Capítulo 2 - Mutação

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  Abro os meus olhos e sinto uma dor enorme no meu corpo inteiro, mas principalmente na minha boca. Aquilo doía tanto que eu não conseguia nem me mexer, não conseguia falar nada, tudo o que eu sentia era uma dor imensa, principalmente ao encostar uma gengiva na outra, afinal só me restou isso.

  -Ei, psiu... Ei Três, você tá bem? Está deitado aí um tempão.

  Um... Queria tanto te responder, mas infelizmente não consigo me mexer, nem sequer virar a cabeça para te ver, afinal sua jaula é ao lado da minha.

  -Como ele está Um? -Sete perguntou. Ele fica na jaula de frente para a dela.

  -Não sei dizer... Mas me dói vê-lo assim. -Ela disse, o que me fez deixar uma lágrima escapar.

  Droga, eu tenho que ser forte. Penso nisso e acabo caindo em um sono profundo.

  Acordo com os sons de alguém gritando e imediatamente me jogo da minha cama e caio no chão, fazendo meu corpo todo doer ainda mais, mas mesmo assim, me arrasto até conseguir chegar bem perto da jaula da Um, pois os gritos eram parecidos com os dela. Tento chamá-la, mas quando abro a boca, nada sai. Continuo me arrastando até encostar minha mão na grade que separava as nossas jaulas, assim que levanto a minha cabeça lentamente e olho ao redor, meu coração começa a ficar acelerado, afinal onde ela estava?
  Começo a sentir como se tivesse algo entalado na minha garganta e eu não conseguisse engolir. Começo a chorar até que ouço o Sete gritar.

  -Três acorde!

  Abro os meus olhos e percebo que os gritos não eram da Um, eram meus, o que era aquilo que eu estava sentindo em minha boca, talvez dentes? Me levanto sem sentir muita dor e começo a apalpar os meus dentes. Eles eram maiores e afiados, como presas, começo a sentir meu corpo coçar e assim que me coço, minha pele começa a cair me deixando desesperado.
  Começo a arrancar toda a minha pele, porém a camada debaixo, escurece assim que a pele de cima sai. Quando acabo de me coçar, percebo que toda a minha primeira camada de pele havia sido removida e eu estava ao tom de preto com algumas partes cinza-escuro.
 
  -Três... Sua pele está... -E antes que Sete pudesse terminar eu o interrompo.

  -Diferente? Era isso que ia dizer?

  -Algo assim.

  -Será que um dia isso vai acabar? -Pergunto vagamente.

  -Talvez... Mas veja o lado bom, você não perdeu as mãos e ganhou asas no lugar, asas inúteis, sem contar nas minhas orelhas de coelho e meus dentes de roedor. O que quero dizer é que, mesmo assim, você ainda tem chance de tentar sair daqui. -Sete diz convencido.

  -Você também tem Sete, afinal chegou até aqui, você sobreviveu. - Digo, mas vejo uma tristeza se apossar do rosto de Sete.

  -É diferente. Tudo dentro de mim já está morto, ao contrário de você Três, vejo algo que te motiva, alguém aliás. Então, assim que tivermos uma chance eu te ajudo a sair daqui com ela. -Ele disse se referindo a Um.

  -Não sei nem o que dizer. -Sorrio de canto. -Aliás, ele levou a Um?

  -Infelizmente sim.

  Assim que ele diz isso ficamos em silêncio por vários minutos até que me sentei na minha cama aguardando ele trazer ela de volta. Aguardo por horas até que caio no sono.
  Acordo com o som da porta de metal batendo, ouço as rodas da mesa de metal seguirem pelo corredor até chegarem na jaula dela. Quando ele para para abrir a jaula, eu me levanto e me aproximo para vê-la, ela estava toda enrolada em um plástico preto. Ele empurra a mesa para dentro da jaula, tira as amarras que deixaram feridas sangrentas e antes de a empurrar para a cama, ele retira o plástico preto o que me deixa em choque.
  A pele dela parecia carvão, o cheiro de carne queimada começava a se dissipar pelo lugar. Aquilo me deixou irado.

  -Eu vou te matar! -Eu disse balançando as grades de metal da minha jaula, fazendo ele me olhar. -Você vai pagar por tudo que fez!

  Ele se volta para a mesa de metal e empurra a Um dela, fazendo ela cair na cama, em seguida se retira da jaula junto da mesa de metal. Assim que ele tranca a jaula, retira sua pistola do bolso e começa a recarregar ela, porém ao invés de usar os dardos verdes que contém o sonífero ele recarrega com os vermelhos que tem o efeito mais prolongado por conter o tranquilizante.

  -Pensa que isso me assustar? Vou cortar você em pedacinhos. -Ameaço.

  -Três, três... Eu ia esperar, mas já que você parece estar com tanta energia, esperar não seria mais uma opção. -Ele sorri e logo em seguida atira em mim dardos com tranquilizante.

  Acordo na mesa de metal determinado a sair dali, porém antes que eu pudesse bolar qualquer plano ele aparece com um serrote e sem mais nem menos começa a serrar meu buço fora, como eu estava com a minha cabeça imóvel, tudo o que eu pude fazer foi grunhir até desmaiar de tanta dor.
  Acordo aos poucos e começo a desviar meu olhar ao redor até ver uma bandeja com a pele do meu rosto e os músculos. Eu comecei a ficar em choque, pois o pouco da carne viva que ficou em minha face estava mudada, ficou da mesma cor da minha pele, escura com pontos cinzentos.
  Eu sentia meu rosto latejar, tanto que acabei deixando algumas lágrimas descerem por meu rosto o que fez as feridas arderem ainda mais.
  Ouço passos em minha direção, e assim que ele chega perto de mim, estica um de meus olhos com sua mão e o fura com uma agulha, aquilo foi a coisa mais agoniante da minha vida. Gritei o máximo que pude, pois a dor era intensa demais. Assim que ele retirou a agulha eu senti meu olho sangrar e mesmo assim ele fez a mesma coisa no outro. Eu nunca havia sentido uma dor como aquela. A agulha chegava a dançar pela minha íris. Assim que ele a retirou, eu comecei a chorar sangue e de repente,  a minha visão deixou de apresentar as cores normais e ficou toda vermelha, no tom do sangue. Eu não enxergava mais nenhuma cor, tudo era vermelho.

  

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