DOIS

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Eu despertei e olhei ao redor, mas eu não estava dormindo antes, eu estava em pé em um lugar repleto de pessoas conversando e rindo.

Oque porra tava acontecendo? Eu acabei de morrer e estou em uma festa? Sério, eu não tava entendendo nada e pior, eu não sabia onde estava e não conhecia ninguém naquele lugar.

O ambiente já era estranho por si só, tudo parecia um pouco antiquado e a cena se desenrolava em preto e branco, como aqueles filmes antigos. Eu via taças de algum tipo de bebida, e eu não estava mais usando minha calça jeans e minha blusa preta básica. Em vez disso eu estava com um espartilho e uma saia longa e cheia, eu sempre quis usar um vestido assim, me senti até sexy por um momento, mas aí eu voltei e pensei novamente "oque porra tá acontecendo?". 

Caminhei pelo lugar pelo que me pareceu horas, tinha muita gente ali, alguns me cumprimentavam e eu apenas sorria de volta e voltava a andar mais rápido para não ter que conversar com ninguém.
A paisagem era de tirar o fôlego, eu nunca tinha visto o mar, quando eu era criança eu me afoguei em uma piscina de adulto e desde então passava bem longe de entrar em rios ou piscinas. Eu gostava de observar, mas de uma distância segura. Fiquei um bom tempo vendo as ondas se quebrarem nas pedras enormes que tinham lá.
Voltei a caminhar e desejei não estar usando aquele vestido pesado, ele era lindo, mas bastante desconfortável.
A cena e tudo ao meu redor mudou, como um salto no tempo, tudo deixou de ser preto e branco e agora eu estava usando roupas normais, que sonho louco é esse? Será que eu morri de verdade? Eu só conseguia pensar nisso.
Em determinado momento cansei de andar e voltei para a praia, eu não estava cansada fisicamente, oque era estranho, eu só não queria mais caminhar. Fiquei observando, quando vi alguém de longe, parecia um homem, mas não consegui identificar qual a faixa etária dele. Ele usava preto, e um boné preto também, não fiquei olhando muito, não dava pra ver quase nada mesmo.
Não sei por quanto tempo continuei lá, mas em determinado momento devo ter caído no sono, era possível dormir dentro de um sonho? Fantasmas dormem? Não sei, mas eu adormeci mesmo assim.
Senti alguém me cutucar, parecia quando meu cunhado tentava me acordar, ele me sacudia de leve, mas logo depois meu sobrinho vinha gritando ACORDA TIA ANI! A cutucada continuou leve e eu resmunguei "me deixa dormir mais um pouco, Jef" (nome do meu cunhado). Então ouvi uma voz grave, e logo despertei mas continuei de olhos fechados

- Moça meu nome não é Jef. Você precisa levantar, já é noite, precisa ir para sua casa. - Ele falou com a voz baixa ainda me cutucando de leve no braço.
Abri os olhos e olhei ao redor, era o cara de preto agachado ao meu lado, eu estava coberta de areia. Não sei como consegui dormir ali, me sentei e comecei a me limpar.

- Já acordei, obrigada - Respondi ainda ocupada me limpando, nem olhei pro rosto dele, não senti nenhuma curiosidade, já era gentil demais ele ter me acordado.

- Você mora aqui perto? Eu posso te levar pra casa se quiser. - Ele perguntou enquanto eu ainda nem me dava o trabalho de olha-lo. Me levantei para limpar a areia da calça e só então olhei para ele. Me senti arfar. Era ele. O cara do sonho, o oriental.
Sua boca era carnuda e rosada, sua pele não era branca, era levemente amarelada, bem de leve mesmo. Ele era alto, com ombros largos. Eu tenho 1,59 de altura então qualquer pessoa é mais alta que eu, mas ele era bem alto, até para os meus padrões de altos. Eu não consigo descrever o rosto dele, mas ele era bonito, muito bonito. Seus olhos eram de um castanho escuro quase pretos e as maçãs dos seu rosto eram redondinhas. Ele deu um sorriso de lado e ela apareceu do lado direito da sua bochecha, uma covinha, ele era tão bonito que devo ter ficado olhando para ele igual uma retardada.

- Então... - Ele continuou sem jeito - Meu nome é Namjoon, muito prazer. - Ele estendeu a mão para me cumprimentar e eu apenas continuei olhando para seu rosto e logo em seguida para sua mão parada no meio de nós. Continuei imóvel, ele ficou mais sem jeito ainda, e logo colocou as mãos no bolso do seu casaco. - Tá tudo bem com você? - Ele por fim questionou.

- Ah, sim, sim, estou bem. Obrigada por me acordar. Meu nome é Anika. - Respondi falando rápido como quando estava nervosa, porque eu estava nervosa? Também não sei.

- Você mora aqui perto, Anika? Eu posso acompanhar você, já está escuro. - Ele gesticulou apontando ao redor. E realmente já era noite, o céu estava escuro cheio de nuvens e parecia que logo iria chover, mas tinha um problema, eu sabia onde morava mas não conhecia aquele lugar nem para qual direção minha casa estava.

- Onde estamos exatamente? - Perguntei confusa.

Ele franziu o cenho antes de me responder.

- Sinceramente eu nunca descobri o nome, pensei que talvez você soubesse, eu também não conhecia esse lugar até vir parar aqui. - Ele me respondeu olhando para o mar agitado longe de nós.

- Como você veio parar aqui?

- Não sei, simplesmente apareci em uma festa cheia de desconhecidos. - Ele olhou novamente para mim - E você?

- A mesma coisa.

- Você tem onde ficar?

- Não. Quero ir para casa. Minha casa... Ela não é aqui. - Falei com a voz embargada já querendo chorar. Ele me olhou com cautela antes de me responder.

- Você pode ficar na minha casa... Quer dizer, eu não sei se ela é minha, exatamente, quando eu cheguei aqui e entrei nela, ninguém nunca mais entrou nela, então acho que é minha. Tem vários quartos, você pode usar qualquer um.

- Desculpa mas eu não tenho nenhum dinheiro para dar em troca.

- Ninguém precisa de dinheiro aqui, pelo menos foi oque eu aprendi nesses anos vivendo aqui.

- Anos? Você está aqui há anos? - Perguntei perplexa.

- Sim, muitos anos. - Ele disse nostálgico ainda olhando para o mar, ele parecia bastante triste e eu senti a mesma coisa, como se estivéssemos presos sem saber como voltar para casa. Ele apenas acenou com a cabeça em sinal para eu acompanha-lo, não questionei, simplesmente fui. Eu não tinha pra onde ir mesmo.

Mas o outro motivo era que eu precisava descobrir quem ele era, e porque eu sonhei com ele, antes de morrer? Se é que eu tinha morrido mesmo.

O Cara dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora