| PARTE III |

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- V-você deveria entrar

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- V-você deveria entrar. – Digo, apertando os olhos e tentando enxergar a rua além dele, mas não há nenhum sinal da Lexi até onde a vista alcança.

- E quanto a você? – indaga, alheio ao frio, a neve, ou qualquer outra coisa. – Por que está aqui fora? Perdeu algo? Algo de valor?

Quem ele é afinal? E por que está me fazendo todas essas perguntas como se já soubesse das respostas? Além de inusitado é, no mínimo, muito estranho.

- Acho que perdi minha grande amiga... – admito, sem me preocupar com qualquer julgamento moral que possa vir do senhor. – Assim como o Tony, e várias outras pessoas. Acho que o problema sou eu.

Ele sorri quando eu termino minha confissão, e enquanto eu tento encontrar a justificativa do porquê estou escancarando meus defeitos para um velho desconhecido e possivelmente louco, ele responde naturalmente:

- Eu posso apostar que não, minha menina. Sabe, gosto de pensar que podemos perder várias coisas na neve: uma moeda, um anel, esses aparelhinhos que vocês sempre carregam em mãos e até mesmo um de seus sapatos. Mas uma amizade verdadeira? Ah, essa não se perde facilmente, bom, ao menos que você a considere perdida sem o esforço da procura...

Assinto, ciente de que essa mera analogia a neve é uma das filosofias mais bonitas que ouvi até hoje. Não sei de onde ele vem, tampouco para onde deseja ir, tudo o que sei é que esse velhinho de aspecto humilde me apareceu no momento oportuno, munido de um saber simples e invejável.

Tento dizer algo, agradecer, mas ele parece prestes a ir embora, disparo:

- Espera! Pra onde você vai?

Ele me lança um último olhar, no qual vejo refletidos todas as coisas belas e simples, e é como se o meu mundo se enchesse de esperança novamente, é a resposta para todas as perguntas de que preciso:

- Vou encontrar coisas perdidas. E lembre-se: você é arquiteta da sua própria infelicidade, minha jovem, todos são. É necessário que compreenda como suas ações fazem as grandes engrenagens da vida funcionar. – Diz por fim, e apenas sai andando pela rua, até se tornar um borrão, e logo um pontinho indistinto no meio da neve.

Olho para o céu, na esperança de que os meus caminhos se iluminem e eu comece a procurar pela Lexi, porém, tudo o que vejo é o grande ursinho do letreiro da BearBucks, cujas luzes decorativas oscilam vez ou outra.

E aí que eu os ouço, são passos, eu me volto para a rua e sigo fitando com dificuldade aos dois pequenos tracinhos no final da avenida, que logo vão ganhando contorno e forma, até me revelar a imagem da Lexi e da menina-mach...

Elas estão de mãos dadas?!

Elas estão de mãos dadas!

Tento engolir a surpresa e agir naturalmente, é difícil não me manter boquiaberta diante da cena que presencio. Ambas se aproximam, eu nunca vi a Alexia tão cheia de vida, radiante, disposta a conquistar o mundo com as mãos (agora aquecidas pela sua companhia).

As Quatro Badaladas do Sino de Natal (Romance LGBTQIA+)Onde histórias criam vida. Descubra agora