Capítulo 3 - A Última Sexta-Feira

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  Abro os meus olhos e vejo que eu não estava na minha jaula, aonde eu geralmente costumo acordar. Penso que talvez tudo aquilo poderia ser obra de um pesadelo, mas não, eu ainda enxergava tudo ao tom vermelho, além de que tudo em mim, havia mutado.
  Assim que me levanto do chão, observo mais o lugar em que eu estava e sinceramente, parecia um tipo de caverna. Começo a escutar a voz daquele maldito cientista e de imediato, procuro a direção da voz e assim que eu olho para cima, eu vejo uma espécie de caixa de som.

  "Atenção experimentos, chegou o dia do teste final de vocês. Apenas um de vocês sairá vivo daqui, aqueles que se recusarem a participar serão descartados... Este teste começa agora, à meia-noite de sexta-feira 13, e terminará quando o sol das seis da manhã raiar, boa sorte".

  Teste final? Droga, eu preciso achar a Um e o Sete. Haviam três direções em que eu poderia seguir naquele lugar, indeciso, vou pela do meio. Como eu estava com pressa, começo a correr como se não houvesse um amanhã.
  Meu coração estava bem acelerado e a pulsação só aumentou quando eu encontrei com alguém que não era a Um nem o Sete.

  -Ora, ora o que temos aqui? Seria outra aberração? -Ele sorri.

  -003 e você seria?

  -090, me sinto quase lisonjeado de conhecer você Três, pena que não vai durar muito.

  E antes que eu pudesse pensar o Noventa veio em minha direção, tentado a todo tempo me morder, pois sua mutação aparentemente era baseada em uma serpente com mãos pequenas e com um chocalho que chegava a me irritar cada vez mais.
Para dar um fim a aquilo, eu paro de me esquivar e fico totalmente imóvel, quando ele vem em minha direção tentar novamente o seu bote, eu desvio e dou uma mordida letal em sua cabeça, fazendo aquele gosto de sangue na boca me deixar enojado. Solto a cabeça do Noventa e o deixo caído, pois eu precisava continuar a seguir em frente para encontrar eles o mais rápido que eu pudesse. Começo a caminhar, ainda com um aperto no coração, porém começo a ouvir sons de luta e corro de imediato na direção deles, pois a Um poderia estar em apuros.
  De repente o som cessa e eu começo a correr mais rápido ainda, até que eu os vejo, suados com a respiração forte, paro e eles se viram para mim.

  -Três! -Um grita correndo em minha direção, pulando em mim e me abraçando.

  Abraçar a Um, deixou o meu coração calmo, apesar de eu sentir o meu corpo começar a queimar, pois aparentemente a última mutação da Um foi em sua pele, que virou um tipo de carvão que não parava de queimar e de produzir lava. A Um era a lava do fogo com uma brasa super quente que eu suportaria com prazer para ficar com ela.
  Assim que a Um me solta, olho para o Sete e vejo que uma de suas orelhas de coelho estava decepada pela metade e suas asas perfuradas, restando apenas o sangue escorrendo por suas feridas.

  -Você tá legal para seguir Sete? -Pergunto.

  -Não se preocupe que vou ficar bem. A questão agora é que não podemos ficar parados, acho que deve ter mais dez experimentos tirando a gente e os que morreram. -Sete disse.

  -Eu acho que eu tenho um plano... Vamos seguir essas caixas de som até o lugar onde estão sendo transmitidas e encontrar o cientista e fazê-lo pagar por tudo o que ele nos fez. -Eu disse convencido.

  -Podemos tentar, mas os outros vão nos caçar. -Um disse um pouco preocupada.

  -Eu matarei todos eles. -Sete respondeu.

  -Acho que distraí-los deve bastar, assim que terminarmos com o cientista, voltamos para te ajudar. Então resista. -Digo e vejo Sete consentir.

  Começamos a seguir o caminho das caixas de som do rádio que transmitiu a voz do cientista no teto da caverna. Seguimos por horas, fizemos no total, quatro paradas, até que eu comecei a questionar aquele plano que eu havia traçado.

