheiro de café quente passado naquele exato momento e de bacon com ovos inundava a cozinha. Havia também panquecas com mel e leite.

Embora a mãe da menina fosse uma conceituada advogada, Mily dizia que se ela deixasse o escritório, poderia facilmente trabalhar como cozinheira e ficar rica. Seria adequado, não fosse pelo fato de já serem ricos. Porém, era inegável o talento de Penélope Hoafstader como cozinheira.

—Está linda nessa manhã, querida.

As palavras vinham de um homem de cabelo, barba e bigode castanhos que usava óculos de lentes quadradas e armação negra. Os olhos escuros fitavam a jovem que havia acabado de se sentar à mesa.

Analisando a xícara de café em uma das mãos e a valise prateada na outra, além do terno e a gravata já arrumada, Mily deduzira que o pai estava atrasado para o trabalho na promotoria da cidade.

—Diz isso todos os dias – respondera ela com um sorriso.

—Digo apenas a verdade – comentara o sujeito, provando o café – Sempre me lembra sua mãe na sua idade. As duas mulheres mais lindas que já conheci.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 04, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

MILYOnde histórias criam vida. Descubra agora