Prólogo

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         A chuva surrava as janelas do castelo, mesmo no verão, o Norte costumava enganar até o maior dos magos, alguns diziam que aquilo era castigo ao povo nortenho, jamais poderiam saber quando iria chover, planejavam tudo para o inverno rigoroso, mas eram pegos desprevenidos pelo verão tortuoso.

Maya a escrava, cozinhava tranquilamente enquanto a saudade de sua filha vinha em sua mente, 17 anos se passaram, mas a sensação de que foi ontem mesmo que foi arrancada do seu lar, deixando sua filha e mãe para trás, era constante. Apesar da dor, a escrava usava aquilo como motivação para conseguir arrecadar o dinheiro necessário para comprar sua liberdade.

O Norte é um lugar muito quente, se comparado ao seu antigo lar, até mesmo quando chovia, o ambiente permanecia como uma estufa, e quanto mais calor Maya sentia, aumentava ainda mais a sua vontade de voltar para casa. O castelo do imperador nortenho ficava na sede do grande Torrão do Norte, na cidade de Astra, todo o seu povo jamais sonhou em vir para aquele lugar, todos os vizinhos de seu povoado no Oeste sabiam que, se acaso fossem sequestrados e escravizados pelo Norte, jamais voltariam para casa, foi assim que Maya veio parar naquele lugar, para servir a família do imperador.

Maya passou as mãos molhadas em seus cabelos crespos e volumosos – Pois era regra que, para se apresentar ao imperador e sua família não poderiam, os escravos, estar despenteados – em seguida, a escrava pegou um pano branco que estava sob a mesa de pedra, agarrou a panela fervente e caminhou lentamente pelos corredores escuros do castelo.

Naquela noite de verão, muitos escravos trabalhavam na cozinha, porém Maya estranhou que haviam poucos trabalhando com ela, geralmente o imperador recebe muitos contrabandistas, e grandes senhores ricos para fazer negócios dos quais Maya jamais entendeu, e quando isto acontecia, os capatazes ordenavam que os escravos se escondessem, nada era mais nojento para o imperador, que escravos estivessem vagando pelo castelo quando visitas importantes estavam presentes. mas aquilo não lhe interessava, não planejava ficar muito tempo ali.

Maya vestiu-se adequadamente naquela noite, tomou cuidado durante toda a preparação da comida para não sujar suas vestes, as ordens precisavam ser seguidas, ainda que não gostasse do imperador, não tinha vontade própria, sempre se apresentava ao dono do castelo, sabendo que talvez não voltasse, já viu inúmeras vezes o caçula da família real mandar matar escravos por simplesmente não gostar do hálito deles, o pequeno Sony tinha a alma de um lobisomem, Maya orava a Théos – o único e verdadeiro Deus – para que quando Sony viesse a se tornar maior de idade, não dominasse a terra como os pais, não poderia imaginar as torturas que iria fazer com os demais escravos.

O castelo real sempre foi a coisa mais imponente que Maya viu na vida, quando foi trazida para o Norte e deu de cara com o castelo onde iria morar por anos, soube que nunca ninguém no Oeste jamais teria uma boa casa como aquela.

Maya chegou a uma porta cinza, haviam dois escravos altos e bem vestidos de cada lado da porta, um deles olhou para Maya com um sorriso na boca, o outro quando a viu a abraçou.

- Preparada para dar de cara com o imperador, Maya? – Disse o sorridente – Qualquer coisa você grita, lembre-se que estou aqui.

Maya sorriu.

- Saia da frente antes que eu atire esta panela quente em sua cara! – Brincou a escrava – Torça para que este jantar termine logo.

A porta foi aberta, Maya entrou, e somente começou a perceber os detalhes quando a porta fechou atrás de si, a mulher caminhou para direção do interior do quarto, olhou o grande mapa que estava em sua parede, sentiu o calor da saudade bater forte em seu interior, o mapa do país de El-Thrack era imenso, mas seus olhos se inclinaram somente para o Oeste, lembrou da maior cordilheira de montanhas do mundo, que ficava próximo a sua casa, do frio que sempre assolava suas terras, e de como estaria sua filha sem ela naquele momento.

AS CRÔNICAS ELEMENTARES: E AS LÁGRIMAS DE GUERRAWhere stories live. Discover now