  -Parem. -Sete disse. -Estão ouvindo isso?

  E antes que pudéssemos responder o Noventa aparece com outros quatro.

  -Vão! Eu irei atrasar eles o quanto eu puder. -Sete diz se pondo na frente.

  -Voltaremos por você. -Digo pegando na mão da Um e começando a correr.

  Corremos o mais rápido que podíamos, até que encontramos uma porta reforçada de metal e aço. Um se coloca a frente e começa a derreter a porta. Assim que ela derrete uma fenda grande o suficiente para nós passarmos, eu ouço os ecos de gritos, eu sabia que eram do Sete, aquilo me deixou furioso.
  Passamos pela fenda e entramos em uma espécie de corredor, vistoriamos todas as portas até que eu escutei a Um dizer.

  -Desgraçado!

  Corro na direção dela e a vejo fervendo e pronta para o atacar, porém ele injeta em si, alguma substância e começa a se mutar. Ele se contorce por inteiro e os seus ossos começam a quebrar. Sua boca se rasga dando lugar a dentes com uma gosma verde saindo deles, imagino que seja veneno. Ele se transforma em um lobisomen, porém a pele dele ficou igual a da Um, como se ele tivesse a mesma mutação.
  Antes de mais nada a Um avança, porém ele a morde afastando ela, o que me faz avançar, logo o corpo dele se muta novamente ficando todo preto como o meu, além dos dentes que aumentaram significativamente. Tento o morder, porém quando ele desviou e escancarou os dentes para acabar comigo a Um se pôs na frente e levou outra mordida, ela começou a empurrar ele para fora daquela sala, e ele a mordeu mais uma vez até que ela deu um empurrão e fechou a porta á trancando. Arrastei os móveis para segurar.
  Fiquei de prontidão por alguns segundos. Ouvi gritos de quatro experimentos, entre eles o do Noventa, o que me deu uma certa satisfação.

  -Três... -Um disse antes de cair no chão.

  Corro até ela, me abaixo e a coloco sobre o meu colo, olho as mordidas e elas começaram a deixar a pele carvão da Um a ficar cinza. Lágrimas se formaram em meus olhos, pois eu sabia que o veneno das mordidas daquele maldito iriam matá-la.

  -Eu sempre te amarei Um. -Digo e beijo ela.

  Assim que o beijo cessa ela diz em um tom de sussurro.

  -Amo... Você... Trê... -Antes que ela pudesse terminar, ela dá seu último suspiro.

  Lágrimas saem da minha face, me fazendo sentir um vazio. Eu não tinha mais nada a perder. Vou em direção a porta, a abro e o vejo devorando os corpos daqueles quatro. Abro bem a minha boca, me agacho e dou um salto, mordendo o pescoço daquele maldito. Ele se contorce e se bate nas paredes, até que eu rasgo sua pele o soltando. Ele rapidamente se regenera, e então eu me lembro que o motivo pelo qual não víamos o sol, era que ele era mortal para nós metamorfos. Corro para o lado oposto, pois no final daquele corredor havia escadas que subiam até a superfície, a minha sorte era que eu havia vistoriado aquele lugar atrás desse maldito.
  Ele corre atrás de mim e me segue dentre o rolo de escadas, eu faço de tudo para manter o ritmo. Eu passo por quatro rolos de escadas até chegar na comporta, faço a rotação para abrir ela o mais rápido que eu podia, quando a abri sai correndo para fora e logo vi que estava prestes a amanhecer, pois faltava pouco para o sol sair. Ele sai atrás de mim e eu abro os meus braços dizendo.

  -Você vai pagar por tudo que nos fez...

  Ele corre em minha direção e me morde, me sacudindo de um lado para o outro, porém o sol sai e ele me solta, pois começa a se queimar, o que fez um sorriso se abrir em meu rosto. Eu também comecei a queimar, mas ele virou pó primeiro, o que me fez sentir uma paz em meu coração, pois eu sabia que eu iria reencontrar a Um.

Fim.

3000 palavras.

13Onde histórias criam vida. Descubra agora