Capítulo 3 - Oxitocina

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Catherine faz com que me lembre dos meus antigos amores. Desde os catorze anos, se apaixonando por olhos como aqueles, sorrisos que marcam meu coração e toques que transmitem segurança. Desde a ruiva trajada de marrom às 8:40 da manhã até a loira cacheada que me mostrou o canteiro de tulipas escondido na esquina da rua da escola. A ruiva, Alice, sempre me encantou com seu gosto musical e com seu olhar, expressando um turbilhão de mensagens, avisos e sentimentos. Pelo menos era o que eu sentia. Sempre que andava, saltitava e emocionava-se com o abrilhantar do dia a dia. Era como um girassol. O sorriso dela abria quando chegava o outono, ia bem cedo me acordar e esperar a tempestade. E, em uma dessas manhãs, eu pude sentir o que era cuidado, atenção e, claro, amor. A maneira como Alice olhava as folhas, seus comentários e adjetivos antifigúricos deixavam-me sem palavras, apenas apreciando a obra de arte que o mundo era perante seu olhar. 

Passávamos dias anotando e desenhando os tipos de flores que achávamos na floresta. Dizia que quando fossêmos maiores teríamos uma casa na árvore para ressalvar nossos planos, ideias e segredos femininos de imaginação inigualável. Íamos até sua casa ver os livros extremamente rústicos e antigos passados de geração em geração, relatando histórias de heróis valentes e caçadores destemidos. Ela me apresentou a Astronomia com outra avaliação, diferente das outras pessoas com que eu convivia. Detalhou a beleza das nebulosas e as grandes teorias da criação, até mesmo expondo suas teorias da conspiração sobre extraterrestres.

Infelizmente, após passarmos dois anos juntas, compartilhando sonhos e momentos, ela se mudou. Até hoje nunca recebi notícias sobre ela, foi para uma cidade bastante longe de Amorim. Quanto a última, Claire, trouxe um pouco da realidade que a vida poderia ser. Enquanto eu estava passando por um momento difícil, causando conflitos em casa todos os dias devido às notas baixas e a falta de companheirismo na escola, ela pôde, mesmo sem nenhuma pré-intenção, me resgatar. Ela foi minha salvação. Em dias frios, andávamos pelas fronteiras da cidade, buscando esquilos e fotografando o céu acizentado, que ela amava, por sinal. Começamos a passar os intervalos juntas. Compartilhávamos lanches e escrevíamos poesias juntas. Até seis de outubro de 2018. O ano do encerramento do ensino médio, em que sempre era festejado um baile a fantasia. Ela estava linda. A luz refletia no confete de sua roupa, só conseguia vê-la perante toda a multidão. O batom escuro e marcante. A maquiagem de recanto e simples. O cabelo loiro com os cachos penteados e brilhantes diante do globo de luz. E no meio da dança, do meu epopeico momento, o beijo. Canela e um frio na barriga, tudo que pude sentir ( ou recordar ). Sentir tudo aquilo vindo de outra pessoa me fez esbanjar emoção. Me senti em um lar, em um outro eu, em um baile não só de danças e bebidas, mas de encontro de auras.

Ficamos juntas até aquele ano, afinal, ela foi para a grande cidade de Pekkins fazer sua faculdade de paleontologia, era fanática por dinossauros. Ainda sim, trocamos mensagens em datas importantes, como aniversário e natal. 

E quando olho para trás e penso em como me construi de acordo com o que conheci e senti, penso no futuro. Alice me trouxe o outono, os adjetivos, o carisma, a arte de sempre que puder, sorrir e sentir. Claire me trouxe a singularidade, a calmaria, a arte de poder aproveitar os dias cinzentos e os ensolarados, sempre em equilíbrio. A perfeita dualidade de emoções e lástimas.

Mas e você, Catherine? Seu olhar repleto de incógnitas, passos lentos e enredados. Tenho tanto a descobrir com você e sobre você. E mesmo com tanta turbulência e focos alternativos, ainda trilho meu sentimento até ti. O mundo é belo e a minha companhia é a melhor. Mas queria saber qual a sua visão também. Será articulável? Inesperada? O que pretende me mostrar?


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⏰ Last updated: Apr 05, 2020 ⏰

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