PROLOGO

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O choque me fez acordar. E é essa a parte que eu realmente não consigo explicar.

Quando eu era criança, não me lembro da idade que tinha naquela época, mas eu lembro de como eu e a minha família estávamos em um clube e simplesmente me joguei na piscina mais funda do lugar. O motivo? Eu não tinha medo, eu achava que era fácil nadar, tão fácil como respirar, mas não era. Eu me lembro da sensação de queimação nos pulmões, de como queria gritar e não conseguia, eu abraçava o vazio e não encontrava nada. Desde esse dia meu maior medo era me afogar de novo. Eu tenho fobia a rios, é um desespero sem fim só de imaginar aquilo de novo. Eu também me lembrava de como consegui respirar novamente depois de toda aquela agonia, o choque. O ar entrando com força nos meus pulmões, me fazendo vomitar e me engasgar com a água. Eu me lembro exatamente de como foi ver o céu depois de ser salva da água. A queimação de conseguir respirar de novo.

E era exatamente que eu me sentia agora. Não tinha água, então eu me engasguei com o próprio oxigênio. Devo ter tossido bastante, só então eu senti o frio. Eu vivi minha vida inteira em um lugar que quase nunca fazia frio, o máximo que eu suportava sem reclamar era uns 22° graus e olhe lá.

Minha boca tremia e só então eu olhei ao redor.

Que porra é essa?

Era uma sala não muito grande com luzes fortes e para piorar a situação eu senti a ausência de roupas.

Mas que porra é essa? Ate morta eu vou passar essa vergonha? Eu morri?

Minha mente disparava tentando encontrar uma resposta para o que estava acontecendo. Um barulho me chamou atenção, e eu foquei para tentar ouvir os sons abafados fora da sala.

- É uma mulher. 21 anos. Morte instantânea por colisão em um acidente. Prepare o corpo para transporte, é uma cerimonia simples e seguiremos para o crematório. Era desejo da defunta ser cremada. – Parecia uma voz feminina falando rápido e em tom entediado.

Minha mente surtou, a ultima coisa que me lembro? O que eu estava fazendo? E porque eu estava morta? Eu já havia morrido há anos...

Outro barulho me assustou e eu pulei da coisa dura em que estava deitada, me enrolando no lençol fino que cobria meu corpo nu. Se eu já não estivesse morta iria desejar minha morte por estar nessa situação, caramba, se isso era um sonho quando é que eu ia acordar de novo?

- Prepare o... – a mulher que me encarava não conseguiu terminar sua frase e logo soltou um grito de susto, doeu meus tímpanos, mas se eu tinha alguma duvida de estar acordada, essa duvida se fora no mesmo instante, era impossível ouvir aquele grito fino e não acordar de verdade – Você está viva? – ela ainda me encarava boquiaberta

- Obviamente não era a defunta que você esperava ver – consegui responder com a minha voz rouca e mais uma vez senti frio – O que diabos está acontecendo? Cadê minhas roupas? Obviamente eu estou em um necrotério e pasmem! Eu já saquei que eu era o defunto, mas como essa merda aconteceu? – precisei respirar fundo para recuperar o folego depois de desatar a falar desse jeito.

- Moça... – a mulher me observava com curiosidade e falou como se tudo fosse muito obvio – Você sofreu um acidente de carro há 48h atrás e foi dada como morta assim que chegou ao hospital, nós somos da funerária...

- 48h? eu sofri sim um acidente sim, mas já faz anos... Eu já estou morta! Cadê o cara que estava comigo? Ele vai explicar tudo! – Minha mente parecia se encher de neblina e eu pude sentir uma dor aguda na testa – Ai! – Disse incomodada passando os dedos na testa e sentindo ferimentos recentes.

- Você estava dirigindo sozinha, moça... à proposito, a senhora foi dada como morta no dia do seu aniversário de 21 anos. É um espanto e milagre que esteja viva! – Ele me dirigiu um sorriso fraterno e finalmente minha ficha caiu.

Naquele dia, no dia da minha experiência extra corpórea, quando eu fui parar naquele lugar desconhecido, onde vivi por anos, com o... Porque eu não conseguia lembrar do seu nome? Eu sonhei? Quem era ele? Porque eu não conseguia lembrar seu nome? E porque eu queria tanto encontra-lo?

Foi aí que a desgraça toda começou e eu voltei a ser chamada de aberração: "O curioso caso da menina que ressuscitou". Realmente maravilhoso!

O Cara dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora